Gastronomia02152

Aos olhos dos estrangeiros, existem muitas excentricidades na culinária chinesa. Qual brasileiro comeria um ovo conservado por diversas semanas, ou meses, fora da geladeira? Pois, na China, o ovo centenário é uma iguaria. O sabor de sua gema, verde e cremosa, é comparado ao de um bom queijo. O ovo centenário é também conhecido como ovo preservado ou ovo podre. Trata-se de um ovo de pato, galinha ou ganso, preservada numa mistura de argila, cinzas, sal, cal e amido de arroz por muito tempo. Enquanto a gema ganha uma coloração verde e uma textura cremosa, a clara fica marrom-escuro.

E uma sopa de ninhos comestíveis? Que tal gafanhotos, escorpiões, lesmas, ouriços e estrelas-do-mar? No Wangfujing Night Market, o mercado noturno de Beijing, são vendidos espetinhos com todos os insetos que alguém pode imaginar, por um preço equivalente a 2,50 reais. Nem de graça? Que tal um espetinho de cavalo-marinho? Este tipo de espetinho hoje é mais um chamariz para turistas do que parte de um jantar típico de Beijing, que costuma ser bem menos exótico.

Na China, um país tão populoso, que passou por guerras e períodos de carência alimentar, era preciso aproveitar tudo o que pudesse ser transformado em comidas. Assim, algas, bambus, cobra, sapo, ovas de caranguejo, tudo o que tem valor nutritivo vai para a panela do país mais populoso do mundo. Em geral, acompanhado de arroz ou macarrão.

Por sinal, existem dois tipos de macarrão na China: o Mian e o Fen. O primeiro tem uma aparência translúcida e é feito de grãos, amido de batata, inhame e polvilho. O segundo é feito de farinha de trigo, ovos, e o macarrão amarelo difundido no Ocidente. Só que na china, o macarrão não vem com molho de tomate e queijo, mas é servido em uma tigela, com um molho líquido, lembrando uma sopa.

A religião taoísta também influenciou os hábitos alimentares chineses. Para eles, o prato doce (yin) complementa o salgado (yang), assim como o frio (yin) e o quente (yang), e o macio (ying) e o crocante (yang). Além do conceito do equilíbrio entre yin e yang, a culinária segue o dos cinco elementos: fogo, madeira, terra, metal e água. O sabor amargo corresponde ao fogo. O azedo, à madeira. O picante, ao metal. O doce, à terra. E o salgado, à água.

Os chineses buscam o equilíbrio entre temperatura, sabor, cor, textura e consistência em receitas que muitas vezes foram testadas pela primeira vez há mais de 3 mil anos. Alguns pratos, como o camarão à moda de Shanghai, ficam apenas 15 segundos no fogo. Outros chegam a cozinhar por 48 horas. Nos jantares, tudo costuma ser disposto numa mesa redonda, de uma só vez, para ser comido com palitinhos ou colher. Não costuma haver facas na mesa, porque os alimentos já chegam picados e cortados pelos cozinheiros.