O Banco Popular da China, banco central chinês, anunciou no sábado passado (19) que aumentará a flexibilidade do yuan, ou Renminbi, moeda chinesa, e seguirá a administração e o reajuste sobre a taxa do câmbio do yuan conforme a zona de flutuação que já foi anunciada para o mercado cambial. De terça à quinta-feira, a paridade do câmbio do yuan bateu 6.80, e atingiu na sexta-feira 6.79, a valorização mais alta nos últimos cincos anos. Apesar disso, a oscilação diária não superou 0,5%. Para especialistas chinesas, um yuan mais flexível favorece a otimização do comércio exterior, mas a valorização não vai ser de forma vertiginosa, em curto prazo. A reforma cambial chinesa vai manter de maneira controlada e gradual.
A transformação do modelo de crescimento econômico vem sendo o destaque do trabalho do governo chinês nos últimos anos. Dentre as metas definidas, a otimização do comércio exterior faz parte importante, inclusive com a diminuição das exportações de produtos com baixo valor agregado, o aumento das exportações de produtos de alta e nova tecnologias, e o impulso do consumo interno com o fim de puxar exportações. Para o economista-sênior do Deutsche Bank na China, Ma Jun, o aprofundamento da reforma cambial será favorável à otimização da estrutura da exportação chinesa.
"Do ponto de vista de médio e longo prazo, a flexibilização do câmbio do yuan vai apoiar a transformação e a escalada da estrutura da economia chinesa. O país deve reduzir sua dependência das exportações de produtos manufatureiros de baixo valor agregado e aumentar o consumo interno. As indústrias de calçados, vestuário e equipamentos eletrônicos vão sofrer pressões, mas as manufaturas de ponta serão beneficiadas com a elevação da eficiência e a ocupação cada dia maior de fatias no mercado global", opinou Ma.
Para o economista-sênior do Morgan Stanley na China, Wang Qing, um yuan mais flexível ou uma valorização amena têm um significado importante para aumentar o poder de aquisição das empresas e da população chinesa.
"As empresas poderão comprar mais matérias-primas, como petróleo, e os civis gozarão de mais facilidade para estudar ou viajar ao exterior e comprar produtos importados. Isso vai incentivar também o consumo interno", disse Wang.
Na opinião do vice-ministro chinês do Comércio, Fu Ziying, a reforma do câmbio do yuan vai elevar a competitividade das empresas chinesas no mercado internacional.
"As exportações chinesas já saíram das sombras da crise financeira. Estamos confiantes com o desempenho das empresas chinesas no mercado mundial. A decisão visa colocar o comércio do país em uma órbita mais saudável, estável e sustentável", disse Fu.
Sobre os impactos que a valorização do yuan pode causar, especialistas chineses chegaram à unanimidade de que não existem no momento condições para o câmbio do yuan ter uma grande flutuação. Nos olhos do vice-diretor do Instituto de Finanças da Universidade Renmin, Zhao Xijun, a queda contínua da superávit do comércio com o exterior está levando a um equilíbrio a balança de pagamentos do país.
"Partindo da atual situação, o desequilíbrio entre exportações e importações está diminuindo. Os fatores que influenciam a oferta e a demanda do mercado passam também a pesar menos. O câmbio do yuan deve manter um nível estável", disse Zhao.
O anúncio do banco central chinês marca também o fim da fixação temporária do câmbio do yuan pelo governo chinês para enfrentar a crise financeira. O sistema cambial volta a ser "um regime flexível", que toma como referência um cesto de moedas estrangeiras. Mesmo assim, o governo chinês não se submeterá a nenhuma pressão externa. Para o economista-sênior do Banco Industrial, Lu Zhengwei, a futura flutuação do câmbio do yuan será um reflexo das principais moedas internacionais.
"Na época da crise, a flutuação era uma mudança em relação a uma moeda só. Agora a referência passa a ser uma série de moedas, o que significa que o yuan pode desvalorizar em relação ao dólar norte-americano, já que o euro está sofrendo uma queda visível", disse Lu.
(Por Zhu Wenjun)