A economia chinesa tem registrado um crescimento sem precedentes desde a aplicação da política de reforma e abertura ao exterior, em 1978. O outro lado deste processo de modernização é o grande impacto na cultura tradicional chinesa. Manter o equilíbrio entre a urbanização e preservação de antigas tradições tem sido uma das prioridades do governo chinês. Desde 2000, são 29 o total de itens chineses, incluindo a ópera Kun e o instrumento de cordas Guqin, que foram entretanto alistados como patrimônio imaterial da humanidade da UNESCO, colocando a China no topo da tabela desta distinção.
Caidiao, um tipo de canto sobre amor recíproco, entre jovens chineses, é originário de Guilin, ex-capital da Região Autônoma da Nacionalidade Zhuang de Guangxi. A cantora mais renomada de sempre deste estilo musical foi a irmã Liusanjie, nascida há cerca de mil anos, na dinastia Tang. A figura foi adaptada para o cinema nos anos 50 do século passado e marcou desde então uma geração chinesa. Hoje em dia, o canto Caidiao representado pela irmã Liusanjie foi considerado patrimônio cultural e imaterial nacional, enquanto a atriz Huang Wanqiu que interpretou o papel cinematográfico, e considerada como sucessora do estilo Caidiao, fundou o grupo artístico de Liusanjie dezenas de anos atrás. "Tinha 17 anos quando fiz o papel de Liusanjie e agora tenho 69. Segui os passos e as canções dela ao longo de 51 anos", confessou Huang.
Hoje, são milhares os grupos populares de Caidiao em Guilin que se apresentam em zonas rurais. A popularização do canto no local é esforço dos apoios do departamento de cultura de Guilin. Enquanto incentiva levar espetáculos para os campos, a autoridade ajuda grupos não profissionais na sua formação artística e promove a difusão desta arte em escolas primárias e secundárias. "Quando a campanha começou em 2008, centenas de crianças matricularam-se para o curso. Hoje foram graduados mais de três centenas", disse a responsável pela campanha, Tang Zhenfang.
Em 2004, a China aderiu à Convenção sobre a Proteção dos Patrimônios Imateriais e Culturais da UNESCO. O Conselho de Estado divulgou duas listas de 1.028 patrimônios naturais e culturais nacionais em 2006 e 2008, nomeando sucessores a nível nacional, provincial, municipal e distrital. Foram assim estabelecidas seis zonas de experiência e proteção ecológica e cultural no país.
A pipa Sanshizhai de Beijing possui uma história centenária. Foram mantidas até hoje as técnicas do tempo do império de produzir o artesanato. Liu Bin é o sucessor da 3ª geração e começou a aprender as técnicas desde muito pequeno. "O meu avô ensinou separadamente os trabalhadores a fazer a pipa, e cada pessoa aprendia somente uma etapa. Ele tinha oito netos e só para mim transmitiu todas as dicas", revelou.
Em 2006, as técnicas de fazer pipa foram incluídas na lista de patrimônio imaterial nacional. Cinco anos mais tarde, o governo distrital de Xicheng de Beijing alistou as técnicas de produzir pipa Sanshizhai como patrimônio de nível distrital. O apoio governamental incentivou Liu Bin a transmitir a cultura deste instrumento. "A partir deste mês, vou reformar meu apartamento para servir como sede de divulgação deste instrumento. É um projeto de dez anos. Vou-me focar na difusão e ensino de pipa e quero ainda fazer uma exibição."
Em 2002, a China promulgou a revisada Lei de Proteção dos Patrimônios Culturais. Os regulamentos de preservação aplicados mais tarde garantiram a legalidade de coleção privada, uma boa notícia para quem se dedica à preservação de culturas tradicionais.
Em 2008, Wang Yongchao fundou o Museu de Costumes e Hábitos do Noroeste da China, em Xi'an, capital da província de Shanxi. Entre o arquivo colecionado por Wang, são mais de 8.600 as estacas usadas para amarrar os cavalos, consideradas terracotas de soldado terrestres, cerca de mil casas reconstruídas das dinastias Ming e Qing, mais de 12 mil peças de escultura de pedra, madeira e tijolo, duas mil obras de caligrafia e pinturas famosas de períodos diferentes. 4.000 peças de utensílios cotidianos e meios de transportes utilizados nesta região desde há 2.000 anos. "Sem política governamental, a coleção era ilegal. Depois de duas décadas, o museu privado conseguiu o reconhecimento do governo e sociedade", confessou o colecionador.