Logo após o almoço, pegamos a estrada em direção ao povoado de Maotai, na cidade de Renhuai. As estradas aliás, merecem uma atenção especial, mas trataremos deste tema mais adiante. Depois de três horas de viagem, chegamos ao vilarejo conhecido em toda a China pela produção de Moutai, uma bebida típica e única. Única porque só é feita nesse local.
O Moutai ou vinho de Moutai, como também é conhecido, é feito de sorgo, uma gramínea da família dos grãos, como trigo, arroz e aveia. É produzido através de um processo que utiliza primeiro a fermentação e depois a destilagem. Fica armazenado durante anos em grutas e pode ter teor alcoólico que varia entre 35% e 53%.
Comparando com o Brasil, pode-se fazer um paralelo com a cachaça. A diferença primordial é que a bebida bresileira é extremamente popular e o Maotai é apreciado apenas em ocasiões especiais, principalmente para a recepção de convidados. Enquanto no Brasil se compra uma garrafa de cachaça de boa qualidade por cerca de 20 Reais, o equivalente a 80 RMB, o Moutai mais barato custa 1.200 RMB (R$300), podendo passar dos 10 mil RMB (R$2.500).
Em 1951, dois anos após a criação da República Popular da China, o Moutai foi declarado como bebida nacional e, desde então, está sempre presente na recepção de convidados importantes. É apreciado durante as refeições, em doses pequenas, mas em grande quantidade. É comum o anfitrião fazer um brinde com todos à mesa e depois individualmente com cada um de seus convidados. Se há mais de uma pessoa recepcionando, todas seguem o mesmo ritual. Para demonstrar respeito, a dose deve ser tomada de uma só vez. Como também é de costume na China, as reuniões e negociações são feitas à mesa, com um farto banquete, regado à muito Moutai.
A produção da bebida é um dos pilares da economia da província de Guizhou. Mas esbarra em um grave problema: a falta de infra-estrutura das estradas. Para chegar de Zunyi até a fábrica de Moutai levamos mais de três horas em vias muito movimentadas e esburacadas. Um trajeto que poderia durar no máximo uma hora e meia. A boa notícia é que o governo provincial já detectou o problema e tem o ítem como prioridade, como nos garantiu o economista-chefe da Comiossão de Desenvolvimento e Reforma de Guizhou, Zhang Ping, em entrevista à nossa comitiva.
Fato que pudemos comprovar no caminho. Vimos muitos trechos em construção, inúmeros caminhões transportando materiais como ferro, pedras e areia e muitas máquinas na pista. Como o local é montanhoso, a dificuldade é grande, mas já podemos ver vários túneis terminado, lembrando um pouco a Serra do Mar, que liga Santos a São Paulo, no Brasil.
A imagem contrasta a pobreza e o desenvolvimento. De um lado trabalhadores rurais, colhendo suas plantações sob uma chuva que castiga a região. Do outro, máquinas e tratores trabalhando a todo vapor para levar a prosperidade à região.