As empresas chinesas preparam-se para adquirir os principais activos do "naufrágio" do grupo Espírito Santo, referência histórica do sistema bancário português, com ramificações a Angola, Moçambique e países sul-americanos e a sectores como o imobiliário ou agro-industrial.
O Novo Banco chegou a um princípio de acordo com o banco de investimento chinês Haitong Securities para a venda do Banco Espírito Santo de Investimento (BESI), negócio que deverá fazer-se por cerca de 400 milhões de euros, segundo o Diário Económico.
O negócio, pendente da aprovação do Banco de Portugal e das autoridades europeias, prevê que o presidente executivo, José Maria Ricciardi e restante equipa de gestão do banco de investimento permaneçam em funções.
O Haitong, que teve forte valorização em bolsa depois de conhecido o negócio, afirmou que a concretização do negócio permitirá "reforçar a internacionalização da estratégia empresarial da empresa e alargar a sua cobertura geográfica."
O analista Doug Young considerou em texto publicado no jornal South China Morning Post que a operação é semelhante à recente aquisição da seguradora portuguesa Fidelidade pelo grupo chinês Fosun, que ao lado do CITIC "tem sido dos grupos chinesas que mais compras efectuou no estrangeiro no último par de anos."
"Esta nova operação da Haitong pode representar uma nova fase na história das fusões e aquisições no estrangeiro, por actores de segunda linha nos serviços financeiros da China", afirma Young, que prevê também que a consolidação em curso na indústria financeira chinesa atraia em breve investimento estrangeiro.
A imprensa portuguesa deu ainda conta esta semana da preparação de uma proposta da Fosun, avaliada em 3500 milhões de euros, pelo Novo Banco, a instituição financeira que ficou com os activos "bons" do Banco Espírito Santo.
Em declarações à Bloomberg, em Outubro, o administrador financeiro da Fosun já tinha manifestado interesse no Novo Banco, cujo processo de venda deverá iniciar-se nos próximos dias.
"Conhecemos o Novo Banco. Vamos rever todas estas oportunidades de investimento. Se for um bom valor para a Fosun, vamos ter isso em conta. Mas não apenas o Novo Banco", afirmou o administrador Ding Guoqi.
O presidente do Novo Banco, Eduardo Stock da Cunha, reagiu numa entrevista televisiva ao interesse da Fosun, dizendo ser uma "boa notícia", mas que qualquer interessado terá de "ir para a fila" quando o processo de venda do banco começar.
As manifestações de interesse terão de ser apresentadas até ao dia 31 de Dezembro e o processo de venda só será desenvolvido no segundo trimestre de 2015.
A Fosun comprou este ano a maior seguradora portuguesa, a Fidelidade, por 1635 milhões de euros e, através desta, a Espírito Santo Saúde (agora Luz Saúde), por 478,5 milhões de euros.
Nos últimos 3 anos, as empresas chinesas investiram 5,65 mil milhões de euros em operações de fusões e aquisições de empresas portuguesas, cerca de 40% do total neste género de operações.
O grosso do investimento chinês dirigiu-se à energia, com um investimento de 3,43 mil milhões de euros na compra de participações na Energias de Portugal (EDP), REN e activos da EDP Renováveis. (Macauhub/CN/PT)