Zhan Yongqiao, um chinês que vive em Portugal, gosta de construir pontes. Não pontes fixas, de concreto ou de aço, mas pontes de amizade entre os países, especialmente agora que a economia chinesa precisa de elos de ligação com outros países. Nascido em Zhejiang, na China e morando em Portugal desde os 19 anos, ele quer servir de intermediário e de elo de ligação no comércio entre a China, Portugal e Angola.
A imagem da ponte, que Zhan tanto preza, foi reforçada durante a visita do primeiro-ministro português, José Sócrates, em sua visita oficial de cinco dias à China, no fim de janeiro e início de fevereiro. Nessa ocasião, ele afirmou que "Portugal é a ponte para a África". Zhan estava na China na época dessa afirmação, procurando parceiros para investir nessas pontes.
Posição de Portugal
Em entrevista exclusiva à Xinhua, ele disse que a China é um país em rápido desenvolvimento e que o primeiro-ministro português deseja levar empresas chinesas para Portugal, e também, para Angola. Por outro lado, espera que a China possa receber mais empresas portuguesas.
Zhan é o presidente da Associação Amizade Intercâmbio Cultural Portugal-China (AAICPC) e também presidente do Centro de Distribuição e Negócios Luso-Chinês e Centro Park Industrial Ango-Sino LDA. A associação que dirige foi estabelecida em 2003, com o apoio da embaixada chinesa em Portugal e visa fortalecer a comunicação e os intercâmbios políticos e empresariais entre Portugal e a China.
Desde então, a Associação intermediou diversas visitas políticas e comerciais, além de projetos de investimento à China. Incentivado pelas políticas do governo chinês, Zhan está querendo levar mais projetos para o oeste da China onde existe maior espaço de investimento.
Ele fala sobre a posição privilegiada de Portugal para facilitar esses intercâmbios e cita, particularmente, as relações atuais e passadas dos portugueses com Angola. "Se Portugal quiser desempenhar esse papel de ponte de ligação, sua força é inegável," afirma ele, pois nesse país africano "os costumes, religiões são semelhantes aos de Portugal. E o mais importante: Angola é um país de língua portuguesa, o que favorece a comunicação com Portugal."
E o mercado angolano atual? De acordo com ele, a construção de infra-estruturas já conta com a participação de empresas chinesas, mas a maior parte do setor de construção ainda é controlada por grandes companhias portuguesas. "O impacto português na história do país explica em parte essa realidade", diz Zhan.
No seu ponto de vista, Angola é um enorme mercado potencial para os empresários chineses. Considerando essa situação, Zhan planeja aproveitar as vantagens de Portugal e as oportunidades comerciais neste país africano, para ajudar a aumentar a participação das empresas chinesas nos mercados portugueses e angolanos.
Centro de Distribuição
"Estamos criando um centro de distribuição de materiais de construção da China em Lisboa," destaca Zhan. O projeto, realizado em parceria com um empresário português, visa estabelecer em Portugal uma plataforma de distribuição de materiais de construção chineses. A partir dessa base, esses produtos chineses poderão entrar mais facilmente nos países europeus e nos países africanos de língua portuguesa, particularmente Angola. Estão sendo escolhidas 150 empresas do setor nas províncias de Zhejiang, Fujian e Guangdong, e na cidade de Shanghai, onde a indústria se desenvolve melhor.
Zhan explica que com a reconstrução pós-guerra civil em Angola, a procura de materiais de construção se torna cada dia maior. Geralmente, Portugal é o primeiro mercado escolhido pelos angolanos. O segundo é a África do Sul, o Brasil e Dubai se colocam respectivamente no terceiro e quarto lugar, enquanto a China está no quinto lugar. "O nosso plano vai apresentar diretamente os produtos chineses aos consumidores de Angola."
"A qualidade é o primeiro requisito dessa seleção e o segundo, o preço," destaca Zhan. "Não podemos buscar interesse comercial sem levar em consideração a imagem da China. No passado, alguns produtos chineses prejudicaram a imagem de nosso país. Mas hoje é diferente. Devemos melhorar os níveis de todos os aspectos da China e os produtos constituem um elemento a ser considerado."
Segundo Zhan, o mercado interno chinês de materiais de construção amadureceu, estando a demanda atendida e a competição, agora, concentra-se no preço. Devido a isso, diz ele que os produtores devem pensar nos mercados estrangeiros, onde há espaço de desenvolvimento.
Com experiências no setor imobiliário em Angola, Zhan tem bastante conhecimento sobre as necessidades dos materiais de construção nesse país africano de língua portuguesa. "Construímos cada ano 300 vilas em Angola, havendo, sempre, uma forte demanda dos materiais de construção."
O centro de distribuição em Lisboa, que está sendo projetado, divide-se em três partes: um armazém de 23 mil metros quadrados, um escritório de 1.616 metros quadrados e um parque de estacionamento com 250 lugares. O projeto, conforme Zhan, beneficiará também a parte portuguesa, "poderá oferecer empregos aos portugueses. E claro, haverá reflexos positivos na área tributária."
Com esse projeto, ele espera ocupar uma parte considerável do mercado de materiais de construção de Portugal, Espanha e Angola, aproveitando o máximo possível a posição de Portugal.
Para desempenhar melhor o papel de ponte de ligação no setor comercial, Zhan acha que Portugal ainda precisa de mais esforços, por exemplo, apoios governamentais e a divulgação de conhecimentos sobre a China. No seu entender, investidores pessoais são limitados em muitos aspectos. Dai a necessidade de apoio governamental. "Especialmente na promoção de produtos, indica ele, "vamos ser mais sucedidos com o apoio governamental."
"Acho que a porta da China sempre está aberta para Portugal, se forem fortalecidos o apoio do governo português e os conhecimentos dos portugueses sobre a China, o acesso ao país será mais fácil e o papel de ponte de ligação entre a China e os países lusófonos será mais forte," concluiu ele.
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