A companhia siderúrgica Nanjing Iron & Steel Group da China (NISCO, na sigla em inglês) assinou em setembro passado para a venda de créditos de carbono para o Banco Mundial (Bird, na sigla em inglês) - em nome do Italy Carbon Fund (ICF). Em troca, a NISCO obteve a tecnologia e a assistência financeira necessária para desenvolver o projeto de reciclagem do gás carbônico gerado pelo conversor do aço. Os investidores italianos, por outro lado, receberão as cotas referentes às emissões de 650 mil toneladas durante a próxima década. Segundo o diretor do Departamento de Desenvolvimento da NISCO, Liu Yuejin, o sistema recuperará o gás do conversor (LDG, na sigla em inglês) produzido pelos dois conversores durante o processo de fundição do aço e utilizará o gás para a geração de eletricidade. Ao mesmo tempo, a eletricidade será empregada para resolver parcialmente a necessidade de consumo da empresa, reduzindo as emissões de dióxido de carbono. Ele disse:
"O projeto poderá trazer à empresa uma receita extra de 32 milhões de yuans, pois o gás poderá gerar 150 milhões de quilowatts-hora por ano. A iniciativa serve de bom exemplo para todo o setor", declarou.
Este é o primeiro projeto que visa elevar a eficiência da utilização de energia industrial aprovado pelo governo central dentro das perspectivas oferecidas pelo Protocolo de Kyoto. Conforme o acordo, entre 2008 e 2012, os 35 países mais industrializados do planeta deverão reduzir suas emissões em 5,2% frente aos respectivos níveis registrados em 1990. Como o Protocolo de Kyoto não limitou as emissões dos países em desenvolvimento, e considerando os altos custos da redução das emissões dos países industrializados, a comunidade internacional estabeleceu um mecanismo que permite a transferência das cotas das emissões das economias em desenvolvimento ? sob a forma de créditos de carbono - para as economias altamente industrializadas.
O acordo também prevê o repasse de ajuda financeira e tecnológica por parte dos países industrializados para os países em desenvolvimento. O objetivo é promover projetos que reduzam as emissões responsáveis pelo gás estufa, enquanto adquirem os créditos de carbono.
De acordo com o XI Programa Qüinqüenal (2006 ? 2011), a China se propôs a reduzir o consumo de 20% da energia necessária para gerar uma unidade do Produto Interno Bruto (PIB) até 2010 frente a 2005. As transações com os créditos de carbono correspondem a esta meta. Para os analistas, a iniciativa ajudará o país a superar o gargalo energético e a manter o seu ritmo de desenvolvimento. Por isso, um número crescente de empresas chinesas está apostando na comercialização desses créditos. Segundo os dados divulgados pela Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento (NRDC, na sigla em inglês), mais de 120 projetos em torno do "desenvolvimento limpo" estão em andamento no País. Juntos, eles envolvem a redução de 600 milhões de toneladas de gás tóxico em emissões. O valor estimado desses créditos no mercado é superior a US$ 3,5 bilhões.
Na opinião do vice-diretor do Departamento do Meio-Ambiente Global do Ministério da Ciência e Tecnologia, Lv Xuedu, os players internacionais que apostarem do mercado de carbono vão se deparar com outras oportunidades.
"A busca da eficiência energética, de novas fontes de energia renovável e a reutilização de gases tóxicos, por exemplo, podem atrair os investidores".
O acordo convencional reza que as empresas dos países em desenvolvimento receberão US$ 10 por cada tonelada a menos de emissão das empresas que atuam em áreas similares nos países altamente industrializados. Além disso, segundo o Bird, até setembro deste ano, os países asiáticos responderam por 84% das transações com crédito de carbono, liderados pela China.
Apesar do potencial nacional, a concretização desses projetos dependerá de grandes esforços. Segundo os órgãos afins da ONU, a formulação de um projeto para a redução das emissões é dividido em seis fases: estudo de viabilidade; elaboração do documento de formato específico; aprovação do governo nacional; certificação de um órgão independente; assinatura do acordo de venda e divulgação do contrato no site da ONU. O processo, segundo os analistas, tende a consumir dois anos de trabalho. As iniciativas podem fracassar, caso as empresas envolvidas nas transações dos créditos não estejam devidamente informadas sobre o processo e o grau das exigências internacionais.
O vice-diretor do Centro de Mecanismo de "Desenvolvimento Limpo" da Província do Sichuan, sudoeste da China, Sun Gaofeng, salientou que a popularização do teor do acordo e dos mecanismos de operação do mercado de carbono junto às empresas nacionais é muito importante:
"As transações exigirão a participação de muitas empresas de consultoria. Isso dificulta a popularização desses projetos".
As províncias de Sichuan, Shandong e Jiangsu já contam com centros especializados no mercado de carbonos que operam junto ao Bird e a outras organizações e entidades internacionais afeitas ao assunto para a obtenção de verbas e assistência técnica.
A venda de crédito de carbono por parte das economias em desenvolvimento ainda não está assegurada após 2012. A questão está sendo discutida no contexto da segunda etapa de negociações do Protocolo de Kyoto. Independentemente do resultado dos diálogos, no entanto, a China continuará apostando numa política de desenvolvimento sustentável, além de contribuir para a contenção das mudanças climáticas.
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