O diretor de Estudo sobre BRICS da Academia de Ciências Sociais da China, Yao Zhizhong, atendeu na terça-feira (19) a Agência de Notícias Xinhua para uma entrevista com sobre a 5ª cúpula dos Brics e questões relacionadas.
Repórter: (R): Os chefes dos Estados membros dos BRICS vão participar na 5ª Cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que será realizada na cidade de Durban, África do Sul. As cooperações dos BRICS entram no quinto ano e já têm uma grande influência no mundo. O que significa esta reunião, considerando-se também que coincide com a primeira visita de Xi Jinping ao exterior depois que foi eleito presidente da China?
Yao Zhizhong (Y): Os chefes do bloco vão se encontrar, pela 5ª vez consecutiva, na cúpula dos Brics. Eles divulgarão suas opiniões sobre questões mundiais e promoverão cooperações práticas. O mecanismo do bloco é positivo e a participação do presidente chinês demonstra que a China vai continuar apoiando o mecanismo e prestará mais atenção ao seu desempenho no mundo.
R: Os países do BRICS já são uma importante força para enfrentar a crise financeira internacional, estimular o crescimento econômico mundial, aperfeiçoar a administração da economia global e para promover a democratização das relações internacionais. Então, quais serão os destaques desta 5ª Reunião e que êxitos poderão ser obtidos?
Y: Para mim, os destaques serão de três aspectos. Em primeiro lugar, será o primeiro encontro internacional em que Xi Jinping participa como presidente chinês. Segundo, a cúpula era um encontro interno entre os membros dos BRICS, no entanto, este ano o bloco vai realizar diálogos com outros países africanos. E por fim, algumas cooperações práticas podem ser concretizadas durante a cúpula. Por exemplo, a realização do estabelecimento do Banco dos Brics e a criação de um fundo virtual de reservas. Isso será um grande êxito. O Banco dos Brics funcionará como o Banco Mundial e é uma instituição que financiará o desenvolvimento. E o fundo virtual agirá como Fundo Monetário Internacional para ajudar seus membros em um eventual momento de crise. As duas instituições podem contribuir muito com a administração dos BRICS.
R: Os Estados Unidos aplicam sua estratégia de "Reequilíbrio da Ásia" e, nesse contexto, a China coopera com os BRICS e participa ativamente na construção do mercado emergente. O que significam as ações da China?
Y: A estratégia norte-americana é para conseguir segurança na região, entretanto a meta dos BRICS é para o desenvolvimento e administração global. Mesmo que cada país do bloco de forma individual não supere os Estados Unidos e a União Europeia em relação ao PIB e economia, quando juntos, o volume total de PIB dos cinco estados ultrapassa um quarto do volume mundial. Os EUA e UE possuem cerca de um quinto do volume mundial. Como a união, os BRICS têm uma grande força, que pode ajudar no equilíbrio econômico do mundo. Isto é muito importante.
R: Os BRICS mantêm um crescimento rápido e desempenham um papel cada vez mais importante na economia mundial. Mas a sua posição na administração global não avança bastante. Por que isso e o que o bloco pode fazer para mudar a situação?
Y: A ordem econômica é dominante pelas economias, como EUA e UE, e isto é a principal razão. A economia dos BRICS está crescendo e também as suas demandas para participar da administração global. Mas não é fácil convencer as economias desenvolvidas a desistir de seus domínios. Por exemplo, uma reforma monetária mundial foi permitida na cúpula de G20 em 2009, mas ainda não foi concretizada, pois o Congresso Nacional norte-americano não aprovou o projeto.
Com uma economia maior que EUA e UE, os BRICS têm direitos e obrigações para obter mais direito de falar ao mundo. Para realizar essa meta, os estados-membros do bloco devem reforçar ainda mais as cooperações e estarem mais unidos.
R: Atualmente, como são as cooperações entre a China e outros quatro países e quais desafios e oportunidades a China enfrentam?
Y: As cooperações entre a China e outros quatros países do bloco ainda estão num nível muito mais baixo que o com Estados Unidos e União Europeia, e também em um nível mais baixo do que com os países vizinhos na Ásia.
Uma razão é que os principais parceiros tradicionais de comércio da China são países asiáticos, EUA e UE. E por outro lado, ainda enfrenta barreiras institucionais de cooperação com outros membros dos BRICS. Por exemplo, as cooperações financeiras entre a China e esses quatros países aumentaram rapidamente, mas as do setor de comércio e investimento desenvolveram muito devagar. O maior desafio é a questão de equilíbrio dos interesses internos dos países. É verdade que a abertura econômica pode influenciar algumas indústrias entre esses países. A preocupação de ser influenciada vai impedir as cooperações comerciais dentro do bloco.
De fato, essas preocupações são desnecessárias. A experiência de adesão chinesa à Organização Mundial do Comércio (OMC) provou que a abertura faz bem ao desenvolvimento do país.
R: O continente africano se desenvolve mais devagar que outras regiões do mundo. Nos últimos anos, o continente está mais estável e tem crescido economicamente. Devido aos diversos recursos e força de trabalho, a perspectiva do mercado é boa. O que significa a realização da Cúpula dos BRICS na África este ano?
Y: No início das cooperações dos BRICS, o bloco foi posicionado como uma organização dos países emergentes e foi reconhecido como uma organização para ganhar mais direito de expressar ao mundo o posicionamento dos países emergentes. Os BRICS são os mais desenvolvidos entre as novas economias do mundo. Mesmo como países em desenvolvimento, os estados-membros do bloco vão pensar mais sobre o desenvolvimento africano.
R: A Europa ainda está presa pela crise financeira. Preocupa-se que a incerteza da economia europeia possa provocar uma nova rodada de crise para economia global. Nesse contexto, quais desafios e oportunidades vão enfrentar os mercados emergentes?
Y: A economia europeia influenciou muito os BRICS. A incerteza das economias desenvolvidas vai provocar grande influência aos BRICS, mas o bloco não pode estimular a economia como o que os EUA e UE fazem. Os BRICS devem participar mais nos assuntos internacionais e evitar tanto quanto possível as consequências negativas provocadas pelas políticas das economias desenvolvidas, como a política de flexibilização quantitativa dos Estados Unidos e as possíveis violações de contrato sobre dívida.
R: A União Europeia declarou o começo de negociações com os EUA sobre as relações de parceria de comércio e investimento. Esse maior acordo de livre comércio na história visa diminuir a tarifa entre os dois lados para zero. O projeto vai mudar as regras do comércio mundial, e isso deve se completar nos próximos dois anos. Para as novas economias como BRICS, qual será a influência dessas mudanças?
Y: Os Estados Unidos sempre promoveram, com uma aceleração muita alta, a liberalização do comércio, como Tratado Norte-americano de Livre Comércio e as relações de parceria trans-pacífica. Junto com este acordo de livre comércio no Atlântico, o governo norte-americano estabeleceu sua sede comercial fora do OMC. Então, os Estados Unidos não promovem necessariamente as cooperações entre OMC e outros países, mas sim exportam suas regras para a OMC. Como o resultado, as novas economias estão forçadas a aceitá-las. O que as novas economias precisam fazer é o mesmo que os EUA já fizeram, ou seja, criar seus próprios tratados sobre comércio e investimento e realizar algumas atividades no setor.
R: Os BRICS fazem importante parte da diplomacia multilateral da China. A primeira visita do presidente Xi Jinping ao exterior foi marcada para que o presidente participasse da Cúpula dos BRICS. Quais projetos a China tem sobre a estratégia de diplomacia multilateral no futuro?
Y: O mecanismo dos BRICS é muito importante para a estratégia externa da China e é propício para a China desempenhar um papel mais relevante nos assuntos diplomáticos, como na ONU, G20, OMC e FMI. A economia chinesa desenvolve rapidamente. O país precisa estabelecer um ambiente para desenvolvimento pacífico e isto é uma importante meta da diplomacia chinesa. Outros estados-membros dos BRICS também são países em desenvolvimento e estão procurando mais espaço para se desenvolverem. Por isso, eles serão bons parceiros de desenvolvimento para a China. Ao mesmo tempo, os BRICS precisam criar uma ordem mundial mais equilibrada, que também atende a demanda chinesa.