No ano de 2011, que está terminando, o mundo sofreu mudanças complicadas. A situação política e as guerras no Oeste asiático e no Norte da África, a crise de dívida e o caos social na Europa e nos EUA, deixaram o mundo repleto de instabilidades e incertezas. Entretanto, também este ano, a maior organização regional da América Latina - a Comunidade de Estados Latino-Americanos e do Caribe (Celac) proclamou a sua fundação, que foi um passo significativo no processo de integração da América Latina.
"Hoje nós estabelecemos aqui um fundamento da solidariedade, da independênicia e do desenvolvimento. A oscilação resulta em fracasso. Devemos seguir esse caminho da solidariedade. Só a solidariedade nos traz a liberdade e a independência."
Esse discurso foi proferido pelo presidente venezuelano, Hugo Chavez, na Conferência de Fundação da Celac e 1ª Cúpula dos Líderes da Celac, no dia 2 de dezembro, para apelar pela manutenção da solidariedade entre os países da região, provocando uma reação imediata entre os chefes e representantes dos Estados membros da Comunidade. Como mais uma importante união regional dos países em desenvolvimento, a Celac faz com que todos os 33 países da América Latina se unam e ao mesmo tempo mostra que, perante os complexos problemas e desafios globais, a solidariedade e cooperação para o desenvolvimento comum já é uma alternativa necessária para os países em desenvolvimento.
Realmente, a América Latina é uma das regiões que mais cedo entraram no processo de integração regional. Depois da Segunda Guerra Mundial, foi fundada sucessivamente uma grande quantidade de organizações de integração sub-regional. Mas não foi realizada uma "grande unificação". Por outro lado, devido a razões históricas, os EUA considera a região da América Latina e do Caribe como o seu quintal, mantendo influências políticas e econômicas a longo prazo sobre a região. Contudo, ultimamente, à medida que uma grande quantidade de partidos neutros e de esquerda ganharam eleições na Argentina, no Uruguai e no Brasil, alguns países latino-americanos não querem se submeter aos EUA em consideração aos seus próprios interesses. A proposta da fundação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) que foi feita pelos EUA, também foi suspensa sob a oposição de muitos países. Nesse contexto, o consenso de conceitos políticos, a aproximação de interesses e necessidades e a semelhança do problema de desenvolvimento levam os países latino-americanos a seguir com esforços esse caminho da integração regional. O conceito da Celac foi proposto pela primeira vez na Cúpula do Grupo do Rio, que se realizou no México em 2011. Depois de um ano de esforços, foi proclamada formalmente a fundação da Celac, pondo fim à história de que a América Latina não tem uma organização regional independente, unificada e completa.
Os observadores indicam que a caraterística mais evidente da Celac, que foi recentemente fundada, é a exclusão dos dois países desenvolvidos das Américas - os EUA e o Canadá. Isso revela a consciência dos países dessa região da situação internacional, assim como a determinação, solidariedade e a ambição do desenvolvimento comum depois de descobrir que o "Chefe Euramericano" não é mais confiável. Mas na realidade, quanto aos EUA, cada país tem sua própria posição. Anna Seseña, pesquisadora de geopolítica da Universidade Nacional Independente do México, disse,
"As circunstâncias dessa região são muito complexas. Embora todos os países concordem e esperem que a 'América Latina' seja definida por ela própria, as diferenças entre eles não podem ser negligenciadas. Por exemplo, na questão dos EUA, alguns países inclinam-se ao poder norte-americano, outros têm um sentimento de resistência. Cada país tem sua própria posição e isso significa que haverá muitas dificuldades no processo de chegada de um consenso."
Há especialistas que consideram que não é inapropriado fundar uma organização que pertença exclusivamente à região da América Latina e do Caribe sem os EUA. Mas será um autoengano negar completamente as relações estreitas entre os EUA e a região da América Latina e do Caribe. A dimensão do comércio entre esses países é muito maior do que a da Europa e da China. Os EUA ainda são o maior parceiro comercial de várias nações latino-americanas.
De fato, em comparação com a posição de resistência aos EUA que o exterior dá atenção, os membros da Celac preocupam-se mais em saber se a entidade vai trazer benefícios práticos para o seu desenvolvimento. Li Shanshan, correspondente da nossa rádio na América Latina disse,
"Os EUA e a Europa estão sofrendo crises. Os países latino-americanos e caribenhos têm convertido suas próprias experiências depois de sofrer várias crises, aumentando significativamente os intercâmbios econômicos. Em 2010, a taxa média de crescimento econômico alcançou 4,9%. É uma das regiões que crescem mais rapidamente no mundo. Os ministros das Relações Exteriores da Celac consideram que a entidade oferece o apoio oportuno e poderoso para a superação da crise em conjunto e a discussão sobre o plano de desenvolvimento. "
Como o que foi dito por Li Shanshan, os países da América Latina esperam que a Celac possa orientar para a saída da atual crise econômica. Mas segundo uma análise, a Celac parece uma união política onde falta união econômica como fundamento. É mais provável o surgimento de atritos devido aos problemas econômicos, influenciando a união política. Por isso, a presidente da Argentina, Cristina Fernandez, pediu aos Estados membros uma busca por medidas práticas e eficientes, para promover o processo de integração dos países da região e pediu que as nações se preocupem com as questões reais da região, para que a Comunidade tenha um papel mais orientador.
"Neste momento nossos países quase prestam atenção meramente ao comércio com outras regiões. Por exemplo, apenas 16% das exportações e importações são entre os países da nossa região. Os outros 84% são fora da região. Portanto, eu penso que precisamos pensar primeiro nessas figuras em relação à integração. Recomendo discutirmos mais os temas reais, para que as conferências regionais se realizem com mais eficiência. E assim, a Comunidade vai ser mais orientadora, realizando o seu objetivo de mecanismo de integração."
Além do baixo nível de integração regional, a falta de liderança também é um dos desafios que essa nova comunidade está enfrentando. O presidente da Venezuela, Hugo Chavez, expressou seu desejo de que o Chile, Cuba e Venezuela formem as "três carruagens" para orientar em conjunto esse novo mecanismo multilateral. Entretanto, as reações dos países não foram muito favoráveis. Eles têm medo de que falte uma força motriz na Comunidade, se a liderança não for exercida pelo conjunto econômico do Brasil e do México, que fica na dianteira da região, ou pelo velho poderoso país, a Argentina.
Como a maior organização do hemisfério oeste, a fundação da Celac favorece a elevação da posição internacional da América Latina e aumenta a sua influência. No entanto, o seu desenvolvimento enfrenta muitos desafios. A Celac ainda tem muitas responsiblidades e um longo caminho para seguir até estabelecer sua posição autoritária na vida política, econômica e cultural da região.