Hoje, vamos a Haikou, província de Hainan, sul do país, para visitar uma aldeia feita de rocha vulcânica.
Partindo do centro urbano de Haikou, seguimos em direção ao sudoeste por cerca de meia hora, quando então chegamos a Rongtang. A imagem da aldeia histórica invadindo nossos olhos é muito surpreendente: portões de pedra, casas de pedra, caminhos de pedra, grades de pedra… É realmente um mundo feito de pedra. Vistas de perto, é possível notar os vários pequenos buracos nas pedras, exatamente o que as diferencia das rochas comuns.
Mais de 60 famílias já chegaram a viver na aldeia Rongtang. Mas, 20 anos atrás os aldeões começaram a deixar o lugar. Hoje, a aldeia abriga apenas cinco ou seis famílias de idosos que resistem em dar as costas para sua história de vida. A fim de dividir e eternizar suas memórias, eles guiam os turistas voluntariamente.
O senhor Wang Baogui orientou nossa visita. Aos dois lados do sinuoso caminho de pedra estão vários pátios independentes. Todas as casas e paredes desses pátios foram construídas com rochas vulcânicas em sua forma original. A luz solar penetra os buracos da pedra e ilumina o interior de pátio. Durante a visita, descobrimos que algumas casas têm pedras padronizadas, enquanto outras as utilizam em seu formato bruto. Quem nos explica é Wang Baogui:
"As famílias humildes construíram suas casas com as pedras vulcânicas em estado bruto. Suas casas eram as mais simples. Mas os ricos preferiam as rochas grandes, para desgastá-las até chegar a um tamanho padrão. Por isso, suas casas eram mais sofisticadas."
Visitamos uma casa antiga já vazia, sem moradores. Os pilares do corredor são esculpidos de maneira delicada. Em ambos os lados da porta estão dois bancos de pedra. Wang nos contou que, antigamente, quando não estavam na lavoura, os aldeões visitavam uns aos outros. Quando o dono, por alguma razão, não estava em casa, os visitantes o esperavam nesses bancos, onde ficavam conversando.
Outro objeto bem comum nas casas da aldeia Rongtang eram os potes de cerâmica para armazenar água. A aldeã Chen Pei'er, de 87 anos, nos mostrou os mais de dez potes que ainda guarda no pátio de sua casa. Ela disse:
"Esta região era bem seca no passado. Para pegar água, as pessoas tinham de andar quilômetros em caminhos montanhosos. Por isso, tinham esses potes em casa, para coletar a água da chuva. Na aldeia Rongtang, quando os pais escolhiam o marido para a filha, perguntavam primeiro o número de potes que havia na casa dele. Se fossem grandes e numerosos os potes, o rapaz provinha de uma família rica, indicativo de que a filha não precisaria se sacrificar tanto para recolher a água."
Além de casas antigas, a aldeia Rongtang tem outro atrativo bem peculiar: os caixões de pedra, uns dos costumes funerários mais particulares da China. Saindo da aldeia rumo ao oeste, depois de atravessar um arco comemorativo histórico e seguir por um caminho de pedra por cerca de 200 metros, podemos ver os caixões nos dois lados da estradinha. Eles têm 2 metros de comprimento e 10 centímetros de espessura. A tampa do caixão é feita de uma única chapa de pedra. Wang Baogui disse:
"Na região da aldeia Rongtang o solo é escasso, pois a camada subterrânea é principalmente formada por substâncias vulcânicas. Isso impossibilitava que os mortos fossem enterrados. Então, os antepassados desenvolveram uma forma de aproveitar as pedras vulcânicas para construir seus caixões.."
Não é exagero dizer que os habitantes da aldeia Rongtang têm suas vidas, de alguma maneira, condicionadas às pedras vulcânicas, do nascimento até a morte.