Um casal com idade de setenta anos está morando em um bairro residencial comum do distrito de Chaoyang, em Beijing, gozando a vida cômoda após a aposentadoria. Todos os dias, eles fazem compras em uma feira perto, lêem diversos jornais e vêem programas políticos e econômicos na TV. Diferentes dos outros idosos comuns do local, os dois são especialistas estrangeiros que vieram à China na década de 70 do século passado. Morando na cidade há mais de trinta anos, o casal, Juan Morillo e Georgina, sempre constatam as grandes mudanças sociais do país oriental do ponto de vista dos intelectuais ocidentais.
Juan nasceu no Peru em 1939 e formou-se em literatura e filosofia. Depois, trabalhou como professor universitário e também foi jornalista e editor. Em 1978, ele veio à China e tornou-se um professor de língua espanhola na Universidade de Estudos Estrangeiros de Beijing. Quatro anos depois, ele começou a trabalhar na Rádio Internacional da China como especialista e continuou até sua aposentadoria. Como constatou pessoalmente as mudanças da sociedade chinesa após a aplicação da política de reforma e abertura no país, Juan, um intelectual formado pelo sistema educacional do ocidente, pensou muito em como aconteceram essas mudanças radicais na China nos últimos trinta anos e quais são os significados dessas mudanças.
"Como os pensamentos dos chineses mudam, a chave foi o estabelecimento da economia de mercado. Finalmente, as pessoas podem escolher à vontade as profissões favoritas. Assim, muitos desistiram dos cargos estáveis nas entidades governamentais, mas se dedicaram aos negócios de mercado. "Xiahai", uma palavra chinesa muito popular na década de 1990, significa fazer comércio, também uma incerteza, ou risco do futuro. Por isso, se quiser estabelecer um empreendimento ou conseguir um bom emprego nas empresas, tem que ficar confiante em sua capacidade e aproveitar bem as oportunidades."
Na opinião de Juan, a reforma significa o ajuste das entidades governamentais e das empresas estatais. Porém, em um mercado aberto, as pessoas que perdem empregos ainda têm muitas oportunidades para iniciar de novo a sua carreira profissional. Alguns fracassam e alguns conseguem sucesso. Juan disse que o sistema de mercado desperta a criatividade dos chineses e a reforma estrutural econômica do país transformou o pensamento das pessoas. Por outro lado, Juan ainda acha que a liberação do pensamento da população trazida pela política de reforma e abertura é exatamente uma razão importante do grande sucesso do país.
"A abertura intruduz o espírito de criatividade. Um pensamento fechado ajuda a manter os valores tradicionais, mas não se adapta à sociedade atual, que evolui sempre. Por isso, é necessária a liberação do pensamento para seguir as rápidas mudanças do mundo. A reforma e abertura, o desenvolvimento econômico e a liberação de pensamento são indispensáveis para a prosperidade do país."
Georgina veio à China junto com o marido no fim de 1970. Há mais de 30 anos, ela trabalha como professora nas universidades de Beijing. Como pode passar todos os dias junto com os jovens, Georgina sente-se muito alegre.
"Trabalhei em várias universidades de Beijing, e para mim isto é uma experiência alegre, pois no trabalho posso ficar junto com jovens chineses. Por meio deles, conheço as mudanças e progressos da China na política, na economia e no pensamento."
Na opinião de Georgina, 30 anos atrás, os jovens chineses estudavam para construir um país próspero. Nos anos 1990, os universitários tornaram-se mais independentes, dando mais atenção ao desenvolvimento próprio e à realização dos seus valores. No novo século, os jovens chineses têm melhores condições de vida, mais liberdade para fazer o que quiserem e têm um futuro mais diversificado. Georgina disse que, hoje em dia, o mercado da China está cada vez mais aberto e os intercâmbios com o exterior enchem todos os cantos da sociedade. Agora, muitos estrangeiros moram em Beijing, trazendo os seus modos de viver e pensar. Gradualmente, descobrem-se mais divergências entre os valores ocidentais e a tradição chinesa.
"Acho que não é adequado chamar isto como 'invasão cultural do ocidente'. Porém, para a China, uma nação que mantêm uma cultura milenar, as mudanças no pensamento da população durante os últimos 30 anos são muito, muito grandes."
Porém, Georgina está muito preocupada com alguns fenômenos na China, por exemplo, o consumismo que atinge os jovens. Ela disse que, agora, os ocidentais estão avaliando de novo este modo de vida. Georgina ainda lamenta que muitos jovens não gostem de cozinhar e vão sempre para restaurantes. Ela disse que, caso essa tendência não seja impedida, o que desaparecerá não será apenas a gastronomia chinesa, mas também um modo de vida de reunir familiares e amigos em casa para uma refeição conjunta. Juan e Georgina acham que o conceito de família, união e ajuda mútua são uma parte apreciável dos valores tradicionais da China e devem ser valorizados e divulgados. Os dois ainda sugeriram que a China deve continuar aprendendo com as experiências dos países ocidentais como a proteção dos direitos das mulheres, seguridade social, proteção dos direitos dos trabalhadores e supervisão da imprensa.
A casa do casal Juan fica perto do estádio olímpico "Ninho de Pássaro" e os Jogos Olímpicos de Beijing também foram um tema da entrevista. Como cidadãos de Beijing, como o casal avalia as influências trazidas pelo grande evento esportivo à cidade e a todo o país? Juan disse:
"O mais importante não é a promoção da economia, mas sim o convívio dos diferentes pensamentos, modos de vida durante o curto período quando se realizaram os Jogos Olímpicos. Muitos jovens estrangeiros foram atraídos pelo esporte, eles vieram à China e se comunicaram diretamente com os jovens chineses. Esse tipo de contatos diretos, na minha opinião, beneficiará o crescimento dos jovens chineses."
Em relação ao caminho futuro da China, o senhor Juan Morillo tem sua resposta:
"O Partido Comunista da China resolveu o importante problema de desenvolvimento que os outros países socialistas não resolveram bem. Em um certo momento, a China começou a adotar a economia de mercado, que foi considerada como capitalismo, e o país entrou no caminho de construir um socialismo com características chinesas. E isto já foi aprovado com os sucessos do país. Em relação ao caminho futuro da China, acho que o Partido Comunista da China e os seus líderes devem persistir na reforma e abertura e no desenvolvimento econômico, também nos princípios básicos do socialismo com justiça e igualdade, para garantir que os êxitos já obtidos possam servir à construção de uma sociedade socialista."
Em agradecimento por seus trabalhos, o governo chinês concedeu em 1999 a Juan Morillo o prêmio da amizade. Além do trabalho, Juan ainda aproveita seu tempo livre para escrever livros. Os seis romances dele já publicados não descrevem diretamente o que ele viu e sentiu na China, mas, inevitavelmente, os conteúdos são influenciados pelas suas experiências neste país oriental. Ele disse:
"Dou muita atenção às mudanças acontecidas ao meu redor e dediquei muito tempo para observar e pensar os acontecimentos deste país. O romance que estou escrevendo não descreve a China, mas tem conteúdos sobre o país. Não quero apresentar a China para os leitores, mas mostrar um ponto de vista de um estrangeiro que vive e trabalha na China"
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