É possível que o chá surja, aos olhos do comum apreciador amador da bebida, como algo que pouco mistério esconde. Ao fim de tantos séculos de consumo, que segredos poderá ainda conter o chá que não sejam imediatamente descobertos ao ser aberta uma dessas caixas de marca genérica e colocado o saquinho com as folhas dentro de uma caneca de água quente? Embora a modernidade tenha simplificado rituais que durante muito tempo foram cumpridos sem serem postos em causa, acabando mesmo por provocar a queda em desuso de muitas manifestações culturais, existe ainda todo um mundo de tradições ligadas ao chá que se mantém preservado e de boa saúde.
O Departamento de Estudos da Cultura do Chá da Universidade de Agricultura e Silvicultura de Zhejiang é, naturalmente, um dos bastiões de defesa e protecção da cultura do chá. Os seus professores falaram-nos, com visível paixão, sobre os vários aspectos ligados ao chá que tornam o tomar da bebida e o convívio proporcionado pela actividade num ritual cheio de regras e significados, que eleva uma simples tisana à qualidade de arte.
Existe, especialmente sabendo que falamos da China, uma longa história de consumo da bebida. Existe um sem-fim de tipos de chá cujas diferenças óbvias se vão tornando mais e mais difíceis de compreender e determinar à medida que se desce o quadro das classificações. Existe a historiografia dos utensílios, as regras de etiqueta, o vestuário, os papéis sociais associados a um ou outro ritual e a adequação deste conhecimento às diferentes solicitações sociais. Existe a presença do chá na literatura, no teatro ou na pintura e, através do estudo da bebida, a compreensão de toda uma época e de um povo. Existe uma elegância, sobretudo uma tranquila e imensa elegância, contida nos frágeis copinhos de diminutas dimensões, distribuídos por mãos seguras e agradáveis e a convicção de que mais do que algo que se bebe o chá é uma forma de estar na vida que se cultiva e aperfeiçoa.
Como prova de que há tradições que não morrem, assistimos a um ritual de chá levado a cabo pelos alunos do departamento. As suas roupas e gestos bebiam do classicismo de outras épocas, mas o interesse destes jovens é suficiente para garantir que, com uma inevitável reinterpretação, a tradição do chá sobreviverá e não deixará que a China do futuro esqueça as tradições que tornaram tão forte e identificável a sua cultura no passado.