O aumento nos preços de produtos agrícolas como alho, hortaliças, feijão e milho nos últimos tempos vem preocupando a população pela possível inflação. Vários funcionários responsáveis por assuntos econômicos manifestaram que a relação entre demanda e oferta e o clima anormal foram o principal motivo do fenômeno. Apesar disso, não excluíram a possibilidade da existência de atividades especulativas. Para especialistas, o que aconteceu com certos produtos agrícolas não deve passar para as commodities.
No distrito Zhongmou, um dos maiores produtores chineses de alho na província de Henan, no centro da China, a época da safra está se aproximando. Diferente dos anos anteriores, a aquisição desses alhos já terminou há tempos. Segundo a camponesa Li Zhixia, o preço do alho transportado de Zhongmou a Zhengzhou, capital de Henan, já superou 8 mil yuans por tonelada, ou seja, 8 yuans por quilo. Em 2008, o preço era de apenas 10 centavos por quilo. Li Zhixia qualificou como "incrível" o aumento registrado nos últimos tempos.
"Há uns anos, o preço era de apenas 10 centavos por quilo. Ganhava no máximo 400 yuans pelo cultivo de um mu (equivalente a 1/15 hectare) de alhos, insuficiente para compensar o custo. Jogava até os produtos ao rio. Tudo mudou este ano. É incrível", lembrou Li.
Com a chegada do verão, o consumo de feijão vem crescendo. Na província de Heilongjiang, no Nordeste da China, o preço do feijão verde disparou de 4 yuans para 18 yuans por quilo, segundo Zhou, dedicada aos negócios de feijão.
"O preço continua aumentando. No início, eram 2 yuans por meio quilo. O salto é tão grande que o preço já atinge agora 9 yuans", disse Zhou.
Outro produto que sofre a alta de preços é o milho. Segundo estatísticas divulgadas pelas autoridades chinesas, o preço do milho subiu de 1.800 yuans por tonelada em março para 2.000 yuans, um aumento de quase 20% em comparação com o mesmo período do ano passado. O agricultor Xu Jun disse que o aumento já dura um mês.
"O preço do milho aumentou para 82 centavos o meio quilo. Antes era 54 centavos. O crescimento já permanece por um mês", contou Xu.
Para a alta funcionária do Ministério da Agricultura, Ma Shuping, a diminuição da oferta causada pelo recuo da área de cultivo foi o principal motivo pelo qual os preços desses produtos dispararam.
"No ano passado, a área de cultivo do feijão verde caiu, mas as exportações continuaram crescendo, o que provocou a diminuição da oferta no mercado doméstico. Por outro lado, o consumo interno segue forte. Quanto ao alho, o desequilíbrio entre demanda e oferta também pesa bastante. Em 2009, a produção nacional foi de apenas 12 milhões de toneladas, recuando 6 milhões frente ao ano anterior", explicou Ma.
Aos olhos do economista-sênior, Yao Jingyuan, o fator climático, inclusive a estiagem que atingiu o Noroeste e a baixa temperatura que cobriu o leste do país na primavera, foi o principal responsável pelo incremento dos preços nos produtos agrícolas.
O vice-diretor da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, Peng Sen, indicou outra possibilidade. Segundo ele, as medidas restritivas anunciadas pelo governo chinês desde o começo do ano para evitar a bolha no mercado imobiliário forçaram os capitais especulativos a diminuir investimentos em imóveis. Como a bolsa chinesa também se manteve em depressão, esses capitais começaram a escolher novos alvos. O mercado de produtos agrícolas entrou na visão dos comerciantes devido a concentração da produção e do forte vínculo com as estações. Para o analista da Academia de Ciências Sociais, Li Guoxiang, a entrada dos capitais especulativos ampliou a oscilação dos preços de produtos agrícolas.
"Na realidade, a oscilação dos preços de produtos agrícolas tem um certo limite. Porém, esses investidores aproveitaram o desequilíbrio entre demanda e oferta. Como nossos consumidores ainda não são muito maduros, a tensão espalhou rapidamente por todo o mercado", destacou Li.
Apesar disso, para Sui Pengfei, analista do Ministério da Agricultura, o que aconteceu com certos produtos agrícolas não deve passar para as commodities, já que a China detém um sistema completo de supervisão e controle do mercado.
"Os alhos e feijões podem ser colocados facilmente na reserva. Além disso, suas produções são bem concentradas em certas regiões. Por isso, os negócios desses produtos podem ser facilmente afetados pelos capitais especulativos. Isso não vai acontecer com as commodities, pois temos um sistema de supervisão muito rigoroso."
Quanto ao fenômeno, os departamentos relativos aos produtos agrícolas já tomaram medidas para estabilizar o mercado. Além de conter atividades especulativas, enviaram equipes de investigação a diferentes regiões para estudar a criação de bases de produção agrícola e de sistema logístico de alta eficiência. Segundo o alto funcionário da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, Zhou Wangjun, a meta é estabelecer um sismeta de longo prazo para a produção e a elaboração de preços.
"Estamos acompanhando atentamente o mercado de produtos agrícolas junto com a Comissão Reguladora do Setor Bancário. Quanto à compra e venda que envolvam atos ilegais, a punição será severa."
Analistas apontaram também que a safra deste ano está garantida, o que deve contribuir para a estabilização do mercado de produtos agrícolas.
(Por Zhu Wenjun)