Zhoukoudian é uma pequena aldeia situada a cerca de 50 quilômetros ao sudeste de Beijing, capital da China. No monte Longgu, perto da aldeia, há uma caverna natural com cerca de 140 metros de comprimento. Foi nessa gruta que se descobriram os vestígios do Homem de Beijing.
"Ossos de dragão"
Não se sabe desde quando as gerações e gerações dos habitantes locais começaram a escavar os "ossos de dragão", fósseis de animais da antiguidade, e vendê-los como recursos medicinais. Em 1921, os "ossos de dragão" despertaram a atenção de dois estudiosos estrangeiros, o geólogo sueco J. G. Andersson e o paleontólogo austríaco O. Zdansky. Na escavação experimental que fizeram em Zhoukoudian, eles encontraram fósseis animais e pedaços de quartzo branco com fios. Entre 1921 e 1923, novas escavações revelaram dois fósseis de dentes humanos, que não foram imediatamente identificados. A informação só veio a público quando divulgaram a descoberta em 1926. Em 1927, uma equipe composta de arqueólogos chineses e estrangeiros chegou a Zhoukoudian para uma escavação de grande envergadura. No mesmo ano, foi encontrado mais um dente humano bem preservado. O Homem de Zhoukoudian foi chamado Sinanthropus Pekinensis. Depois, com uma retificação da nomenclatura, recebeu o nome Homoerectus Pekinensis. Mas o nome mais usado até hoje é o "Homem de Beijing".
Descobertas
Dia 2 de dezembro de 1929, o arqueólogo chinês Pei Wenzhong descobriu na caverna um crânio humano completo. A notícia se espalhou rapidamente e despertou ampla atenção dos estudiosos. Pouco depois, ferramentas de pedra e de osso, assim como vestígios de fogueiras, foram descobertos na mesma localidade, atraindo a atenção mundial para o sítio arqueológico do Homem de Beijing.
Em novembro de 1936, após 11 dias de escavações sucessivas, foram encontrados três crânios humanos. Em 1937, a guerra de resistência à agressão japonesa eclodiu em todo o país e o trabalho de escavação foi interrompido.
No final de 1941 quando da eclosão da Guerra do Pacífico, os cinco crânios humanos, assim como outras amostras, desapareceram misteriosamente no processo de traslado e nunca mais se teve notícia deles. O Museu do Sítio Arqueológico de Zhoukoudian conserva atualmente um único crânio humano antigo. Este foi reconstruído com vários pedaços de ossos, que pertenciam a um mesmo indivíduo, mas escavados em diferentes períodos.
Depois da fundação da República Popular da China em 1949, realizaram-se várias escavações em Zhoukoudian. Elas obtiveram fósseis de ossos da face, membros e dentes, representando mais de 40 homens de Beijing, além de 100 mil artefatos de pedra acabados ou semi-acabados, peças de osso e peças de chifre, bem como fósseis de mais de 100 espécies de animais e os vestígios do uso de fogo.
Importância das descobertas
A grande atenção dada ao sítio arqueológico do Homem de Beijing deve-se ao fato de que elas forneceram provas científicas para os estudos da origem e da evolução da humanidade.
O Homem de Beijing pertence ao homo erectus e se encontrava numa importante fase do processo de evolução do macaco para o homem. Os fósseis humanos dessa fase são raridades em todo o mundo, razão pela qual o sítio arqueológico em Zhoukoudian é, na atualidade, um dos mais ricos acervos de fósseis humanos desse período. A descoberta do Homem de Beijing esclareceu a árvore genealógica da humanidade e proporcionou fundamentos científicos para a doutrina sobre a evolução do macaco para homem.
Depósito arqueológico
No sítio do Homem de Beijing, há um depósito arqueológico de mais de 40 metros de espessura. Nele, há 13 camadas sobrepostas de fósseis, de acordo com os resultados de pesquisa dos estudiosos.
A parte inferior dos depósitos é uma camada mista de areia e seixos que se formou, segundo as pesquisas científicas, durante um período frio, e confirmou o fato de que a região tinha passado por um período de climas frios antes da chegada do homem de Beijing.
Por cima da camada de areias e seixos, há uma camada em lama avermelhada, prova da existência de um curso d'água. Na lama, foram encontrados alguns utensílios de pedra. Como não se acharam vestígios humanos, ficamos sem saber quem teriam sido os donos dos utensílios.
As grutas eram habitadas por hienas que se extinguiram na China, em diferentes épocas, porque em diferentes camadas de depósito há camadas de fezes do animal, que tinha o hábito de defecar em recintos fixos.
Depois das hienas, o Homem de Beijing tornou-se o dono das grutas. No chão das grutas há a presença de seus vestígios - ossos de animais por eles abandonados, utensílios de pedra e ossos - assim como vestígios do uso de fogo.
A pesquisa científica demonstra que o Homem de Beijing vivia entre 500 e 200 mil anos atrás. Não permaneciam nesta região, porque nas camadas de fezes de hiena e de areia, não se encontraram os restos humanos nem muitos vestígios culturais. Um grupo de homens de Beijing viveu aqui por um período. Nômades, partiam por motivo da falta de alimentação ou da mudança climática. Depois, outro grupo de seres humanos se instalou aqui.
Segundo cálculos de paleontólogos, há 500 mil anos, cerca da metade dos homens de Beijing não completavam 14 anos de idade, devido às severas condições de sobrevivência. Sua aparência tinha traços do macaco e do ser humano, por isso são chamados de homem-macaco. O volume cerebral equivale a cerca de 80% do homem moderno. Ainda assim, muito maior que o do macaco comum. O volume cerebral do macaco moderno é de cerca de 40% do Homem de Beijing. O Homem de Beijing tinha os membros superiores desenvolvidos, era capaz de fazer trabalhos manuais e já podia andar ereto sobre os membros inferiores um pouco curvados.
Também nas grutas, foram descobertas quatro camadas de cinzas de superfície e espessura relativamente grandes. Nelas, arqueólogos encontraram pedaços de osso e madeira queimados. Daí, entenderam que o Homem de Beijing já sabia usar o fogo para cozinhar as caças e resistir ao frio.
Em 1987, o sítio arqueológico do Homem de Beijing em Zhoukoudian entrarou na lista dos patrimônios culturais mundiais.