O ano de 2009 foi extraordinário para o cenário econômico mundial. Governos de diferentes países continuaram a lutar contra a crise financeira. No dia 14 de outubro, o índice Dow Jones, referência da bolsa de Nova York, voltou a fechar acima dos 10 mil pontos, sinal visível de que os investidores acreditam na recuperação da economia e no fim da recessão. Para muitos analistas, a Ásia teve um papel de liderança na recuperação de toda a economia global. Na China, já não há mais dúvidas de que o PIB vai atingir um aumento de 8%. Em vez de fazer uma retrospectiva de todo esse processo, hoje gostaria de apresentar para vocês Chen Haixian, empresário chinês do setor privado. Sendo uma das milhões de pessoas envolvidas na gigantesca turbulência financeira, Chen tem uma história a nos contar.
Com o relatório anual da sua empresa na mão, Chen Haixian respira aliviado.
"A minha empresa está, aos poucos, saindo das sombras da crise financeira. A produção e as vendas estão voltando ao normal. Conforme esse relatório, a venda de alguns produtos sofreu queda, mas a situação geral está melhorando. Devemos conseguir atingir em 2009 o mesmo faturamento que obtivemos em 2008", disse o empresário.
Chen, de 48 anos, é proprietário de uma companhia de comércio exterior, sediada na província de Zhejiang. Em meados dos anos 1990, Chen pediu demissão de seu cargo em uma empresa estatal, iniciando uma aventura na indústria de química fina com a fundação da companhia Haihong. A empresa atua principalmente na produção de espuma, material utilizado na confecção de calçados. Com uma década no mercado, Haihong tornou-se uma empresa de porte médio, empregando 500 pessoas. Metade de sua produção é escoada para Jiangsu e Zhejiang, e a outra metade é vendida no exterior. Ainda que contasse com experiência na área industrial, a crise financeira trouxe desafios sem precedentes a Chen Haixian e sua empresa. Ele lembra o que aconteceu no ano passado.
"Quando a crise começou a afetar o país, nossas encomendas tiveram uma queda de cerca de 30%. Além disso, ficou cada vez mais difícil cobrar as dívidas que nossos clientes contraíram. Devido a tudo isso, os custos de gestão e produção aumentaram visivelmente".
O enfraquecimento dos mercados nos EUA, oeste europeu e Japão foi tão rápido que Chen qualificou a turbulência financeira como uma tempestade.
"Muitos clientes do exterior cancelaram suas compras. Indústrias de calçados suspenderam suas atividades produtivas, demitiram trabalhadores e até anunciaram falência", lembrou Chen.
A maioria das linhas de fabricação da Haitong também foi posta de lado. Li Jianli, que trabalhou por dez anos na empresa, disse que a mudança preocupou muito os trabalhadores, pois as máquinas antes funcionavam 24 horas por dia.
"Sentimos a falta das encomendas. A fábrica esteve semi-fechada durante um certo período. Antes trabalhávamos oito horas por dia, e agora o expediente foi encurtado para três ou quatro horas. Passamos pela pior época da crise com dois terços das linhas de produção fechadas", disse.
A maior preocupação de Li era com a possibilidade de manter seu posto de trabalho, dúvida que o assolou ainda mais quando viu que muitos amigos que trabalhavam em outras empresas foram demitidos.
"Quando a empresa estava passando pelo seu período mais difícil, fiquei realmente preocupado. Falei várias vezes para a minha família que poderia perder o emprego. Muitas vezes cheguei a perder o sono", contou Li.
A situação perturbou também Chen Haixian. Ponderando sobre a questão, ele decidiu não demitir ninguém na empresa.
"O corte dos empregados pode surtir efeitos positivos em curto prazo, mas provoca pânico entre os empregados, além de afetar a confiança deles na empresa. Além disso, acho muito cruel mandá-los de volta para o mercado de trabalho diante de tais circunstâncias. Assim, decidi aproveitar o tempo para organizar sessões de treinamentos para eles", explicou Chen.
A esposa de Chen, Zhu Yifang, disse que a decisão do marido não foi de se estranhar. Para ela, Chen, apesar de ser um comerciante, sempre foi um romântico. Ele vai sempre assumir a responsabilidade em tempos de pressão, assegurou Zhu Yifang.
"Ele não desiste jamais, pois é uma pessoa de muito senso de responsabilidade. Ele não vai se esquivar da pressão e a transferir a seus funcionários. Meu marido sabe manter uma atitude otimista."
A decisão de Chen acalmou os espíritos e inspirou todo o seu grupo. De acordo com Li Jianli, todos os empregados de Chen começaram a ajudar a empresa na corte dos custos.
"A empresa anteriormente dispunha de pessoal para fazer a limpeza e cuidar dos jardins da fábrica. Parar reduzir os custos, nós passamos a assumir esse tipo de trabalho, com o fim de mostrar apoio ao patrão", contou Li.
Perante a queda das exportações, o empresário chinês depositou a esperança na exploração de novos produtos e na ampliação do mercado interno. Além disso, ele descobriu que nem todos os produtos tiveram sua demanda reduzida no mercado externo.
"Há vários anos, começamos a focalizar a pesquisa de resina termoplástica, o PVC, que vinha sendo bem procurada no mercado internacional, apesar da crise financeira. Os investimentos na pesquisa desse produto valeram".
A escalada dos produtos virou assim a principal meta de Haitong. A empresa aumentou os investimentos na fabricação de resinas ecologicamente corretas. Para Chen, a crise financeira trouxe benefícios à sua equipe, pois obrigou a Haihong a reajustar sua estrutura para acompanhar melhor as necessidades do mercado.
Visando promover o mercado interno, Chen abriu vários escritórios no país para buscar a ampliação da teia de negócios.
"O mercado nacional, de fato, é cheio de oportunidades. Para nós, as oportunidades residem nas regiões do Delta do Rio das Pérolas, do Mar Bo e do município central de Chengdu, na província de Sichuan. Instalamos escritórios nesses lugares para poder atrair mais clientes".
Chen apontou que ele não está lutando sozinho. O empresário conta com o forte respaldo da sua esposa, Zhu Yifang.
"Discutimos sempre a situação econômica e possíveis medidas para enfrentar a crise. Neste processo, não diversificamos cegamente nossos produtos. Assim, não sofremos muita pressão na circulação de capitais", explicou Zhu.
A partir do segundo semestre de 2009, a economia chinesa começou a dar sinais de recuperação, graças a uma série de medidas de estímulo aplicada pelo governo central. A China virou um dos primeiros países a sair das sombras da crise financeira. Em novembro, as exportações registraram o primeiro aumento do ano. E a Haihong também pôde dar adeus a seu pior momento.
"Nossas vendas ao exterior foram recuperadas passo a passo. A situação começou a melhorar significativamente a partir de junho", contou Chen.
Chen Haixian se diz satisfeito com os resultados obtidos no ano passado. Ele revelou a meta para 2010.
"O que fizemos para enfrentar a crise financeira vai render frutos em 2010. Os novos produtos que pesquisamos vão ser lançados no mercado em breve. Nossa equipe está muito unida depois que passou por todos esses desafios. A previsão é de que as vendas em 2010 aumentem em 50% em comparação a 2009".