A República Popular da China estabeleceu relações diplomáticas com a República Portuguesa em 1979, quando Antônio Ressano Garcia, com 59 anos de idade, veio a Beijing para assumir o cargo de primeiro embaixador de Portugal na China. Três décadas depois, a China deixou uma ótima impressão na mente do diplomata português, que nunca sentiu-se isolado no país asiático. No programa de hoje, vamos conhecer esse diplomata português.
Antes de assumir o cargo, Antônio não conhecia a China. Logo depois de chegar a Beijing, tudo parecia estranho para ele. No final da década de 1970, via-se poucos estrangeiros nas ruas, um país praticamente fechado ao exterior na época. O maior desafio para o embaixador era promover as relações entre China e Portugal, dois países de muitas ligações, mas desconhecidos um do outro.
Antônio lembrou que nunca sentiu-se pressionado a assumir o cargo na China, ao contrário, o diplomata confessou ter sido atraído pela cultura milenar do país.
"Era um país distante, de cultura milenar. Mas cheio de coisas interessantes e em muitos aspectos da vida diária das pessoas, da própria vida política. Embora um pouco distante e diferente de Portugal, era um postodiplomático pelo qual eu tinha o maior interesse."
Há 30 anos atrás, quando Deng Xiaoping iniciou a reforma e abertura, a China não estava tão aberta como hoje e os chineses comuns ainda não sabiam como tratar as pessoas e os países ocidentais. Por isso, Antônio enfrentou duas missões principais: adaptar-se ao ambiente e desenvolver campanhas diplomáticas.
"Aparentemente era difícil. Houve sempre um bom entendimento. Nós sabiamos que tínhamos que nos adaptar a diferentes estilo de vida e trato com as pessoas. Mas tudo foi fácil. Eu guardo recordações do contato que tive com os chineses, apesar da barreira da língua."
Antes do edifício da embaixada ser erguido, Antônio hospedou-se por um ano no Hotel Pequim, localizado no centro da capital e onde ficavam muitos estrangeiros em visita a Beijing. Ele sempre trocava experiências com diplomatas estrangeiros para conhecer melhor a China. Trabalhando num país estranho e fechado, Antônio nunca sentiu-se isolado.
"Eu nunca me senti isolado na China. Os chineses, com quem não conseguia me comunicar pois eu não falava a língua local, eram sempre de uma amabilidade extrema, e faziam o possível para se comunicar e me entender. Isso tornava a China muito interessante, pois em todos os aspectos da vida nós podíamos enxergar o que havia por detrás da realidade das pessoas."
Como o primeiro embaixador português na Nova China, Antônio foi responsãvel pela construção da base para a amizade entre os dois países. Ao relembrar as relações bilaterais nos últimos 35 anos, o diplomata frisou que nunca houve um fator que pudesse provocar tensões.
"Faz 30 anos que as relações foram estabelecidas e evidentemente tem evoluído. Eu, como o primeiro embaixador, percebi que meus contatos iniciais com as autoridades chinesas eram muito amigáveis. Havia como que uma tentativa de ambos os lados de nos conhecermos, de saber o que realmente víamos de um lado e do outro. Essa forma de tratamento desapareceu completamente. Hoje as relações são plenas entre os dois países, e acredito que não exista um ponto que possa provocar alguma tensão."
O ano de 2009 marca o 30º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas sino-lusitanas e ocasionamente, o 10º aniversário da retomada do território de Macau pela China. O retorno de Macau à China foi um exemplo para todos os países que enfrentam situações semelhantes. Antônio revelou que nunca se preocupou com a questão de Macau.
"Não havia preocupações relacionadas a Macau porque o futuro da ilha estava resolvido pelo próprio acordo do estabelecimento das relações diplomáticas. Mas foi curioso porque, quando quis me inteirar junto às autoridades chinesas, deram-me a entender que o assunto não estava relacionado com as minhas funções, pois Macau já era um território chinês, embora sob a administração de Portugal. Portanto já havia uma situação distorcida, mas que nunca me causou problemas."
Antônio visitou Macau várias vezes durante seu mandato em Beijing e teve uma boa impressão sobre o território. Para ele, Macau, no decorrer dos séculos, tem sido um ponto de encontro da velha cultura chinesa com a presença portuguesa. Infelizmente Macau se transformou tanto que perdeu um pouco de seu antigo carácter, tornando-se uma pequena Hong Kong. Mesmo assim ele admira poder ver o que restou do encontro entre China e Portugal.
Desde de que regressou a Portugal, Antônio nunca mais voltou à China. No entanto, ele está acompanhando o desenvolvimento do país asiático e está satisfeito com as mudanças no país.
"Meus amigos que estiveram na China recentemente disseram que, se eu voltasse a Pequim, em muitos aspectos não reconheceria a cidade, porque evoluiu muito, se internacionalizou mais, e talvez tenha perdido um pouco o encanto que tinha quando era mais genuinamente chinesa."
Hoje, aos 89 anos, Antônio Garcia vive em Lisboa e goza da terceira idade. Embora não tenha mais chances, ele ainda expõe seus sentimentos e opiniões sobre a China quando surgem oportunidades
"Nos meios portugueses onde se estuda a China, tenho muito frequentemente a chance de expor meus sentimentos e opiniões. Não é uma relação propriamente direta com os chineses, mas uma relação com aqueles que se interessam pela China. E aí trocamos opiniões e cultivamos um pouco esse apego que nos restou pelo país."
Para finalizar esse programa, vamos enviar bons votos a Antônio, um missionário da amizade entre China e Portugal. Desejamos felicidades e uma muita saúde a ele.