Com a situação do aquecimento global cada vez mais crítica, a utilização de energia alternativa está tomando o palco das discussões internacionais. A crise financeira fez com que muitos países tomassem a decisão de desenvolver a pesquisa de combustível renovável com o fim de promover a recuperação de suas economias. Na China, a Administração Estatal de Energias está elaborando o Plano para o Setor de Novas Energias, tentando colocar o assunto na pauta da estratégia nacional. O repórter da CRI visitou em Beijing o Grupo Gamesa, empresa espanhola especializada em energias renováveis e na fabricação de equipamentos – especialmente aqueles voltados à geração de energia eólica –, e entrevistou seu presidente, Jesus Zaldua, em torno da cooperação que a Gamesa realiza com a China em energia alternativa.
Fundada em 1994, a Gamesa é o maior explorador do mercado de energia eólica do mundo e a segunda maior produtora de aerogeradores, além de ser uma das primeiras empresas estrangeiras a participar da sustentabilidade energética na China. Zaldua explicou por que a empresa decidiu entrar no mercado mandarim.
"Como outras companhias dedicadas à internacionalização, escolhemos a China pelo seu enorme mercado. Aliás, o ritmo de crescimento desse mercado é muito acima da nossa expectativa. A Gamesa entrou na China em 2000, quando o país tinha acabado de ingressar na área de energia eólica. No início, a Gamesa exportava aerogeradores à China. Até 2005, os produtos espanhóis ocupavam 36% do mercado chinês", disse o presidente.
Segundo Jesus Zaldua, os primeiros cinco anos na China foram estipulados como fase de teste. Em 2006, a Lei de Energia Renovável promulgada pelo governo chinês abriu novas oportunidades para a espanhola. Para Zaldua, a decisão de Beijing mostra claramente a postura do governo em desenvolver o setor de combustíveis renováveis.
"Três fatores são indispensáveis para um país desenvolver o segmento de energia eólica: vento, rede eletrônica e respaldo legislativo. A China é um país com potencial natural, além de estar construindo rapidamente a infraestrutura da sua rede elétrica. A Lei de Energia Renovável vai definitivamente alavancar o setor", avaliou Zaldua.
Segundo a lei chinesa, no entanto, 70% dos equipamentos para geração de energia eólica utilizados na China têm que ser produzidos nacionalmente, o que obviamente impõe empecilhos à ambição da Gamesa no país asiático. Tomando em consideração o mercado e o aspecto legislativo, a companhia espanhola ficou determinada a promover a localização dos seus produtos na China; além de instalar fábricas na cidade de Tianjin, acelerou o passo nas cooperações com o governo chinês na exploração do mercado de energia eólica. Até o momento, a Gamesa estabeleceu em Tianjin duas fábricas de aerogeradores e está planejando construir outras duas. Tianjin já é a segunda maior base de produção da Gamesa no mundo.
"O desenvolvimento da planta em Tianjin justifica nossa decisão. A prefeitura de Tianjin e as zonas de desenvolvimento econômico locais nos concederam grande apoio quanto ao regulamento, infraestrutura, compra de equipamentos, logística e contratação de trabalhadores. A nossa empresa funciona de forma estável", elogiou Zaldua.
A Gamesa firmou também acordos de colaboração com províncias de Shandong, Jilin, Liaoning e a região autônoma da Mongólia Interior na exploração dos recursos naturais. Para Zaldua, a China possui grande potencial eólico no norte, nordeste e na parte da sua costa litoral, grande vantagem para ampliar o uso de energias eólicas.
O executivo espanhol ressaltou a importância de investir na exploração de energias renováveis.
"Investir em energias renováveis é uma opção que a gente tem que fazer. É um meio para barrar o progresso do aquecimento global, cada dia mais sério. Todo o mundo deposita esperanças nas energias renováveis, e a eólica tem o maior potencial entre elas de ser popularizada, graças às tecnologias já maduras existentes e ao baixo custo da produção", pondera o diretor.
Para encarar a crise financeira global, muitos países reduziram seus investimentos em energias renováveis. Nos olhos de Zaldua, o fenômeno é temporário. "A crise financeira não ameaçou o setor, mas sim trouxe oportunidades ao segmento", completou Zaldua. Segundo ele, empresas puderam aproveitar a oportunidade para efetuar a reestruturação da companhia, baixar os custos de produção e otimizar seus serviços. Quanto à expectativa da indústria de energia eólica na China, Zaldua se diz confiante.
"Muitos países reduziram seus investimentos em energias renováveis devido à crise financeira, mas isso não aconteceu na China. O país pode se converter neste ano no maior mercado de novas energias no mundo. A nossa previsão era que ocupasse o primeiro lugar no cenário mundial em processamento de combustível alternativo em 2012, mas os chineses estão acelerando o passo ainda mais. Beijing tomou a decisão certa e mostrou sua atitude responsável na questão do meio ambiente. O setor vai criar também novos postos de emprego. Acreditamos que a política chinesa voltada a energias novas será de longo prazo", concluiu Zaldua.