Parte VI recuperação e perspectiva
No dia 14 de outubro de 2009, a bolsa de valores de Nova York estava mergulhada num clima de auforia. Justamente naquele dia, o índice Dow Jones voltou a fechar acima dos 10 mil pontos, sinal visível de que os investidores acreditavam na recuperação da economia e no fim da recessão.
O PIB dos EUA no terceiro trimestre registrou um incremento de 3,5% frente o mesmo período do ano anterior, a primeira alta desde que o país caiu em recessão em 2008. O dado foi considerado um "marco miliário" no caminho da economia norte-americana rumo à recuperação e prosperidade.
A economia da zona do euro também saiu da zona de recessão no terceiro trimestre do ano passado, com um aumento de 0,4% em relação ao trimestre anterior. Apesar de todas as dificuldades, a Ásia é que teve o melhor desempenho no processo de recuperação global. A economia japonesa entrou, já no segundo trimestre de 2009, em um ciclo de crescimento positivo. Na China, também não haviam dúvidas de que o PIB iria crescer a 8%. Para o economista britânico Charles Dumas, os países asiáticos despontaram como a 'locomotiva' de recuperação da economia mundial.
"Graças à aplicação do plano de estímulo econômico pelo governo chinês, a recuperação mais impressionante aconteceu na região da Ásia-Pacífico, apesar de o Japão ter mantido uma recuperação relativamente lenta."
O protecionismo, no entanto, surgiu em meio ao combate mundial contra a crise econômica. Blocos desenvolvidos anunciaram medidas restritivas a produtos fabricados por países emergentes, na esperança de ampliar suas exportações e resolver o problema relativo a postos de trabalho.
Será que o protecionismo pode realmente proteger as economias no atual mundo globalizado? Ouvimos a opinião de vários cidadãos norte-americanos quanto à aplicação da sobretaxa sobre pneus chineses exportados aos EUA, anunciada em setembro de 2009 pelas autoridades americanas.
"Acho ruim aumentar os impostos sobre os pneus chineses, pois o livre comércio beneficia a todo o mundo. Me preocupo com a possibilidade de isso provocar uma guerra comercial."
"O prejuízo que a decisão causará aos consumidores vai superar os benefícios que ela trará à indústria. Talvez ajude um pouco com a questão do desemprego, mas os resultados podem não ser tão satisfatórios quanto o esperado."
"Acho que isso pode aliviar um pouco a tensão apresentada no mercado de empregos, mas não é suficiente para compensar os impactos negativos provocados pela sobretaxa."
"Na minha opinião, isso vai prejudicar os interesses dos consumidores. Mesmo que eles não comprem os pneus baratos da China, os vendedores farão suas aquisições em outros países produtores. Isso não vai favorecer a indústria norte-americana de pneus."
O alastramento rápido da crise financeira mostrou o lado negativo da globalização econômica, liderado pelos países desenvolvidos. A globalização está, sem dúvida, diante de novos desafios. Para Chen Fengying, diretora do Departamento de Economia Mundial do Instituto de Relações Internacionais da China, a globalização econômica constitui uma tendência inevitável do século XXI, pois traz benefícios práticos a diferentes países do mundo. Mas é necessário o reforço da administração e da fiscalização, a fim de aliviar o aspecto negativo dessa faca de dois gumes, ressaltou Chen.
"Tanto os países ocidentais quanto os orientais precisam reforçar a supervisão sobre o setor financeiro. Além disso, é necessária uma coordenação internacional de políticas macroeconômicas, com o objetivo de preservar a justiça do desenvolvimento global. Um mundo globalizado justo e bem administrado é benéfico a todos os países."
Há poucos anos, quando se falava da conjuntura do poder econômico mundial, o G8 ainda era o destaque. Em 2009, o G20, no qual países emergentes ocupam cerca da metade dos assentos, desempenhou um papel essencial na condução do mundo rumo à recuperação econômica. Para o vice-diretor do Instituto de Economia e Política da Academia de Ciências Sociais, Li Xiangyang, os países emergentes estão saindo dos bastidores para ocupar o palco da economia mundial.
"O bloco formado por países em desenvolvimento, sobretudo pelas nações do Bric, serviu de locomotiva à recuperação da economia mundial. Seu crescimento alterou, pelo menos no ano passado, a conjuntura da economia global. Os principais mercados emergentes passam a ter um papel cada vez maior em decisões sobre assuntos econômicos globais."
A troca de potência pede uma correção das regras do jogo. Como os países em desenvolvimento passaram a ter uma presença mais significativa na cena econômica global, os regimes econômicos e políticos em vigor, elaborados a partir dos interesses das economias desenvolvidas, precisam de alterações. Em setembro de 2009, a cúpula financeira do G20 decidiu transferir aos países emergentes e em desenvolvimento dinâmico, 3% a mais dos direitos a voto no Banco Mundial, além de um mínimo de 5% das cotas do FMI (Fundo Monetário Internacional). A demanda dos países em desenvolvimento pela reforma do sistema financeiro mundial, no entanto, não se limita a isso. O chanceler chinês, Yang Jiechi, esclareceu a postura do país quanto ao estabelecimento de um novo sistema financeiro global, ao participar da Conferência Mundial sobre a Crise Financeira e Econômica e seu Impacto no Desenvolvimento, realizada em junho de 2009.
"Para construir um sistema financeiro justo, tolerante e bem ordenado, é preciso dar continuidade aos processos de reforma do FMI e do Banco Mundial. É necessário também garantir que o FMI efetue uma supervisão justa e equilibrada das políticas macroeconômicas de todos os seus membros. Também é necessário manter a estabilidade do câmbio das principais moedas para a reserva global."
Para Chen Fengying, a crise traz consigo um período que permite ao mundo a embaralhar as cartas. O pluralismo deve marcar a cena da economia mundial no futuro, analisou Chen.
"Crises resultam sempre em mudanças e reajustes. Nesse processo, a oscilação é inevitável, assim como o aumento das incertezas e da complexidade da economia global. A crise não abandonou a Europa e os EUA, mesmo período em que os mercados emergentes se expandem. As forças internacionais estão mudando, junto com a elevação dos riscos e das oportunidades."