"Senhoras e senhores, amigos, boa tarde! O meu nome é Nyi-ma Lamo, sou a pessoa que vocês acabaram de ver no vídeo. Sou uma carteira postal da China. A minha terra natal fica em Shangri-la."

Caro ouvinte, o que você está ouvindo é o discurso proferido por Nyi-ma Lamo no congresso da União Postal Universal (UPU). Trata-se da primeira tibetana a discursar no evento.

Sendo uma carteira na aldeia do Tibete, a distribuição de Nyi-ma Lamo abrange uma área de 900 metros quadrados, onde moram 5.800 pessoas. É uma região montanhosa e caracterizada pelas mudanças radicais de temperatura. Durante o verão, varia entre 11 e 30 graus no pé das montanhas, enquanto no topo, entre 10 e 20 graus abaixo de zero.

No entanto, ao longo de mais de 10 anos, Nyi-ma Lamo, uma mulher de apenas um metro e meio de altura, já percorreu a pé 200 mil quilômetros. Além disso, cruzou mais de mil vezes o perigoso rio Zachu segurando-se num cabo suspenso sobre as ondas.

O diretor do correio onde Nyi-ma Lamo trabalha, Yang Limin disse:

"Daqui à aldeia de Sinong, um dos destinos de distribuição, totalizam 70 quilômetros. Os materiais de correio pesam até 20 quilos. Uma pessoa só pode andar cerca de 20 quilômetros devido às más condições geográficas."

Segundo ele, só três tipos de pessoas que podem fazer esse trajeto: peregrinos, aventureiros e mensageiros.

Ainda na madrugada, Nyi-ma Lamo se prepara para os trabalhos de um dia inteiro. Ela divide as cartas em dois sacos, carregando um em cada ombro. No caminho, Nyi-ma Lamo tem que passar pelo vale do rio Zachu e subir uma montanha de 4 mil metros, experimentando o calor de mais de 30 graus e o frio de abaixo de zero. Acrescenta-se a isso os eventuais ataques de animais, como serpente e lobo, e queda de pedras.

Diferente dos uniformes verdes usados pelos carteiros, Nyi-ma Lamo sempre usa roupa vermelha.

"A cor vermelha se destaca na montanha, que é totalmente verde. Será mais fácil que as pessoas me encontrem no caso de urgência."

Qual é a razão pela qual esta mulher persiste na carreira durante dez anos?

"Cartas, jornais, pacotes são importantes para os habitantes aqui, sobretudo as notas enviadas para os vestibulares. Me sinto tão feliz ao ver os estudantes conseguirem sucesso para entrar na universidade."

Tem uma carta para a aldeã Atimu. É do seu filho que frequenta universidade em Qinghai. O outro filho da Atimu trabalha em outra cidade. O dinheiro que ele mandou para a mãe também foi trazido por Nyi-ma Lamo.

Na partida, a aldeã Tashi Dondrup pediu a ela para enviar uma carta. Ela disse:

"Nós tibetanos temos uma tradição. Quando a gente pede ajuda a alguém, entrega também o coração para esta pessoa. Eu peço a Nyi-ma Lamo para mandar a carta, e entrego também o meu coração a ela."

(Por Li)