Os chineses têm uma longa tradição de tomar chá. A manufatura e os estudos sobre os utensílios para fazer o chá também datam de tempo remoto. No decorrer de séculos, foi comprovado que entre os diferentes tipos de chaleiras, os artigos feitos com Zisha, ou "argila púrpura", são as mais apropriadas para preparar a bebida.
Apesar de ter o nome de "argila púrpura", o Zisha é, de fato, uma rocha que só pode ser encontrada na cidade de Yixing, na província de Jiangsu, no leste da China. E o único local para extrair esse material é a Montanha Huanglong (Dragão Amarelo, na tradução literária) da Vila Dingshu, devido a sua formação geológica. Após os processos de eflorescência, trituração, remoção de impurezas e hidratação, o material estará pronto para o uso. Mas esse processo dura anos, porque a rocha precisa ficar em contato com o ar, a fim de ter boa plasticidade e estabilidade.
Segundo registros históricos, a primeira chaleira Zisha foi feita durante a Dinastia Ming (1368-1644). A cerâmica começou a ser amplamente reconhecida e difundida desde então, inclusive durante a Dinastia Qing (1644 – 1911). Atualmente, os artigos produzidos com Zisha ainda são considerados os melhores para fazer chá.
A Vila Dingshu já tem a fama de "centro internacional de produção de chaleiras". Além de ser a origem do minério, aqui se concentram cerca de 20.000 mestres ceramistas que fazem à mão as chaleiras e outros artesanatos de Zisha. Uma chaleira Zisha de boa qualidade é sempre a combinação perfeita entre a facilidade de uso, beleza estética e valor cultural. Hoje em dia, as peças feitas por mestres podem custar centenas de milhares de yuans.
Diferentemente dos demais artesanatos cerâmicos na China, cada peça de Zisha é modelada manualmente por um único ceramista. Em vez de utilizar torno elétrico de bancada, o corpo de uma chaleira Zisha é modelado somente por batidas delicadas com utensílios especiais e pelas mãos do artesão. Um torno manual é utilizado apenas para facilitar o processo.
Os ceramistas veteranos não precisam de moldes. Utilizam-se apenas de um compasso para tornar as chaleiras bem redondas e refinadas. Depois de estabelecer o corpo, ainda é preciso fazer a tampa, a alça, o bico e outras decorações. Com a estrutura pronta, a chaleira vai secar e depois vai ao forno para ter sua forma final.
As peças não são esmaltadas, pois este tipo de cerâmica tem a propriedade de absorver a fragrância do chá, graças à estrutura porosa de Zisha. Com o uso constante, um tipo de patina se forma na superfície da peça, o que é muito apreciado por degustadores de chá.
Devido a este efeito, de chaleiras que foram usadas por muito tempo pode-se obter chá somente com a água fervente, sem por nenhuma folha. Também por causa disso, é melhor que uma chaleira Zisha só seja usada para preparar um tipo de chá, para não misturar os sabores.
Como já mencionamos, o Zisha possui mais características físicas de uma rocha do que de uma argila. Assim, seu encolhimento durante a secagem e queima é muito pequeno. A vantagem permite aos ceramistas criar desenhos mais elaborados e, o que é muito importante, permite que as tampas se ajustem perfeitamente à peça, evitando que o calor e o aroma do chá escape, e reduzindo a oxidação do mesmo, o que poderia alterar o sabor.