Começava o segundo semestre de 2002, o Madson Square Garden lotado aguardava o momento em que seria definido o destino de dezenas de jovens, muitos recém-saídos da adolescência, que sonhavam em igualar os feitos de seus ídolos na NBA. No meio daqueles rostos ansiosos, estava um com nome estranho, que poucos imaginariam que pertencesse a um brasileiro. Maybyner Rodney Hilário aguardava o momento em que sua vida poderia dar uma guinada radical.
A ansiedade teve de ser controlada até a sétima escolha da primeira rodada do draft, quando o New York Knicks anunciou seu nome como opção. A festa pela conquista teve direito a sambinha no palco e a noite terminou com a notícia de sua troca com o Denver Nuggets. Aos 19 anos, Maybyner, ou melhor, Nenê como sempre foi conhecido nas quadras e fora delas, tornou-se o primeiro brasileiro selecionado na loteria da mais importante liga profissional de basquete do mundo.
O caminho até lá não foi dos mais fáceis. Nos últimos momentos, teve que encarar uma batalha com o Vasco da Gama, seu ex-clube no Brasil, para conseguir a liberação. A negociação foi longa e parte da multa saiu do bolso do próprio atleta. Mas nada que acabasse com os recursos de um contrato que lhe permitiria ganhar US$ 6,7 milhões em três temporadas. Dor maior foi pagar para um clube que estava em débito com seus jogadores pelo atraso de salários.
Se o desligamento foi complicado, a própria trajetória do atleta no basquete também não foi das mais simples. Nenê começou no esporte com 14 anos, em São Carlos (SP). Seu primeiro técnico foi Nivaldo Meneghelli, que reconhecia no aspirante um talento incomum. Do interior paulista, ele seguiu para o Rio de Janeiro, contratado pelo Vasco e passou a servir também à seleção brasileira. Com a equipe nacional disputou a Copa América sub-21 e depois chegou ao time principal participando do Campeonato Sul-americano, do Pré-Mundial e dos Jogos da Amizade.
Foram nessas andanças internacionais que despertou o interesse dos olheiros da NBA, em especial no Goodwill Games, em Brisbane, na Austrália. Conseguiu a chance de participar de treinamentos em Chicago e outras franquias norte-americanas. Foi assim que provou merecer uma chance no draft.
Ao trocar o Brasil pelos Estados Unidos, Nenê mudou radicalmente sua vida. Se antes tinha de ir para o treino de ônibus e não sabia bem quando o clube se dignaria a fazer os pagamentos, entrou em uma estrutura profissional com ginásios de primeira linha e todo um respaldo por trás do atleta.
Nenê aproveitou para ampliar seus horizontes. Depois de sofrer na primeira temporada por não falar nada de inglês, aventurou-se com a franquia de um curso de inglês e na seqüência decidiu compartilhar com os conterrâneos os lucros de sua conquista. Passou a bancar um time de basquete em sua cidade natal e criou o Instituto Nenê, dedicado ao desenvolvimento de projetos sociais e esportivos.
A primeira temporada nos EUA foi complicada, muito mais fora da quadra que dentro dela. Sem entender o idioma, Nenê precisava de um intérprete, o que não agradou a franquia norte-americana depois de algum tempo. O jeito foi aprender a se virar.
Em quadra, ele dava conta do recado, tanto que com um companheiro lesionado assumiu a condição de titular. O destaque lhe valeu 18 minutos em quadra no Desafio dos Novatos no final de semana do All Star Game e fez com que fosse eleito para o time ideal de estreantes da temporada.
O Hilário, com sotaque inglês, deu lugar ao Nenê na campanha seguinte. Depois de 11 temporadas ausentes, os Nuggets finalmente chegaram aos playoffs em 2003/04, em uma campanha na qual o brasileiro participou de 80 jogos.
O bom desempenho manteve Nenê como titular em 77 partidas na temporada seguinte, mas em 2004/05 as lesões começaram a atrapalhar o rendimento do jogador. No total, perdeu 27 partidas: 13 por causa de um problema no ligamento do joelho esquerdo, oito por estiramento na coxa esquerda e dois com uma lesão no quadril direito. Mas o pior ainda estava por vir. Logo na estréia da equipe contra o San Antonio Spurs, dia 1º de novembro, Nenê voltou a machucar o joelho esquerdo, teve de ser operado e perdeu toda a temporada.
Apesar dos altos e baixos físicos, o brasileiro conseguiu renovar seu contrato antes do início da temporada e garantiu vínculo com a franquia até 2012. Recuperado, voltou para a campanha de 2006/07 e participou de 64 jogos, sendo titular em 42 deles.
Se na NBA as coisas foram se encaminhando bem, fora da quadra a situação era mais complexa. Nenê foi processado por quebra de contrato pelo ex-agente Joe Santos com quem tinha vínculo até 2012, mas que demitiu em 2006.
A relação com a seleção brasileira também ficou estremecida após a frustrante campanha no Torneio Pré-olímpico de 2003. O Brasil ficou em sétimo, não conseguiu vaga para as Olimpíadas de Atenas-2004. Nenê voltou ao país reclamando da postura da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) e disse que não vestiria mais a camisa da seleção enquanto não houvesse mudanças profundas no comando da entidade.
Quatro anos depois, após muito empenho de Leandrinho, voltou atrás e se apresentou para o Pré-olímpico de Las Vegas. O retorno foi complicado. Por causa de impasse na definição do valor de seu seguro pelo Denver Nuggets, Nenê não participou dos treinamentos, disputando direto um torneio amistoso em Porto Rico.
Após quase quatro meses sem jogar, pagou o preço durante a disputa em Las Vegas e lesionou a panturrilha direita em partida contra a Argentina. A participação brasileira teve direito a problemas de bastidores com Marquinhos, cortado por lesão na mão, voltar ao país garantindo que os jogadores estavam rachados com o técnico Lula. A equipe negou o impasse, o Brasil terminou em quarto na competição e foi para a repescagem no Pré-olímpico Mundial para os Jogos de Pequim-2008.
Os problemas de lesão continuaram a acompanhar o ala/pivô que, retornando à NBA, machucou o ligamento do polegar da mão esquerda e enfrentou mais um período na lista de afastados até retornar no final de novembro. (gazetaesportiva)
Nome: Maybyner Rodney Hilário (Nenê)
Data de nascimento: 13 de setembro de 1982
Local: São Carlos (SP)
Posição: Pivô
Clubes em que jogou: Rio Claro (SP), Vasco da Gama (RJ) e Denver Nuggets (NBA).
Principais conquistas:
. Primeiro brasileiro selecionado pelo draft da NBA
. Eleito para a seleção ideal de novatos na temporada 2002/03 da NBA
. Vice-campeão sul-americano Sub-22 (Uruguai - 2000)
. Quarto lugar na Copa América Sub-21 (Brasil - 2000)
. Bronze no Goodwill Games (Austrália - 2001)
. Vice-campeão da Copa América Adulto (Argentina - 2001),
. Vice-campeão sul-americano adulto (Chile - 2001),
. Sétimo Torneio Pré-olímpico das Américas de San Juan (Porto Rico - 2003)
. Quarto no Pré-olímpico de Las Vegas-2007
. Campeão nacional com o Vasco em 2001
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