Zhou Qiang, de 22 anos, nasceu em uma pequena vila na província de Henan, no centro da China. Sua família sempre viveu do cultivo, geração após geração. No outono do ano passado, Zhou chegou à cidade de Shenzhen, a 1.800 quilômetros de sua terra natal. Ele logo se atraiu pelos arranha-céus e luzes de néon da metrópole, tornando-se um dos milhões de jovens trabalhadores migrantes que lutam nesta cidade sulista chinesa.
"É melhor do que imaginei. O transporte é muito prático. Todo mundo diz que se quiser ganhar dinheiro, tem que ir ao sul. Me apaixonei por Shenzhen logo que pisei nessa terra."
Nas grandes metrópoles chinesas, jovens como Zhou Qiang são considerados "trabalhadores migrantes da nova geração". A designação foi oficializada no primeiro documento lançado pelo Conselho de Estado chinês em 2010. Segundo estatísticas divulgadas pela Federação dos Sindicatos, a população desse contingente já atinge 141 milhões, ocupando 70% do total de trabalhadores migrantes na China. Esses jovens, que nasceram entre os anos 1980 e 1990, estão desempenhando um papel inegligenciável na sociedade, formando uma nova força para o desenvolvimento econômico do país.
Segundo o pesquisador da Academia de Ciências Sociais Wang Chunguang, em comparação com seus pais, a nova geração de trabalhadores migrantes têm pouca experiência no campo, nível de educação mais alto e pensamentos mais modernos.
"Os trabalhadores migrantes da primeira geração ganhavam dinheiro em cidades para alimentar e educar seus filhos. A nova geração já não tem essa pressão. Eles vão às cidades para conhecer a sociedade. Muitos deles nem gostam da vida rural, almejando um estilo de vida urbano."
Apesar da alta expectativa em relação à vida na cidade, trabalhadores migrantes encontram oportunidades apenas nos setores de trabalho intensivo devido à sua baixa habilidade técnica e ao preconceito contra camponeses na cidade.
Zhou Qiang trabalha agora em uma pequena empresa de publicidade voltada principalmente à instalação de luzes em shows e apresentações artísticas. A empresa é responsável pela alimentação e moradia de seus funcionários. Além disso, Zhou ganha somente 1.500 yuans (US$ 227) por mês. Com isso, ele leva uma vida bastante humilde em Shenzhen, cidade bem materialista. Ele nunca foi ao cinema, nem trocou de aparelho celular. Mesmo assim, todos os meses, ele envia dinheiro à família e volta à sua terra natal uma vez por ano. Ele também não tem namorada. Se ele estivesse no campo, provavelmente já seria pai. O lugar predileto de Zhou em Shenzhen é o Parque de Lótus, gratuito ao público.
"Há muitos ricos aqui em Shenzhen. Tenho admiração por eles. Aqui, um apartamento de dois quartos custa, no mínimo, 2 milhões de yuans (US$ 300 mil). Não sei por quantos anos devo trabalhar para poder acumular tanto dinheiro."
Apesar disso, Zhou se recusa a voltar ao campo.
"Não gosto de cultivar. Para mim, trabalhar na cidade é muito melhor que no campo."
Para Wang Chunguang, de fato, apesar de a nova geração de trabalhadores migrantes já ter se livrado dos campos, eles ainda não conseguem se infiltrar nas cidades. Mais de 30% deles se encontra neste dilema psicológico.
"Eles não sabem onde se fixar, pois têm muita incerteza e medo do que vem no futuro. Questões como casamento, emprego e carreira profissional trazem representam desafios para eles."
Na opinião de Wang, a sociedade chinesa deve permitir a entrada livre dos camponeses nas cidades e garantir que eles recebam tratamento justo.
"Precisamos do conceito de igualdade e justiça. Um país moderno deve ter capacidade de garantir que todos os cidadãos gozem do mesmo tratamento. A urbanização já é um processo inevitável. Se esses jovens conseguirem se interagir bem com a sociedade urbana, o desenvolvimento das cidades ganhará maior dinamismo."
(Por Zhu Wenjun)