A gastronomia, ou os pratos preparados pelos povos, constituem um dos seus maiores patrimônios, que passa de geração a geração e torna-se símbolo indelével da vida de um povo, uma região ou mesmo um país. A comida está ligada aos aspectos socioculturais da trajetória de um povo, compondo sua identidade com um rico lastro de aromas e sabores.
Falando do Brasil, a primeira palavra que ocorre aos chineses é "futebol"; quanto à China, sua gastronomia tem fama global. Os dois países, que ficam em lados opostos do planeta, falam idiomas absolutamente desvinculados, tando na fonética, quanto na escrita, mas testemunham um desenvolvimento rápido nas relações bilaterais, aumentando, cada vez mais, intercâmbios culturais através da gastronomia e do futebol, atividades universais sem fronteiras.
Para muitos chineses, o maior representante da gastronomia brasileira é o churrasco. Em Beijing, capital chinesa, há várias churrascarias ao estilo brasileiro. No entanto, além do churrasco, os chineses têm pouco conhecimento sobre a culinária verde-amarela.
Para apresentar ao público chinês os sabores e a riqueza da cozinha brasileira, a Embaixada do Brasil na China organizou, no ano passado, a primeira edição do Festival de Comida Brasileira. A atividade fez muito sucesso. Neste ano, como anfitrião da Copa do Mundo, o Brasil se tornou o foco da atenção mundial. Aproveitando a oportunidade, foi realizado em Beijing, em maio, o segundo festival de gastronomia brasileira.
Segundo o Sr. Hayle Gadelha, chefe do Setor de Promoção Comercial e Investimentos da Embaixada do Brasil em Beijing, a China é o maior consumidor de alimentos do mundo e a prioridade como destino de exportação de produtos brasileiros, tipo a cachaça, vinhos brasileiros e café. Gadelha lembra que o festival serve como uma plataforma, para apresentar os produtos brasileiros, disponíveis no mercado chinês.
"As indústrias de alimentos e bebidas fazem parte dos setores econômicos dominantes no Brasil. Portanto, o governo brasileiro tem se dedicado à promoção da exportação dos seus produtos. Desde 2009, a China já se tornou o maior parceiro comercial do Brasil. Através deste festival, esperamos apresentar mais produtos alimentares de boa qualidade para o mercado chinês. Também estou confiante de que o evento será uma boa oportunidade para os chineses conhecerem melhor a cultura e o estilo de vida dos brasileiros."
A ex-ministra conselheira da Embaixada do Brasil na China, Tatiana Rosito, também deu sua opinião sobre a realização do festival. Ela disse:
"Como a arte, a culinária é uma linguagem internacional que ajuda na compreensão mútua e no diálogo entre as pessoas de diferentes raças e origens culturais. Esperamos aumentar ainda mais a amizade e o entendimento mútuo entre os povos chinês e brasileiro através do festival de gastronomia."
Durante o festival gastronômico, foram servidas diversas especialidades brasileiras, tais como, a famosa Feijoada, Moqueca, Bobó de Camarão, Pastel de Rabada e o pato no tucupi, além da caipirinha, bebida tradicional brasileira.
O Hotel The Opposite House, em Beijing, um dos patrocinadores do segundo Festival de Comida Brasileira, forneceu o local para organizar o evento. Gu Tianming, gerente do Departamento de Comunicação do hotel, avaliou assim a comida brasileira:
"Jantei ontem no Village Café do nosso hotel e degustei pela primeira vez os sabores brasileiros. Acho que é muito especial e gostei bastante. A China e o Brasil estão distantes e ficam em lados opostos do planeta. Por isso, há poucas oportunidades de se desfrutar da autêntica cozinha brasileira na China. Falando em culinária brasileira, o que vem à mente da maioria dos chineses é o churrasco ou as frutas tropicais.
Desta vez, os dois chefs brasileiros criaram um cardápio bem saboroso para o festival. Para agradar melhor ao paladar dos clientes chineses, eles também fizeram ajustes no uso dos ingredientes. Estou confiante de que vocês vai ficar com uma boa impressão da comida brasileira depois de prová-la."
O festival de comidas é uma boa plataforma para divulgar a cultura gastronômica brasileira. Porém, o tempo de duração do festival é limitado. Então, qual é o restaurante brasileiro mais autêntico em Beijing? A resposta é, sem dúvida, a Casa Brasil.
Aqui se serve a culinária brasileira, churrasco e café típico.
Aos clientes é permitido degustar as delícias tradicionais do Brasil, como feijoada, pão de queijo, bolinho de arroz e muitos outros.
A Casa Brasil tem como o objetivo promover a cultura do Brasil e a língua portuguesa, bem como fornecer uma plataforma de comunicação entre os brasileiros. O proprietário do restaurante, Daniel Chih, é um empresário de Taiwan. Viveu no Brasil por mais de vinte anos. É também o Supervisor da Filial Brasileira de Taiwan e o vice-presidente da Glória Ocidente.
Desde o ano de 2009, Daniel mudou o foco de seus negócios, focando o comércio entre China e Brasil. Na maior parte do tempo, ele está em Beijing. Sentiu, portanto, saudades da comida brasileira. Por isso mesmo, lhe surgiu a iniciativa de introduzir a culinária tradicional do Brasil na China e abrir um restaurante ao estilo brasileiro autêntico na capital chinesa. Após longo tempo de preparação, seu desejo se tornou realidade em 2010. Ao falar da riqueza da gastronomia brasileira, Daniel deu a seguinte afirmação:
"Os chineses acham sempre que a gastronomia brasileira refere-se ao churrasco. A comida brasileira, realmente, não é só churrasco. O churrasco é típico da comida gaúcha. O Brasil também tem comida carioca, comida paulista, comida baiana, etc. Eu adoro a comida brasileira. Eu instalei a Casa Brasil por causa da minha paixão pelo Brasil e também porque quero mudar um pouco o pensamento dos chineses. Muitos chineses pensam que o churrasco é uma comida de nível baixo, mas, de fato, o churrasco brasileiro tem um nível muito alto. Na China, o churrasco é sempre feito por chineses e não é representa o tradicional do Brasil. Por isso, a gente quer a apresentar comida brasileira original e mostrar que a culinária brasileira é muito boa."
Fernando Chagas é o chef do restaurante Casa Brasil. Nascido em São Paulo, ele formou-se em Gastronomia há cerca de dez anos e tinha trabalhado no Brasil com culinárias de muitos países. Segundo ele, os clientes chineses gostam muito da cozinha brasileira.
"A feijoada é o prato brasileiro mais apreciado pelos chineses. Além disso, eles também pedem salgadinhos, coxinhas, pão de queijo e pastel. A maioria dos clientes chineses que vêm aqui gosta da nossa comida e quer viajar pelo Brasil para conhecer melhor a cultura brasileira. Para mim, a maior conquista como chef na China é fazer mais chineses aceitarem a comida brasileira. Se eles gostarem, eu ficarei muito feliz e sintirei que o meu sonho está se realizando."
Além de fornecer as delícias brasileiras, a Casa Brasil também tem se dedicado às atividades de solidariedade. Doa todo o lucro de um dos dias do mês às pessoas que tenham necessidades especiais. Fernando Chagas explicou:
"Realizamos, no último sábado de cada mês uma atividade de caridade chamada do Dia de Solidariedade da Casa Brasil. Doamos toda a receita desse dia para crianças com câncer ou outras doenças. Também compramos os materiais para os alunos que não têm condição econômica para estudar na escola. Para mim, dar ajuda a quem precisa é sempre bom, sendo uma ação do fundo do coração."
Quanto aos planos para o futuro, o dono da Casa Brasil, Daniel Chih, afirmou que pretende abrir filiais em outras cidades chinesas.
"A Casa Brasil está estudando agora um programa de expansão. Pretendemos abrir mais filiais do restaurante em outras grandes cidades chinesas, como Shanghai e Guangzhou. O plano já está na mesa para ser discutido. O meu sonho é que, em todos os cantos da China, haja uma Casa Brasil."
A culinária é o melhor e mais saboroso modo para se apresentar uma cultura. Com o aumento da cooperação e intercâmbios entre China e Brasil, os povos dos dois países terão uma compreensão mais profunda do outro através dos deliciosos sabores.