"O mais importante no Tai Chi não são as técnicas, e sim a moral do praticante. Antes de aprender esta arte, é preciso moldar a boa virtude. Quando eu era pequeno, tínhamos que seguir os princípios e as regras do Tai Chi, era proibido se apresentar nas ruas e fazer mal aos outros. E depois vem a filosofia, que é semelhante à do ser humano."
Este é Chen Ziqiang, vice-presidente da Escola de Tai Chi em Chenjiagou, na província de Henan, centro da China. Chen Ziqiang é também mestre da 20ª geração da família Chen. Nascido em 1977, Chen aprendeu, ainda pequeno, esta arte tradicional com seu pai, Chen Xiaoxing, Diretor da Escola de Tai Chi. Além de praticar os estilos Antigo e Novo desta arte milenar, Chen Ziqiang também treina com diversas armas exóticas, como, sabre, facão, espada e tuishou, ou seja, o empurre de mãos. Em 1999, Chen Ziqiang ganhou a única medalha de ouro de sua delegação durante o campeonato nacional de Wushu na China. Nos três anos consecutivos, Chen Ziqiang foi campeão na China em diversas modalidades de Tai Chi.
A aldeia Chen Jiagou, terra natal de Chen Ziqiang, é considerada o berço de Tai Chi na China e o santuário dos amantes de Tai Chi de todo o mundo. Localizado em Qing Feng Ling, o Cume Verde do Vento, à beira norte do Rio Amarelo, a aldeia se chamava anteriormente Chang Yang. Durante o império Hongwu, da dinastia Ming entre 1368 e 1644, Chen Bu migrou para esta aldeia. Sua família cresceu rapidamente e chegou a representar 80% da população local. Com as frequentes inundações que formaram três valas na direção sul-norte da vila, a aldeia Changyang passou a chamar Chenjiagou. Chenjia significa a família Chen e gou refere-se às valas. A aldeia possui agora cerca de cinco mil habitantes. Desde que foi criado Tai Chi pela 9ª geração da família, a prática vem se tornando popular entre os residentes de todas as idades. Esta preciosa herança vem sendo transmitida a 20 gerações ao longo de mais de 600 anos. Além da Escola de Tai Chi de Chenjiagou, criada em 1980, a aldeia conta ainda com várias escolas familiares instaladas nas casas dos moradores locais.
Wang Fen, vinda de outro condado de Henan, o condado Bo'ai, é uma das alunas destas escolas residenciais. Com 25 anos, ela já pratica o Tai Ji há sete anos. Wang Fen conheceu o Tai Chi graças a seu pai, fã desta arte tradicional chinesa. O pai pediu a filha que fosse treinar em Chenjiagou durante todas as férias escolares. Mas o começo não foi fácil para esta extrovertida garota que achava que Tai Chi não combinava com ela. Pouco e pouco, quanto mais praticava o Tai Chi, mais alegria e satisfação ela sentia durante os treinos. Desde então, o interesse dela está cada dia maior. Wang Fen disse:
"Tai Chi é uma cultura chinesa. Ele que serve não só para a nossa saúde, mas também para cultivar o nosso espírito. Além disso, ajuda bastante no cotidiano e no trabalho. A maior lição que tirei do Tai Chi é que ele faz o ritmo da minha vida mais lento. Eu era uma pessoa muito impaciente. Depois de treinar o Tai Chi, passei a entender como desacelerar o ritmo do dia-a-dia. E daí, consigo me organizar e pensar melhor."
Graduada em marketing, Wang Fen planeja estudar sinologia e uma língua estrangeira no futuro para poder transmitir a cultura do Tai Chi a todo o mundo.
Tal como Wang Fen, Hu Yingjie é um jovem de 20 anos do sul da China. Hu era dançarino profissional, porém quando foi diagnosticado com espondilite anquilosante, doença inflamatória crônica que afeta a espinha dorsal, teve que abandonar os palcos. Seguindo o conselho de um amigo de seu pai, Hu Yingjie foi para Chenjiagou praticar o Tai Chi. O efeito foi evidente. A partir do momento que começou o Tai Chi, Hu Yingjie percebeu que sua dor diminuía, mesmo sem tomar medicamentos. Segundo ele mesmo quando a dor volta, já é bem menos intensa que antes.
A primeira impressão que este jovem sulista teve sobre Chenjiagou foi a calmaria e a simplicidade do seu povo. Para ele, o maior benefício que teve lá foi a melhora de sua saúde. De um total leigo no Tai Chi para um discípulo desta arte, Hu Yingjie vem percebendo a grandiosidade do Tai Chi e para ele, o Tai Chi é Kongfu da China.
"Tai Chi não serve apenas para ficar mais saudável, mas também defesa pessoal. Por exemplo, o empurrar das mãos é fundamental em uma luta. É super prático."
Para Hu Yingjie, o mais difícil para um jovem se iniciar no Tai Chi é tranquilizar o coração. Mas ele acha que esta arte marcial também pode satisfazer todas as necessidades de um jovem como ele. "Tai Chi não é só para os idosos", disse.
Chong Manhua, é uma senhora com mais de 70 anos. Ela começou a aprender Tai Chi em Chenjiagou desde que se aposentou há dez anos em sua terra natal, Yanzhou, na província de Shandong. Cong confessou que seu objetivo era ficar mais saudável. Semelhante ao caso de Hu Yingjie, ela tem ''água nos joelhos'' e que seu médico havia prescrevido um procedimento de punção para retirar o líquido no local. Não querendo passar por isso, Cong optou pelo Tai Chi. Para a surpresa dela, depois um tempo, o problema desapareceu e seu corpo está cada vez mais forte. Para Chong Manhua, a vida em Chenjiagou é muito tranquila e morar aqui é como se fosse estar em casa. Ela recomendou aos idosos a se exercitarem regularmente e convidou a todos para praticar o Tai Chi. Ela falou:
"Espero que todos tenham oportunidade de praticar o Tai Chi. O treino melhorou minha saúde e gostaria de passar esta mensagem para todo o mundo."
Perguntada sobre as dicas para aprender Tai Chi, Cong Manhua respondeu: tem que treinar duro.
Tai Chi originou-se da família Chen e daí, vem se espalhado e se diversificando em vários estilos como o estilo Yang, o estilo Wu e o estilo Shang. Para o mestre Chen Ziqiang, a maior diferença entre Tai Chi da família Chen e os outros estilos é que no estilo Chen, se mantém o estilo tradicional do Tai Chi, que é o Gongfu.
"O Tai Chi da família Chen tem exercícios não só com o corpo, mas também tem o manuseio de armas como, o facão, a espada e a lança. Os outros estilos costumam ter apenas a espada ou o facão."
Chen Ziqiang visitou Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Itália e Espanha e ensinou os praticantes estrangeiros desta arte. Foram criadas associações de Tai Chi de Chenjiagou em São Francisco nos Estados Unidos, Taiwan e Hong Kong. Em maio deste ano, ele vai visitar o Brasil e trocar experiências e conhecimentos com os praticantes brasileiros.
Sobre o futuro do Tai Chi Quan, Chen Ziqiang expressou:
"O maior desafio que Tai Chi enfrenta, é manter a tradição. Hoje em dia, o ritmo de vida está muito acelerado. As pessoas ficam muito impacientes, inclusive alguns que vêm aqui mal começaram a praticar, e me perguntaram como é que podem adquirir o gongfu. Muitos instrutores acabam satisfazendo os requisitos deles, mas abandonam a filosofia. Esta é minha maior preocupação. Por isso, quando praticamos, devemos ser conscientes de nossa cultura, e tradição. Quando alcançar isso, aí é possível transmitir e herdar o Tai Chi."