Por Carlos Tavares
Os bons resultados da economia chinesa no primeiro semestre demonstram que o saudável gigante asiático continua não só oferecendo importante contribuição para o desenvolvimento brasileiro, mas também salvando o mundo de um desastre maior. Com o preconceito e a má vontade em relação à China, essas boas notícias geralmente são deturpadas, reduzidas ou não divulgadas nos países ocidentais.
No primeiro semestre deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu ao excelente índice quase 8%, contra 2,1% dos Estados Unidos, 1,7% da Alemanha e 0,8% do Brasil. Pelos indicadores tradicionais, o PIB americano permanece em primeiro, mas pelo sistema Paridade do Poder de Compra — que indica o real padrão de vida do país — o PIB chinês, em torno de US$15 trilhões, já assumiu a liderança mundial, segundo o Instituto Petersen para Economia Internacional, dos EUA.
Por outro lado, Hong Kong como o "centro de economia mais livre do mundo", conforme apuração anual da Fundação Heritage do Wall Street Journal dos EUA. Já no "ranking" de competitividade, Hong Kong, em 2012, ficou também em primeiro, desta vez junto com os EUA, segundo o International Institute for Management Development (IMD). Com alto prestígio no círculo financeiro internacional, em 2011, os investimentos externos na Região Administrativa Especial cresceram 17%, chegando a US$83 bilhões.
No primeiro semestre, a balança comercial chinesa cresceu 8%, totalizando US$1,84 trilhão, com as exportações aumentando 9%, para US$ 954 bilhões. O superávit comercial teve elevação de 56%, atingindo US$ 68,1 bilhões. Igualmente em quadro favorável, os investimentos em ativos fixos cresceram 22%.
Todos esses índices, com tendência de alta neste segundo semestre, são os melhores entre os países industrializados e emergentes. A seguir, algumas notícias isoladas que também servem para comprovar não só a vitalidade da economia de mercado da China, como o seu incontestável retorno à liderança mundial.
Ainda no primeiro semestre, os investimentos estrangeiros na China cresceram 8%, alcançando US$1,8 trilhão. Agora, são 439 mil companhias estrangeiras registradas e 12,5 milhões de empresas domésticas. Já o número de cooperativas agrícolas subiu para 582 mil, contribuindo para um aumento de 11% da produção de cereais. O total de comerciantes autônomos já chega a 38,6 milhões.
Segundo pesquisa da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), a China se tornará a maior economia mundial entre 2012 e 2014, deixando os EUA em segundo.
Na Conferência Rio+20, enquanto os norte-americanos e alemães mandaram o segundo escalão, a China, prestigiando o Brasil e a presidente Dilma Rousseff, esteve representada pelo próprio primeiro-ministro Wen Jiabao, que se tornou o mais importante visitante do evento. Após o encontro, em teleconferência, Wen propôs a criação de uma zona de livre comércio entre o Mercosul e a China, que facilitaria os investimentos mútuos. Principalmente as aplicações chinesas nos países do Mercosul, especialmente nas áreas de petró1eo, ferrovias e hidrelétricas. Com a medida, em 2016, o intercâmbio comercial poderá superar US$200 bilhões.
Digna de nota é a crescente participação feminina no desenvolvimento e prosperidade da China. Atualmente, entre as dez principais mulheres bilionárias do mundo, sete são chinesas. A primeira delas é Wu Yajun, de 47 anos, com fortuna avaliada em US$6,6 bilhões, seguida por Yang Huiyan de 30 anos, com US$5,6 bilhões, ambas dos setores de construção e imobiliário. A pesquisa é da Hurum Report (de Shanghai), confirmada pela revista Forbes, que considerou a China como "fabricante de bilionárias". A Federação Nacional de Mulheres da China informou que existem cerca de um milhão e 300 mil empresárias dirigindo importantes negócios no país.
Quanto aos homens, segundo relatórios do Ásia-Pacific Markets do Instituto de Pesquisa Hurum, a fortuna dos quase três milhões de muito ricos vem crescendo à taxa de 27% ao ano, com o total de US$8,7 trilhões. Superando Shanghai, a capital Beijing, com 460 mil super-ricos, tornou-se a cidade com o maior número de milionários.
N: O turismo, em franca expansão, é o setor em que a China não só demonstra o bom nível de vida do seu povo, como ajuda, e muito, os países visitados. Este ano, crescendo 22%, e assumindo a liderança mundial, serão mais de 78 milhões de turistas, que gastarão a cifra recorde de US$80 bilhões. Em Paris, os turistas chineses superam americanos e alemães como os que mais gastam. No primeiro semestre, a renda do turismo interno cresceu 17%, atingindo US$202 bilhões.
Visando melhorar o relacionamento entre os dois países, em 2009, o presidente norte-americano, Barack Obama, lançou plano para enviar 100 mil jovens à China para estudar sua língua e cultura. Atualmente existem 23.292 estudantes americanos em universidades chinesas, sendo 2.094 com bolsas do governo local. Enquanto isso, 4.363 universitários chineses estão cursando doutorado nos EUA. Por ocasião da Rio+20, ampliando o programa Ciências Sem Fronteiras, a China ofereceu cinco mil vagas a estudantes brasileiros, com 600 bolsas gratuitas.
Há poucos anos, a China resolveu adotar o registro de patentes, inclusive para efeito internacional. Assim, já em 2011 assumia a liderança mundial do setor, com 9,7 milhões de patentes registradas. E note-se que não foram consideradas as suas invenções milenares tão utilizadas por toda a humanidade, como o papel, o livro, a impressão, a bússola, o vinho, a cerveja, o sistema decimal, o zero, o estribo, o guarda-chuva, o tecido, o papel moeda, e assim por diante.
Porém, o que demonstra, de fato, a ascensão da China ao nível de superpotência, são os resultados da área financeira. Para começar, as reservas cambiais estimadas em US$3,5 trilhões, compreendendo US$2,3 trilhões em Bônus do Tesouro e dólares dos EUA, e o restante em euros alemães e franceses. Os dois maiores bancos do planeta são o Comercial e Industrial e o da Construção da China, com ativos superiores a US$440 bilhões. E o Banco Popular da China, o banco central do país, no primeiro semestre, acumulou o maior patrimônio mundial, totalizando US$4,4 trilhões, bem acima do Federal Reserve americano e do Banco Central Europeu.
Este ano a China triplicará os investimentos na Europa, que somaram US$10 bi1hões em 2011. Até 2020, em todo o mundo os investimentos chineses alcançarão US$2 trilhões, com US$250 bilhões destinados ao continente europeu. Esses atualizados e exuberantes resultados oferecem certa tranquilidade não só ao Brasil, cujas exportações para China correspondem a 17% do total, mas também ao resto do mundo.
Os que acompanham a milenar história da China não se surpreendem com a sua crescente predominância na economia mundial. Como o ex-secretário de Estado americano, Henry Kissinger, que em seu recente 1ivro, assinala: "a China produziu uma parcela maior do PIB mundial do que qualquer sociedade ocidental em 18 dos últimos 20 séculos".