Nos últimos anos, está crescendo o número de pessoas que optam pelo tratamento natural, razão pela qual a medicina tradicional chinesa vem sendo procurada por muitos estrangeiros, parte dos quais vem até à China para aprendê-la. O italiano Giuseppe Grosso é um deles.
Giuseppe mantém desde pequeno um forte interesse pela cultura e filosofia oriental. Em 1997, Giuseppe ingressou na Faculdade de Língua Chinesa da Universidade de Roma. Durante seu estudo, descobriu que a medicina tradicional chinesa é uma disciplina que combina a filosofia chinesa e a prática, decidindo assim viajar para a China.
"A medicina tradicional chinesa é bastante procurada na Europa. Eu li alguns livros sobre a ciência quando estudava na Itália. A medicina tradicional chinesa tem como prioridade a natureza, o equilíbrio e a harmonia, além de destacar o caráter preventivo. Na maioria dos casos, ela não provoca efeitos colaterais", diz Giuseppe.
Giuseppe nasceu numa família de médicos. Sua mãe sofreu durante muito tempo de uma dor nas costas, mas não achou cura com os remédios ocidentais. Recorreu então a um médico chinês e se curou completamente após uma série de massagens e sessões de acupuntura.
"Senti que foi uma coisa mágica. Uma agulha de prata curou a doença da minha mãe. Desde então venho guardando um sentimento especial com a medicina tradicional chinesa. Mais tarde passei a conhecer um pouco esta ciência e decidi aprendê-la depois de refletir muito sobre isso", contou Giuseppe.
Em 2000, Giuseppe partiu da sua terra e desembarcou a cidade sulista chinesa Nanning, capital da Região Autônoma da Etnia Zhuang de Guangxi, iniciando seu estudo na Universidade de Medicina Tradicional Chinesa de Guangxi. Apesar de ter estudado chinês por dois anos, Giuseppe disse ter encontrado muitas dificuldades devido à diferença cultural entre o Ocidente e o Oriente. As comunicações com professores foram um dos obstáculos que sentiu.
"Em comparação com os ocidentais, que preferem se expressar de um jeito mais direto, os chineses são mais implícitos. Isso é semelhante à diferença entre duas medicinas. A medicina chinesa tem como prioridade o cuidado, e a medicina ocidental, os efeitos finais. Teorias como os princípios Yin/Yang e os cinco elementos são patentes da medicina tradicional chinesa", disse o italiano.
Segundo Giuseppe, a grande lista de ervas medicinais e o mapa dos pontos de acupuntura lhe deram a maior dor de cabeça no início. O aprendizado demandou um grande esforço de memória. Colocou três mapas dos pontos de acupuntura na parede de casa e procurou decorar os termos específicos de cada ponto. Ele até encontrou um meio interessante para memorizar esses termos.
"Há uma canção popular chinesa que se chama Compêndio de Ervas Medicinais. Estou aprendendo cantar, pois a letra contêm os nomes de muitas ervas medicinais chinesas. É bem interessante".
Giuseppe ficou encantado com a paisagem e os costumes de Guangxi, considerado um "mar de canções". As diversas iguarias locais, as lindas canções folclóricas e as paisagens bucólicas fascinaram o menino italiano.
"Bambu azedo, macarrão de arroz e rolinho primavera são muito saborosos. O preço também não é alto. Gosto muito. Os habitantes de Nanning são hospitaleiros e amigáveis".
Foi graças à medicina tradicional chinesa que Giuseppe encontrou sua namorada Lu Lihua, moça da etnia Zhuang. Giuseppe admitiu que foi amor à primeira vista, mas foi rejeitado no início. Lihua disse:
"Tinha muitas preocupações no início, pois, de qualquer forma, os chineses e os ocidentais mantêm diferenças no jeito de pensar. Eu particularmente sou uma pessoa conservadora e nunca pensei em namorar um estrangeiro. Tinha preocupações com a comunicação", disse a moça chinesa.
Enfim, a medicina tradicional chinesa ajudou Giuseppe. Uma vez, Lihua torceu o pé ao descer a escada. Giuseppe perguntou a seu professor sobre a localização dos pontos no pé que podem acalmar a dor.
"Fiz acupuntura no pé dela usando o conhecimento que tinha acabado de aprender, mas como minha técnica ainda não era madura, ela sentiu tanta dor no pé que chegou a chorar. Voltei a casa naquele dia e fiz teste no meu próprio pé. No dia seguinte, fiz uma nova tentativa no pé dela e ela se sentiu muito melhor. Fiquei muito contente naquele momento", contou Giuseppe.
Impressionada pela sinceridade de Giuseppe, Lihua mudou sua atitude.
"Não imaginava que ele dominaria tão bem a medicina tradicional chinesa. Ele tem uma grande vontade de conhecer a cultura chinesa. Desapareceram então minhas preocupações. Mais tarde fiquei sabendo que ele fez o teste em si próprio", disse a moça chinesa.
Após anos de esforços incansáveis, Giuseppe é agora mestrando do Instituto de Pesquisa da Medicina Tradicional Chinesa de Guangxi. A casa dele é cheia de livros antigos sobre medicina chinesa.
"Os livros antigos sobre a medicina tradicional chinesa são mais caros que os recém-publicados. Gasto neles quase toda a minha poupança".
Giuseppe é cliente assíduo de uma livraria chinesa especializada em medicina em Nanning. Ele fez amizade com o dono, um médico chinês aposentado. Em junho passado, quando Giuseppe fazia 28 anos, o dono deu-lhe de presente um livro antigo sobre teoria básica da medicina chinesa.
O italiano mora em Guangxi há 11 anos. Como estrangeiro, testemunhou as mudanças na região. Para ele, Guangxi tem potencial para se desenvolver e a população local é muito amigável.
"Comparado com Beijing e Shanghai, o ritmo de vida aqui é mais lento. Mas as pessoas guardam sentimentos sinceros entre si. Essas coisas não se adquirem com dinheiro", falou Giuseppe.
Giuseppe aprendeu na China a palavra "harmonia".
"Os chineses gostam muito desta palavra e senti isso logo no primeiro dia que cheguei ao país. Esforcei-me muito para aprender a língua, a cultura e a história do país e conviver com os chineses. Guangxi mudou muito nesses anos. Aqui é a minha segunda casa. Tenho aqui uma vida perfeita, com uma profissão de que eu gosto, um amor e muitos amigos ao lado", contou ele.