
"A safra do outono deste ano vai ser boa. Serão produzidos mais ou menos 11 toneladas de arroz ", contou Chang.
Chang disse que é importantíssimo agarrar o momento certo para vender o produto e que ele está muito contente pelo fato de os preços do trigo, milho e arroz terem batido recordes históricos este ano. De acordo com dados publicados pelo Escritório Nacional de Estatísticas da China, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do país aumentou 3,6% em setembro, o mais alto dos últimos 23 meses, sendo 70% do salto puxado pelos alimentos.
O incremento traz tensão aos consumidores, mas estimulou os camponeses chineses. O mundo acadêmico chinês, entretanto, sustenta a elevação. Para Zheng Fengtian, vice-diretor do Instituto de Desenvolvimento Agrícola e Rural da Universidade Renmin, isso eleva diretamente a renda dos agricultores.
"Os agricultores não vão querer trabalhar nos campos caso os preços de cereais sejam muito baixos. Na realidade, os preços dos cereais na China são bastante baixos. A renda líquida de um camponês no cultivo de um mu (equivalente a 0,067 hectare) de trigo ou milho é de somente 750 dólares. Normalmente, cada família possui apenas alguns mus de terra. Por isso, muitos deles preferem trabalhar nas cidades. O país terá segurança alimentar desde que os camponeses mantenham a vontade de permanecer nos campos", frisou Zheng.
A urbanização acelerada leva um grande número de camponeses a migrar para as cidades em busca de oportunidades. No entanto, a alimentação de 1,3 bilhão de pessoas precisa ser garantida, fato que levou as autoridades chinesas a ampliarem os investimentos na infraestrutura rural e aumentar os subsídios aos agricultores para incentivar atividades produtivas. Por outro lado, o país precisa proteger a população menos favorecida nas cidades, o contingente mais afetado pelo aumento nos preços de cereais. Procurar um ponto de equilíbrio entre trabalhadores de campos e cidades é, sem dúvida, uma tarefa importante dos tomadores de decisões deste país.
Para os principais veículos de imprensa chineses, a baixa temperatura no norte, a estiagem que atingiu o sudoeste e as inundações que ocorreram em quase todo o país afetaram bastante a safra de verão do país. De fato, a safra deste verão caiu frente à do ano passado e é a primeira redução que o país sofre nos últimos sete anos. A safra de verão ocupa normalmente um terço da produção anual. Então, o resultado do outono será decisivo. A previsão é de que os preços das aquisições no outono também subam. Ouça o que disse Gao Shiquan, da Administração de Cereais de Heilongjiang, a maior base cereal do país.
"O arroz e o milho são os cereais mais procurados. Seus preços devem subir. Neste momento, os preços de compra se mantém a um nível bastante alto", contou Gao.
Um outro fator importante que causou a alta nos preços de cereais foi a suspensão da compra feita pela China Grain Reserves, empresa estatal que costumava efetuar aquisições a preços relativamente baixos na época em que a oferta era maior do que a demanda. Para o professor Zheng Fengtian, da Universidade Renmin, o fato permitiu a entrada de outras empresas, inclusive de capital estrangeiro, e a diversificação no perfis dos compradores.
"No passado, o país efetuava a compra a preços baixos para garantir que todos os produtos dos camponeses fossem vendidos. Agora o contingente de compradores foi ampliado. Até as empresas de processamento têm obtido capitais para comprar cereais", analisou Zheng.
A redução na produção dos principais exportadores de cereais como Rússia e Canadá puxou os preços no mercado mundial, o que acabou afetando o mercado interno chinês. A expectativa de um aumento contínuo nos preços está pressionando bastante as fábricas chinesas de processamento. Hao Youli, vice-gerente da empresa de arroz Beidahuang, de Heilongjiang, manifestou suas preocupações.
"O aumento nos preços de cereais vai ser uma tendência mundial, sobretudo depois da Rússia e da Ucrânia terem anunciado a restrição nas suas exportações. Os camponeses também estão poupando muito", explicou Hao.
Apesar disso, analistas apontam que a turbulência no mercado internacional não terá impacto significante à China, pois a importação corresponde a apenas 5% do consumo interno de cereais. Ouça o que disse Jiang Guozhong, diretor do Centro de Pesquisas de Estratégias do Desenvolvimento Social de Heilongjiang.
"Para mim, o aumento nos preços dos cereais não deve puxar muito a inflação na China, pois o país produz 95% dos cereais que consume", disse Jiang.
(Zhu Wenjun)