Entre todos os gigantes internacionais de seguros que têm negócios na China, a Groupama, com sede na França, parece ser a que ganha menos. "Estamos em Chengdu há cinco anos, mas a empresa ainda não saiu do déficit", revelou Yu Weidong, gerente da sucursal de Chengdu, capital da província de Sichuan, no oeste da China. Segundo Yu, pelo fato de a empresa francesa ser pioneira em seguros agrícolas no mercado chinês, o lucro não é o objetivo da companhia neste momento.
A Groupama, listada entre as 500 maiores empresas do mundo, começou seus negócios com seguros agrícolas 100 anos atrás. Na condição de maior grupo segurador da França e líder europeu na área de seguros agrícolas, a Groupama decidiu entrar no mercado chinês em 2003. Naquela época, seguros agrícolas não eram um bom negócio. Com um índice de sinistralidade acima dos 90% e o custo administrativo entre 20% e 30%, a modalidade parecia não ser capaz de trazer lucros a qualquer seguradora.
Atualmente, 42% das vendas da sucursal de Chengdu são de seguros de criação de animais domésticos e plantio agrícola. O restante das apólices comercializadas é de bens familiares e acidentes pessoais de agricultores. Com esta estrutura de comércio o lucro não vem fácil. No entanto, para o gerente Yu, que é francês, neste momento o que mais interessa à companhia é a potencialidade do mercado chinês, que possui mais de 800 milhões de agricultores. Ele disse:
"Quando solicitamos a licença de negócios na China, o governo estava aplicando com muita força a estratégia de "grande exploração do oeste". Após uma pesquisa minuciosa, decidimos que Chengdu, capital da província de Sichuan, uma das quatro principais províncias agrícolas da China, seria a sede da nossa empresa."
A decisão deles foi reconhecida pelos colegas do setor. O gerente da seguradora francesa Coris Internacional (China), Liao Jianqiang, elogiou a estratégia da Groupama de olhar para o futuro:
"De fato, a China precisa muito dos seguros agrícolas porque o país sofre muitos acidentes e calamidades naturais que afetam gravemente a produção agrícola. O negócio da Groupama beneficiará o desenvolvimento geral da agricultura chinesa, além de ajudar os camponeses. Este é a tendência do mercado segurador chinês. A estratégia da Groupama é correta."
A primeira sucursal do gigante francês na China foi inaugurada em outubro de 2004 em Chengdu. O primeiro trabalho foi estabelecer a rede de vendas nas áreas rurais da província. Diante dos camponeses chineses, até então totalmente desinformados sobre seguros, a Groupama promoveu primeiramente o seguro de Bens Familiares e Responsabilidades Básicas. Além disso, alguns seguros especiais foram desenvolvidos especialmente para o local. Yu Weidong apresentou:
"Nos campos chineses, muitas famílias têm cachorros grandes, que servem como guardas de suas casas. Estes cachorros às vezes mordem terceiros. Considerando isso, vendemos um seguro especial aos agricultores que criam cachorros, que inclui o pagamento de despesas de saúde e indenização às vítimas por outros prejuízos. Este serviço pode evitar brigas entre vizinhos e é muito bem-vindo pelos camponeses."
Na área de seguros de bens familiares a empresa se compromete a pagar o aluguel daqueles que perderem suas casas por acidentes eventuais, como incêndios. Yu disse:
"Em 2005, um camponês em Xiang de Longquan, (Xiang é uma divisão administrativa chinesa, superior a vila e inferior a distrito) era muito pobre e sobrevivia com o subsídio do governo. Mas ele poupou seu dinheiro e comprou o nosso seguro. Um dia, a casa dele desmoronou num incêndio. Além de compensarmos a perda imobiliária, também pagamos a ele o aluguel até que sua nova casa fosse construída. Este acontecimento nos deu a confiança dos outros camponeses. Aquele agricultor agora é um vendedor da nossa empresa."
O seguro de Bens Familiares e Responsabilidades Básicas promovido pela Groupama nos campos chineses custa apenas 150 yuans anuais, valor acessível a qualquer camponês comum. A empresa chama o serviço de "tudo pronto em uma apólice". O título satisfaz a ansiedade dos camponeses, que exigem ampla abrangência de produtos em uma única apólice, incluindo bens familiares, responsabilidade civil e acidente pessoal, evitando impaciência e desconfianças causadas por acordos complicados.
O camponês Deng Long, do distrito de Pujiang, no subúrbio de Chengdu, é cliente da Groupama desde 2007. Ele escolheu a empresa francesa pelo bom serviço a preço baixo:
"Comprei para dois membros da minha família os seguros de saúde, incluindo subsídio de internação em hospital e bens familiares. Com menos de dois mil yuans por ano, todas as despesas médicas serão reembolsadas."
No dia 12 de maio de 2008, o devastador terremoto atingiu a terra de Sichuan. Após a tragédia, a Groupama colaborou com resgate das vítimas e alívio às consequências do tremor. Yu Weidong relembrou:
"O sismo aconteceu em 12 de maio e quatro dias depois o presidente do grupo chegou a Chengdu. Decidimos imediatamente doar 200 mil euros ao governo da província de Sichuan e, com aprovação das autoridades, subsidiamos em 10 mil yuans cada um dos nossos clientes cujas casas foram danificadas. Como todos sabem, desastres naturais, como terremotos, são inevitáveis e as seguradoras são isentas de responsabilidade. Mas naquela altura sentimos que deveríamos fazer alguma coisa."
Dez mil yuans não é muito dinheiro, mas para as famílias que perderam seus lares foi uma ajuda significativa. Após o acontecimento, a Groupama promoveu mais seguros de pequeno valor aos camponeses chineses em áreas como construção civil, pequenas empresas e veículos.
Em 2007, os seguros agrícolas correspondiam a menos de 20% de todos os negócios do grupo francês. O presidente da companhia, Jean Azema, possui visão estratégica sobre o mercado chinês e confia que resolverá os atuais problemas de gerenciamento. Yu Weidong apresentou:
"Em primeiro lugar, a sociedade chinesa é estável. Segundo, a população de 1,3 bilhão, por si só, é um grande mercado. Por último, o nível de vida do povo chinês está crescendo, assim como a economia nacional. Em todo o mundo, sob o contexto de crise financeira, que país pode manter o crescimento acima dos 5%? Muito poucos."
Yu admitiu, no entanto, que o mercado chinês é complexo e que por isso não pode se basear na experiência adquirida na Europa. Ele revelou que a sucursal de Chengdu será uma empresa da capital único e que, por isso, terá mais liberdade para desenhar produtos adequados aos camponeses. Atualmente, o governo central incentiva com muita força a agricultura e, neste contexto, o ambiente geral do mercado segurador nos campos chineses está mudando. Com isso, a Groupama, o gigante francês, espera ser reconhecida em Sichuan e ampliar seus negócios no resto da China.