Entre os dias 17 de setembro e 2 de outubro de 1988, a 23ª edição dos Jogos Olímpicos foi realizada em Seul, capital sul-coreana. Apesar da polêmica em torno da escolha de Seul como sede das Olimpíadas de 1988 - algumas nações temiam pelo clima tenso devido à guerra entre as Coréias do Sul e do Norte - aqueles Jogos marcaram a volta da confraternização entre países. Apenas Cuba boicotou o evento, que teve, pela primeira vez em oito anos, as presenças tanto de Estados Unidos quanto da União Soviética. Estes Jogos foram também os últimos do bloco socialista. Um ano mais tarde, com a queda do Muro de Berlim e o fim do império soviético, suas nações passaram a competir individualmente.

A despedida, entretanto, foi em grande estilo. A URSS dominou facilmente o quatro de medalhas, subindo ao pódio 132 vezes (55 para receber o ouro), seguida pela Alemanha Oriental, com 103 medalhas, que teve justamente o grande destaque das Olimpíadas. A nadadora Kristin Otto foi a melhor em três estilos diferentes (nados livre, costas e borboleta, proeza que nem Mark Spitz alcançou) e conquistou seis medalhas, recorde feminino em uma única edição. Anos depois, sua conquista foi manchada por denúncias de ex-treinadores da Alemanha Oriental, afirmando que vários atletas competiam dopados.

E o grande escândalo de Seul foi que o canadense Michael Johnson estabeleceu a impressionante marca de 9s79 nos 100m rasos, mas foi obrigado a devolver a medalha de ouro depois de ser flagrado no exame antidoping. Johnson cumpriu uma suspensão de quatro anos para, mais tarde, ser banido definitivamente do esporte por novamente ter apelado às substâncias proibidas.

O Brasil, por sua vez, realizou uma campanha ligeiramente inferior à de Los Angeles. Foram seis medalhas, contra oito de quatro anos antes. O único ouro veio com Aurélio Miguel, em uma conquista inédita para o judô. Para obter a medalha, ele adotou a tática de forçar punições sobre os rivais. A conquista impulsionou a modalidade, que tornou-se uma das mais vitoriosas do país na década seguinte. No atletismo, Joaquim Cruz, por sua vez, por pouco não conquistou o bi nos 800m rasos - ficou com a medalha de prata.

Também bateu na trave o sonho do ouro olímpico no futebol. Depois de ver a Itália ser goleada por Zâmbia por 4 a 0, o Brasil chegou à decisão, graças aos pênaltis defendidos por Taffarel. Na final, o Brasil abriu o placar com Romário, artilheiro dos Jogos, mas cedeu a virada, com um gol de Savichev no segundo tempo da prorrogação. O Brasil ainda trouxe mais três bronzes com Róbson Caetano nos 200m rasos, e os irmãos Torben (ao lado de Nelson Falcão) e Lars (ao lado de Clínio de Freitas) Grael no iatismo.

Os atletas que foram a Seul não gostam nem de lembrar da comida disponível nos restaurantes e arredores da Vila Olímpica. A indigestão olímpica não ficou só por conta dos churrasquinhos de carne de cachorro, tradicionais no país, mas também pela comida sem tempero, o feijão pastoso e a carne duríssima.

Um dos momentos mais comoventes dos Jogos de Seul aconteceu logo na cerimônia de abertura. Um senhor de 76 anos, chamado Sohn Kee-chung, entrou no Estádio Olímpico carregando a tocha. Kee-chung havia sido o medalha de ouro da maratona nos Jogos de 1936, em Berlim, mas com outro nome, Kitei Son, e outra nacionalidade, o Japão, que na época havia invadido a Coréia. O COI aproveitou a oportunidade para devolver ao país-sede dos Jogos a medalha que lhe era de direito. (Gazeta Esportiva)