À porta do pátio de estilo tibetano, situado na vila Bayi em Nyingchi, no Tibete, um senhor de idade fala o mandarim com sotaque de Beijing, mas às vezes lhe escapa o dialeto tibetano.
Ele é Zhao Qiande, nascido no distrito Wutai, na província de Shanxi. Ele iniciou seus estudos em 1948, em uma escola primária de Beijing. Naquele momento, faltava menos de um ano para a fundação da Nova China. Zhao se lembra muito bem dessa época.
"Naquele momento, o preço de tudo estava altíssimo. Muita gente vendia sua bicicleta para comprar pão. Não participei da cerimônia da fundação da Nova China, mas sim das atividades comemorativas do 1º aniversário da fundação."
O adolescente Zhao Qiande nasceu com a república. Depois de graduar-se na escola secundária, ele entrou no Instituto Central de Nacionalidades e se formou como professor. O instituto reunia jovens de nacionalidades diferentes. Entre eles, estava uma moça da minoria étnica Menba, de Motuo no Tibete, por quem Zhao se apaixonou. Ela recebeu um convite para trabalhar fora de Beijing, mas Zhao a convenceu a rejeitá-lo.
"Os colegas das minorias étnicas me diziam frequentemente que sua terra natal ainda estava muito atrasada. Eu tinha que apoiar a ida da minha namorada à sua terra natal, de forma que a região também se desenvolvesse. O país dedicou-se à construção das regiões étnicas e formou talentos de diversas profissões, de engenheiros civis a veterinários."
Depois de se casarem, Zhao e sua espoca passaram a viver separados, um permaneceu em Beijing, e o outro no Tibete. Sete anos mais tarde, ele encontrou trabalho no Tibete e se reuniu com sua esposa. Vários amigos discordaram de sua decisão de deixar Beijing. Sua esposa optou por ser emgregada no Tibete ao invés de professora em uma grande cidade. Porém, a filha deles compreendeu a decisão dos pais.
"Meu pai abandonou um bom emprego em Beijing para vir ao Tibete. Ele e minha mãe deram suas contribuições para a construção da região."
A filha de Zhao é médica do Hospital de Nyingchi, e sua irmã mais nova é professora de uma escola primária. Ambos os seus maridos são de nacionalidade tibetana.
No Tibete, Zhao passou boa parte tempo no distrito de Motuo, nas mais árduas condições. No dialeto tibetano, Motuo significa "flor", e é o último distrito chinês no final da estrada, por isso é conhecido como a "ilha sozinha no planalto". Devido às dificuldades de transporte, Motuo é um distrito com os mais altos preços em todo o país. Zhao disse:
"Há alguns anos atrás, 4 garrafas de cerveja custavam cem yuans. Com a construção de estradas, o problema dos preços altos foi melhorando."
Devido ao atraso das condições materiais, o distrito de Motuo não é populoso. O tribunal local conta somente com três funcionários, assim como a repartição de segurança pública.
Zhao trabalhou lá há 17 anos. É claro que ele tem muita saudade da terra natal.
"Fui a Beijing em 1948. Vivi na cidade até os 21 anos e tinha me acostumado aos hábitos de lá. Muitos dos meus familiares ainda vivem na cidade."
Este é o senhor Zhao Qiande, que veio de Beijing, mas deixou sua raiz no Tibete, onde deixou seu coração.