Muito pouco afetada será a importação de artigos de luxo pelo novo sistema tributário adaptado pela China, sendo que a parcela da população com melhor condição financeira não se incomodará em pagar um acréscimo por um artigo com preço já exorbitante.
No dia 1 de abril deste ano, o Ministério de Finanças e a Alfândega Geral reformaram a lista de produtos considerados de luxo - aos quais é adicionado um tributo especial, assim como o valor de imposto aplicado.
À lista de produtos de luxo são somados os tacos e bolas de golfe, os relógios de alta gama, iates, palitos de madeira descartáveis e lâminas para o piso de madeira. Já os produtos cosméticos destinados ao cuidado da pele e o xampu foram excluídos.
O leque de produtos considerados de luxo tem assistido a uma mudança radical na China nas últimas décadas. Se na década de 80, um gravador de fitas sem maiores pretensões recebia a classificação de produto de luxo, na atualidade, até as marcas de melhor qualidade são classificados como eletrodomésticos comuns.
Algo similar ocorreu com celulares. Dez anos atrás eram sinônimos de alta posição econômica; hoje, no entanto, centenas de milhares de adolescentes urbanos possuem celulares.
Quem tem condições de adquirir mercadorias de alta categoria, como no caso de iates de luxo, terá de pagar por isto, assinalou o Dr. Gao Qinghui, diretor do Departamento de Gestão Estratégica do Centro Estatal de Informação. Gao acrescentou que o reajuste demonstra sua função como regulador das desigualdades na distribuição da renda do país.
"O tributo será redistribuído, em benefício aos grupos mais desfavorecidos da sociedade", realçou.
Quem possui renda moderada, mas tem hábito de comprar produtos mais caros, será o mais afetado pelo novo sistema tributário de consumo. Enquanto a população com renda menor apenas adquire produtos que são de necessidade básica, o setor que acumula mais capital não economiza nos gastos desnecessários.
Como exemplo, a afirmação da esposa de um magnata imobiliário: "Cem mil yuans (US$ 12,500) é uma quantia insignificante para mim".
O novo reajuste afetou, do mesmo modo, os automóveis, os derivados do petróleo, palitos descartáveis e madeiras para o piso, prevendo-se, além disso, um impacto positivo para a proteção do meio-ambiente e o uso eficiente dos recursos na China.
O imposto ao consumo se aplica em escala nacional, de modo a não haver problemas com as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Os principais impostos ao consumo na China são aplicados nas fases de processamento e fabricação, por isso as grandes firmas estrangeiras preferem se estabelecer fora do país, para economizar boa parte dos gastos.
Sobre isto, o presidente do Grupo Moet Hennessy- Louis Vuitton (LMVH), Yves Carcelle, sustenta que a China é um continente novo para os fabricantes de marcas de luxo, que assistem a uma queda de vendas na Europa.
Ao seu entender, a nova política impositiva não afetará necessariamente o poder aquisitivo no mercado chinês, assim como em quase todas as empresas de produtos de luxo instaladas no país.
Carcelle previu que a China será em breve o maior mercado mundial de artigos de luxo.
"Graças a uma economia em expansão total, a China é um fator vital para a estratégia de desenvolvimento mundial da companhia", manifestou Carcelle.
Sob seu ponto de vista, o mercado chinês de marcas de luxo tem progredido mais rápido do que poderia ser imaginado, com consumidores ávidos e, além disso, capazes de adquirir os produtos mais elaborados, com uma forte consideração pelas últimas tendências da moda.
Num informe, a Empresa Financeira BNP Prime Peregrine concluiu que a China ainda se encontra na etapa inicial no consumo de produtos de luxo.
O estudo indica, da mesma maneira, que o número de famílias incorporadas ao conceito de classe média alcançará 100 milhões nos próximos seis anos, com um capital médio de 620 mil yuans (US$ 77,5 mil) por família.
O surgimento da classe média aumentará no futuro a taxa de consumo na China, de 58% registrado em 2002 para 65% em 2010, e até 71% em 2020, nível próximo ao dos países desenvolvidos.
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