Ele não a queria nervosa por estar no topo. Gabrielle tornou-se a primeira garota negra a se consagrar como a maior ginasta do mundo.
Um feito em um esporte dominado por atletas do Leste Europeu, chinesas e americanas brancas. Dominique Dawes, outra negra dos EUA, levou ouro por equipe em 1996.
Gabrielle é, ainda, a primeira norte-americana a vencer a competição coletiva e a individual nos mesmos Jogos.
Uma conquista que ela descreve com um adolescente "amazing" (fantástico).
"Dizem que eu sou a primeira [afro-americana]. Eu tinha esquecido disso. É uma honra", disse, rindo.
Eram os risos e distrações de Gabrielle que os técnicos norte-americanos queriam conter para mantê-la focada.
Ela não procurou a família na arena, mas sorriu quase o tempo inteiro. Foi assim, por exemplo, quando completou o salto sobre o cavalo com uma aterrissagem perfeita.
Assumiu a ponta. Sua adversária, já ficava claro, seria a russa Victoria Komova.
A partir daí, o público passou a gritar "go, Gabby" (vai, Gabby) a cada vez que ela se dirigia a um aparelho.
Não cometeu erros nas barras assimétricas. Mas teve um início relutante na trave e quase caiu. Recuperou-se e deu giro de corpo espetacular, parando sem hesitação.
A trilha do solo era a música "We speak no americano", eletrônica misturada com balanço latino. Gabrielle requebrou a cintura e as mãos.
E deu seguidos saltos para justificar seu apelido de "esquilo voador". Em um momento, quase escapou do tablado, o que lhe custaria o título. Mas um salto a salvou.
Faltava a rival Komova. Que foi melhor que a americana no solo. A espera da nota foi silenciosa. "Foi muito difícil", disse a ginasta.
Mas a atuação da russa não foi suficiente para alcançar a pontuação geral de Gabrielle, 62,232, mais de dois décimos à frente da adversária.
Formador de campeãs olímpicas, Chow foi sincero ao dizer que, quando conheceu a ginasta, aos 14 anos, não acreditava que ela poderia ser campeã olímpica. Sozinha, ela mudou-se para Iowa para ser treinada por ele.
"Há cinco meses, era uma ginasta boa e média", afirmou Marta Karolyi, técnica- -chefe da ginástica dos EUA.
por Rodrigo Mattos (folha.uol.com.br)