Xi´an, capital da província de Shaanxi, é sede da famosa tumba do imperador Qinshihuang, onde se reúnem as réplicas em terracota de seus guerreiros imperiais. Como muitas outras cidades chinesas, Xi´an também sacrificou o meio ambiente em busca da expansão econômica logo depois da adoção da política de Reforma e Abertura, no começo da década de 1980. Mas desde o final do século passado, as autoridades locais vêm retomando a consciência em relação à importância da proteção ambiental e anunciaram uma série de medidas para melhorar a situação.
Cheng Ying, moradora do bairro Yanta, no sul de Xi´an, leva a filha todos os dias ao anoitecer à Praça Dayan, para passear. A praça, que se localiza ao sopé do pagode Dayan, sagrado símbolo budista, foi construída em janeiro de 2004. Com uma área de cerca de 110 mil metros quadrados, o local é um dos preferidos dos habitantes de Xi´an para relaxar e passear. Há dez anos, no entanto, não haviam tantas pessoas dispostas a sair de casa devido à má qualidade do ar, relembra Cheng.
"A qualidade do ar hoje é muito melhor que antes. Moro aqui desde pequena. Nos anos 90, o céu era cinzento e nunca conseguíamos vê-lo azul e com nuvens brancas como agora."
A volta do azul ao céu encheu de alegria os cidadãos de Xi´na. A cidade era tomada por uma poeira que impedia as pessoas, até, de saírem de casa com camisa branca.
A vice-diretora da Administração de Proteção do Meio Ambiente de Xi´an, Ren Yongfeng, admitiu que o governo teve grande parcela de culpa na má qualidade atmosférica observada no passado.
"Nos anos de 1970 e 1980 Xi´an incentivou o desenvolvimento de empresas privadas nas aldeias e vilas. A cidade era marcada pelas chaminés, de onde saíam densas fumaças. Àquela altura, a gente até associava isso à prosperidade. De fato, esse modelo extensivo de crescimento provocou impactos negativos ao meio ambiente".
Como os habitantes locais usavam o carvão como principal fonte de energia dos aquecedores, as autoridades locais decidiram regularizar o uso das caldeiras. Os departamentos competentes estabeleceram um critério para a emissão de gases por caldeiras, mas o resultado não foi o esperado. A partir de 1997, o governo de Xi´an começou a mudar a estratégia. Ren Yongfeng recordou:
"Começamos a promover o uso do gás natural como fonte de energia das caldeiras. Até o final do ano passado, demolimos mais de 5.300 pequenas caldeiras. Planejamos construir no futuro uma rede de aquecimento que cobrirá toda a cidade".
Assim, Xi´an se tornou uma das primeiras cidades chinesas a promover o uso de gás natural. Desde 1998, todo o transporte público utiliza fontes alternativas de energia. O taxista Liu Hong trocou de carro em 1999 e viu o custo com combustível cair significativamente.
"Comparando com o passado, meu gasto com combustível baixou de 70 até 80 yuans por dia. O preço do gás natural é de 1,65 yuan por metro cúbico, enquanto o do petróleo é de 5,2 yuans por litro. É muito fácil abastecer o carro com o gás natural. Normalmente leva uns dez minutos".
Segundo estatísticas divulgadas pelo governo local, até o final de 2008 circulavam em Xi´an 14.285 táxis, cerca de 2,65% da frota de veículos na cidade. Os 71 postos de abastecimento distribuídos por Xi´an têm capacidade de fornecer diariamente 650 mil metros cúbicos do gás natural.
Em dez anos de esforços, Xi´an conseguiu retomar o céu azul, mas Ren Yongfeng e seus colegas se depararam com novos problemas. De acordo com os dados coletados pelo órgão ambiental local, a presença de dióxido de nitrogênio (NO2) no ar de Xi´an vem aumentando nos últimos anos. Isso, segundo Ren, é resultante dos gases emitidos pelos escapamentos dos automóveis. Xi´an possui 540 mil veículos, número que cresce ao ritmo de 12,7% ao ano. Para lidar com o problema, as autoridades locais fundaram um centro de administração para supervisionar a emissão de gases poluentes pelos veículos. Foi elaborado um regulamento que define o critério geral, segundo o qual, a partir deste ano todos os carros novos devem obedecer aos padrões europeus de emissões.
Apesar do avanço obtido na qualidade de ar, o problema mais crítico neste momento em Xi´an diz respeito ao fornecimento de água potável, segundo o responsável pela supervisão da proteção ambiental, Zhang Xuecheng.
"Xi´an é cercada por oito rios. Posso dizer que todos foram contaminados no passado, afetando muito água potável utilizada pelos moradores".
O pior é que Xi´an é uma cidade carente de recursos hídricos. Cada morador tem à disposição apenas 300 metros cúbicos de água, um sexto da média nacional. O aumento da população e o crescimento econômico tornam a situação ainda mais tensa. Ren Yongfeng falou das medidas em resposta à essa crise.
"Construímos no ano passado cinco fábricas para tratamento de águas poluídas, com capacidade para tratar 415 mil toneladas de água por dia. As obras absorveram um investimento total de 700 milhões de yuans".
De acordo com Ren, até 2001 Xi´an era capaz de tratar diariamente 270 mil toneladas de água poluída, mas esse número subiu para 810 mil no ano passado. A cidade destina cerca de 3% do PIB para a proteção do meio ambiente, índice 1,2% superior a média nacional.
Além disso, o governo de Xi´an investiu 2 bilhões de yuans na construção de três parques ecológicos de acesso gratuito aos cidadãos. Para as autoridades e habitantes de Xi´an, um meio ambiente agradável é o mínimo que pode merecer esta cidade histórica e cultural.