A Câmara de Comércio Americana para o Brasil promoveu na semana passada um seminário sobre o comércio bilateral entre o Brasil e a China. O embaixador da China no Brasil, Chen Duqing, participou como convidado especial do evento. Ele analisou as relações comerciais sino-brasileiras.
"Falando das relações bilaterais, realmente sou bastante qualificado para falar. Iniciai minha carreira com assuntos do Brasil dentro do Ministério das Relações Exteriores da China. Em 1974, fui integrante da primeira missão oficial que veio ao Brasil. No dia 15 de agosto do mesmo ano, foi firmado um acordo, daí, começaram as relações diplomáticas entre a China e o Brasil. No início, não havia condições para o desenvolvimento rápido das relações, porque naquele momento, o Brasil estava numa situação difícil em termos de diplomacia, e a China estava na Revolução Cultural que era um cão total. Mas o então ministro das Relações Exteriores do Brasil António Silveira disse que a China e o Brasil são dois gigantes, vamos caminhar com certa lentidão, mas com passos firmes, pode-se descansar um pouquinho, mas não para. Realmente, foi isso que descrever bem a situação do desenvolvimento das relações bilaterais daquela época."
Em 1993, durante a visita do então primeiro-ministro chinês ao Brasil, os dois países estabeleceram a parceria estratégica, o que era uma marca histórica e empurra o desenvolvimento das relações bilaterais. Mas naquela altura, muitos brasileiros tinham dúvídas a decisão do governo brasileiro. O embaixador Chen disse o seguinte:
"Muita gente estava duvidando se existiria a necessidade de fazer isso com a China. Até alguns achavam que fazer a parceria estratégica com a China seria uma ilusão. Não é. A China não tem nada de conflito com o Brasil, os dois países compartilham das mesmas posições no cenário internacional. A China e o Brasil têm o mesmo papel a desempenhar em todo o mundo, isso é uma coisa real".
Na opinião do Chen, a parceria estratégica vem beneficiando e beneficiará o desenvolvimento dos dois países. Ele apresentou dois fatos. Em primeiro lugar, a China tem um projeto cooperativo muito importante com o Brasil que é do satélite de sensoriamento remoto. O Brasil nunca conseguiu fazer este tipo de projeto nem com a França, nem com Estados Unidos, porque é uma área sensível. E a China está mais avançada neste setor. Com a parceria estratégica, esse projeto se iniciou vários anos atrás. E agora, dois satélites já foram lançados, e as duas partes estão pensando em lançar o terceiro e o quarto. Talvez em um dia do futuro, os dois podem pesquisar juntos até um satélite de telecomunicações. O segundo fato é que as visitas de alto nível entre os dois países se tornaram muito freqüentes. Apenas este ano, foi para a China o vice-presidente brasileiro, José Alencar e durante a sua visita, foi criada a alta comissão das relações bilaterais que vai coordenar todo o tipo de cooperações entre os dois países. E no fim de setembro, o presidente da Comissão Permanente da Assembléia Popular Nacional da China, Wu Bangguo, realizou um visita ao Brasil, ocasião em que foi firmado um acordo importante de compra de cem aviões da empresa brasileira.
Com a elevação das relações sino-brasileiras a um novo patamar e a freqüente troca de visitas entre dirigentes de alto nível dos dois países, o comércio bilateral registrou um rápido crescimento nos últimos anos e também apresenta uma boa perspectiva de aumento. De acordo com estatísticas, até final de setembro deste ano, o comércio bilateral entre a China e o Brasil atingiu US$ 14,8 bilhões, superando o volume total do ano passado. Os especialistas prevêem que o comércio sino-brasileiro seja capaz de ultrapassar US$ 20 bilhões.
Atualmente, um número crescente de produtos chineses pode ser encontrado no mercado brasileiro como brinquedos, eletrodomésticos, vestidos, etc. Porém, os produtos brasileiros continuam ausentes do mercado chinês. As exportações continuam pautadas por matérias-primas como minério de ferro, soja, etc. Chen apresentou uma sugestão aos empresários brasileiros:
"O Brasil tem muitas coisas boas, só que saber fazer marketing, fazer divulgar, eu disse que você tem coisa muito bonita, mas não divulga, acho que o Brasil tem coisas boas. Isso é máximo. Se você estiver querendo comprar, você vem ao Brasil. Mas agora não é isso, não é mercado do vendedor, é mercado do comprador."
No fim do seu discurso, o embaixador Chen Duqing manifestou o seu desejo sobre o desenvolvimento dos dois países. Ele disse:
"Espero que os dois países continuem trabalhando juntos, sobretudo, os nossos dois empresariados, de mãos dadas, fazem esses dois países progredir mais para frente, isso é mais importante."
|