A pequenina cidade finlandesa de Vantaa, de 243 km² e localizada na área metropolitana da capital Helsinque, ganhou notoriedade no automobilismo mundial em 25 de setembro de 1968. Foi neste dia que nasceu Mika Pauli Hakkinen, que três décadas depois se tornaria bicampeão da Fórmula 1 e impediria que a McLaren caísse no ostracismo após perder os inquestionáveis Ayrton Senna e Gerhard Berger na primeira metade da década de 1990.
O gosto de Hakkinen pela aventura começou cedo. Logo aos cinco anos, empolgado após ver um circo passar por sua cidade, passou a treinar acrobacias. Só que foi aos seis anos, quando ganhou seu primeiro kart, que descobriu sua maior paixão: a velocidade. O jovem Mika disputou sua primeira competição oficial aos dez anos, no Campeonato Regional de 1978. Dois anos depois faturou seu primeiro troféu, no Campeonato Finlandês de Minisséries.
Apaixonado pelo primeiro lugar do pódio, Hakkinen conquistou pelo menos um título por ano entre 1982 e 1988, o que lhe rendeu uma vaga no ano seguinte na Fórmula 3 inglesa, pela Dragon-Toyota. Após terminar no sétimo lugar da temporada de estréia, migrou para a favorita West Surrey Racing/Murgen-Honda em 1990, onde conquistou o título com 126 pontos em 17 Grandes Prêmios, com nove vitórias e 11 pole positions.
A carreira meteórica nas categorias de acesso fez com que o finlandês recebesse o convite da Lotus em 1991 para disputar a Fórmula 1 já como piloto titular. Em sua primeira temporada, terminou no 16º lugar com dois pontos graças ao quinto lugar conquistado em Ímola. Apesar do carro pouco competitivo, terminou o ano de 1992 na oitava colocação com 11 pontos, conquistando dois quartos lugares (França e Hungria), um quinto (Itália) e três sextos (México, Inglaterra e Bélgica).
Hakkinen, então, foi promovido a piloto de testes da grande McLaren, que contava com o brasileiro Ayrton Senna e o norte-americano Michael Andretti, substituto de Berger (que migrara para a Ferrari). Andretti, porém, decepcionou e foi demitido do time britânico a três corridas do fim da temporada. O finlandês estreou no GP de Portugal, quando abandonou. Na prova seguinte, no Japão, terminou em terceiro lugar (atrás do vencedor Senna e do francês Allan Prost) e pela primeira vez subiu ao pódio.
Em 1994, Senna deixou a McLaren e acertou pela Williams (que seria a sua última equipe). Hakkinen, então, se tornou o piloto número 1 da equipe, ao lado do inglês Martin Brundle. Hakkinen foi o quarto piloto da temporada com 26 pontos e seis pódios, com um segundo lugar na Bélgica e cinco terceiros, em Ímola, Grã-Bretanha, Itália e Portugal e Europa. À frente do escandinavo terminaram o alemão Michael Schumacher (então na Benneton), o inglês Damon Hill e Berger.
Acostumada a ganhar títulos, a McLaren não havia vencido nenhum Grande Prêmio desde Interlagos-1993, com a vitória de Senna. Hakkinen, embora tivesse ficado com os segundos lugares dos GPs de Itália e Japão, queria uma vitória em Melbourne, a última corrida da temporada, para ter tranqüilidade em 1996. Mas não foi bem isso o que aconteceu no fatídico sábado de 10 de novembro.
Restavam cerca de 50 minutos para o final do treino oficial, quando Hakkinen entrou na pista para fazer sua primeira volta rápida. O pneu traseiro esquerdo do conjunto não resistiu ao abuso cometido pelo finlandês e acabou estourando como uma bomba. O piloto e seu carro desgovernado colidiram contra o muro, a mais de 200 km/h. A fileira de pneus, colocada para proteção, pouco amenizou o impacto.
A equipe médica não demorou retirar o finlandês do carro. Durante o choque, Hakkinen bateu a cabeça no concreto e, ainda no autódromo, precisou ser submetido a uma traqueostomia. Ficou em coma durante dois dias, entre a vida e a morte. Um mês depois, saía da UTI e se preparava para a disputa da temporada 1996.
Ainda com seqüelas do grave acidente sofrido (tinha a boca torta e não conseguia piscar o olho direito), Hakkinen superou o trauma na Austrália, a primeira corrida do ano, e terminou na quinta colocação. Só que a temporada não foi nem um pouco gloriosa para Hakkinen, que terminou com 31 pontos a competição com direito a quatro terceiros lugares (Grã-Bretanha, Bélgica, Itália e Japão). Seu companheiro de equipe, o escocês David Coulthard, terminou em sétimo com 18, mas obtendo um vice em Mônaco.
O ano de 1997 começou ruim para Hakkinen, que viu Coulthard se destacar e encerrar o jejum de mais de três anos sem vitórias da McLaren ao vencer o GP da Austrália, na abertura da temporada, e o da Itália. O finlandês, por sua vez, havia conquistado os modestos terceiros lugares também na Austrália e na Alemanha. Mas as coisas começaram a mudar em 26 de outubro.
Hakkinen havia conquistado apenas a quinta colocação do grid de largada para o Grande Prêmio da Europa, em Jerez. Beneficiado por um toque entre Schumacher e o canadense Jacques Villeneuve, o finlandês conseguiu assumir a primeira colocação e vencer a sua primeira corrida na F-1. Além disso, a McLaren obteve a dobradinha com Coulthard em segundo. Foi o prenúncio de uma época vitoriosa para a equipe inglesa, que passou a ser apontada favorita para o ano de 1998.
Coube a Hakkinen converter o favoritismo em troféus: nas seis primeiras provas, 46 pontos e quatro vitórias. A seqüência de triunfos se estenderia aos GPs de Áustria. Alemanha, Luxemburgo e Japão. Ninguém parecia capaz de parar a Flecha de Prata
No final, os números não deixaram dúvidas sobre a façanha do finlandês: foram 100 pontos (14 a mais que Schumacher), oito vitórias e 12 poles. Mais: levou a McLaren ao título de construtores.
Em 1999, Hakkinen não foi tão arrasador, mas mesmo cometendo verdadeiras grosserias com sua potente McLaren, não deixou escapar o bicampeonato, porque Schumacher quebrou a perna após sofrer um acidente em Silverstone e ficou de fora de sete GPs. A disputa pelo título da temporada ficou entre Hakkinen e o irlandês Eddie Irvine.
Na Malásia, a maior polêmica do ano: Irvine venceu, com Schumacher em segundo, abrindo quatro pontos de vantagem sobre Hakkinen. Horas depois, fiscais encontraram irregularidades nos dois carros da Ferrari e apontaram o finlandês, terceiro colocado, ganhador da prova.
Travou-se uma grande batalha nos tribunais. A Ferrari conseguiu impugnar a decisão dos fiscais e Hakkinen precisava vencer em Suzuka para ficar com o título. Com frieza, o finlandês fez a pole e ganhou a prova de ponta a ponta, conquistando o bicampeonato da categoria. Ele acabava de se tornar o oitavo piloto da história a conquistar dois títulos mundiais.
No final, Hakkinen somou 76 pontos, contra 74 de Irvine. Foram seis vitórias: Brasil, Espanha, Canadá, Hungria e Japão, além de 11 poles. Números que arrancaram elogios até do rival Schumacher. "O Hakkinen é um bicampeão com todos os méritos. Soube se recuperar do início ruim e mostrou concentração incomum em Suzuka", disse, na época.
Em 2000, porém, Schumi voltou com tudo e, com o apoio de seu novo parceiro, o brasileiro Rubens Barrichello, venceu nove GPs e faturou o título da temporada. Mika foi o segundo, com 89 pontos e quatro primeiros lugares (em Espanha, Áustria, Hungria e Bélgica).
Uma temporada depois, Hakkinen não teve um bom desempenho no começo da temporada, abandonado quatro das sete provas iniciais. Sua primeira vitória veio apenas no 11º GP, em Silverstone. Em 30 de setembro, dois dias depois de seu 33º aniversário, o finlandês venceu a disputa de Indianápolis, nos Estados Unidos. Foi seu último triunfo na F-1.
O nórdico terminou a temporada de 2001 na modesta quinta colocação com apenas 37 pontos. Schumi faturou o título com 123 e uma esmagadora vantagem sobre Coulthard, vice com 65. Rubinho conseguiu 56, enquanto Ralf Schumacher, da BMW/Williams, obteve 49. Depois de uma má temporada, Hakkinen decidiu se afastar da F-1 em 2002 e acabou substituído pelo compatriota Kimi Raikkonen.
Se era para ser um ano de descanso para Hakkinen, 2002 foi o em que o finlandês ratificou a sua aposentadoria. Era o fim da carreira de 165 GPs disputados, com 20 vitórias, 51 pódios e 26 poles.
Embora tivesse planos de voltar em 2005, não chegou a um acerto com a Williams e fechou contrato com o time da Mercedes (mesma construtora da McLaren) da Deutsche Tourewagen Masters (disputada com carros de turismo).
Hakkinen não obteve na DTM o mesmo desempenho que na F-1. entre 2005 e 2007, venceu apenas três provas e sua melhor colocação na temporada foi o quinto lugar em 2004. Muito se falou de um possível retorno à McLaren para o ano de 2007, mas a equipe fechou com o espanhol Fernando Alonso e o inglês Lewis Hamilton.
Hoje embaixador do projeto Piloto da Vez (criado por um dos patrocinadores da McLaren com o objetivo conscientizar motoristas do perigo de dirigir após consumir bebidas alcoólicas), Hakkinen refuta qualquer hipótese de voltar à principal competição do automobilismo. "Vou fazer 40 anos; estou muito velho (risos). A Fórmula 1 é uma ótima modalidade, mas para mim já é passado. Faço apenas parte da história. Convivi por muitos anos com o ambiente da F-1 e trata-se de uma vida bastante puxada. Não quero mais isso para mim". (gazetaesportiva)
|