
No entanto, a contenção da crise grega não conseguiu impedir a repetição de casos semelhantes. A Irlanda recorreu à União Europeia e ao FMI após anunciar deficit fiscal e dívidas públicas de 30% e 100% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Para o primeiro-ministro irlandês, Brian Cowen, esta era a única opção que o país possuia naquele momento.
"Acho que não houve outra opção mais realista. Além disso, não podíamos abandonar essa opção para impedir a desvalorização do euro."
No outro lado do Atlântico, os Estados Unidos, que careciam de uma força de recuperação econômica, lançaram a segunda rodada da política de "flexibilização quantitativa". O Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, anunciou no dia 3 de novembro, a compra de mais US$ 600 bilhões em títulos norte-americanos de longo prazo. O presidente do Fed, Ben Bernanke, explicou que "os norte-americanos precisam de empregos".
"Conforme a atual situação econômica, milhões de trabalhadores norte-americanos poderão perder seus empregos nos próximos anos. Isso é inaceitável."
A emissão de dólares "fake" pelos Estados Unidos causou polêmica. Para o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, a decisão do Fed trouxe mais riscos à economia mundial. O presidente brasileiro, Luíz Inácio Lula da Silva, apontou diretamente que a desvalorização do dólar é a origem de todos os problemas.
Os capitais abundantes vão procurar saídas no âmbito global, e o "hot money" corre normalmente aos blocos econômicos emergentes como China, Índia e Brasil. Esses países continuam sendo a principal força motriz do crescimento da economia mundial. O PIB chinês deve crescer 10% neste ano, e o da Índia, em torno de 9%. O aperto da política monetária e o combate à inflação se tornaram a principal tarefa dos países emergentes. As medidas irresponsáveis tomadas pelos países desenvolvidos, no entanto, causaram enormes impactos às economias emergentes. Ding Zhijie, reitor da Faculdade de Finanças da UIBE (University of International Business and Economics), deu sua opinião à CRI.
"A economia norte-americana se encontra em um difícil período pós-crise, mas Washington optou por desviar os custos de reajuste a outros países através de duas rodadas da política de flexibilização quantitativa. É um ato irresponsável que vai causar turbulência nos câmbios e moedas mundiais."
Para Chen Fengying, diretora da Faculdade de Pesquisa Econômica Mundial do Instituto de Relações Internacionais Contemporâneas, o que o mundo precisa agora é uma plataforma de diálogos e comunicações, o que ressalta a importância do G20.
"Cada país quer proteger a si próprio. Como falta dinamismo no crescimento dos países desenvolvidos, estes resolveram jogar seu lixo nos outros, o que provocou incerteza e riscos às economias emergentes. O G20 foi criado justamente no contexto da crise. Seu futuro depende do espírito colaborativo."
Na última cúpula do G20, realizado em novembro em Seul, a crítica em torno da política monetária irresponsável de alguns países desenvolvidos e o apelo para união com o objetivo de superar conjuntamente a crise foram os temas mais citados pelos participantes.
Para o vice-presidente do Instituto de Questões Internacionais da China, Yi Xianrong, no próximo ano, a economia mundial será marcada por incertezas e a recuperação plena ainda teráum longo caminho pela frente.
"A crise da dívida soberana pode continuar, mas não deve se alastrar por toda a Europa, pois a União Europeia já acumulou certas experiências para lidar com o assunto. Os Estados Unidos podem iniciar a terceira rodada de flexibilização quantitativa, já que não têm uma solução melhor para sair da crise. Em virtude de tudo isso, a economia mundial será puxada principalmente pelos países em desenvolvimento, sobretudo os emergentes. Por um lado, as nações em desenvolvimento vão continuar sendo a locomotiva para a recuperação da economia mundial. Por outro lado, a política monetária irresponsável tomada por alguns países desenvolvidos pode desacelerar esse ritmo."
(Por Zhu Wenjun)