Muitos disseram que era a final antecipada: Gustavo Kuerten e Juan Carlos Ferrero já haviam dado demonstrações suficientes de serem os melhores do saibro na temporada 2001. Por ironia, se encontravam não na decisão, mas na semifinal de Roland Garros, como no ano anterior. A expectativa era por um jogo igual, a ser disputado em cinco sets, sem favoritos, como ocorrera poucas semanas antes, na finalíssima do Masters Series de Roma, na Itália, quando "Juanqui" levara a melhor. No entanto, o "ainda" bicampeão de Paris atropelou a sensação ibérica e cravou impiedosos 3 sets a 0, com parciais de 6/4, 6/4 e 6/3. O mais difícil adversário de Guga estava superado.
No entanto, a grande demonstração de superação do melhor do mundo nas quadras parisienses não fora diante Ferrero. Na terceira rodada, Guga encontrou no pouco conhecido Michael Russell, tenista dos EUA, a proximidade da zebra. Com 2 sets a 0 desfavoráveis e um match point contra no terceiro set, Guga parecia cada vez mais distante do tricampeonato. Numa longa troca de bolas no fundo de quadra, o brasileiro revertou a vantagem do inimigo, venceu o game, fechou o set, virou o jogo e se garantiu nas oitavas. Com raça e talento. As parciais do milagre apontaram 3/6, 4/6, 7/6 (7-3), 6/3 e 6/1.

A saga do catarinense em Roland Garros 2001 começara contra o bom e jovem argentino Guillermo Coria. Guga não encontrou muita resistência para fazer 3 a 0, parciais de 6/1, 7/5 e 6/4. Em seguida, outro rival do país portenho: Agustín Calleri. Sem precisar fazer uma atuação brilhante, Guga fez triplo 6/4.
Na terceira rodada, o marroquino Karim Alami se tornou seu primeiro adversário a lhe tirar um set - fato, no entanto, insuficiente para assustar o jogador do Brasil. Foram 3 a 1, parciais de 6/3, 6/7 (3-7), 7/6 (7-5) e 6/2. Era o passaporte para enfrentar Russell.
Depois de passar pelo norte-americano, um velho conhecido no caminho: o falastrão Yevgeny Kafelnikov. Antes do confronto, o russo prometia derrubar Kuerten, ironizando ao dizer que "uma hora a sorte tem que acabar" para o brasileiro. Não seria aquela vez, já que o "sortudo" Guga se imporia por 3 sets a 1, parciais de 6/1, 3/6, 7/6 (3) e 6/4. O russo virava, definitivamente, uma espécie de talismã: em suas duas conquistas em Paris (1997 e 2000), Guga eliminara o rival nas quartas-de-final. A história se repetia.
O último confronto seria contra o perigoso espanhol Alex Correjta, vice-campeão de Roland Garros em 1998. Apesar de ser um tradicional freguês (perdera quatro das seis ocasiões em que teve de enfrentar Guga), a final prometia ser dura, afinal, Correjta chegou à decisão eliminando nas semifinais o bom tenista da casa, Sebastien Grosjean, além de Mariano Zabaleta, Jens Knippschild, Magnus Larsson, Fabrice Santoro e Roger Federer nas rodadas anteriores.
Antes do encontro, o técnico do jogador catalão, Javier Duarte, dissera que seu pupilo "era, fisicamente, o número um do mundo". Não foi o que pareceu no jogo. Mais velho, 26 anos, Corretja deu muito trabalho nos dois primeiros sets, assustando o líder do ranking da ATP. Depois, esgotado, sucumbiu à juventude e à superioridade do brasileiro.

O primeiro set, com Guga pouco agressivo, acabou sendo do espanhol: 7/6, com 7-3 no tie break. O segundo começou bem para Corretja, que quebrou Guga logo no primeiro game. A devolução veio nos quarto e 12º games, e Guga fechou em 7/5. Depois, no terceiro, o jogo que consagrou o brasileiro contra Ferrero voltou a aparecer, e Guga marcou fáceis 6/2, com quebras nos segundo e oitavo games. Desestabilizado emocionalmente, chegando a atirar a raquete no chão por mais de uma vez, Corretja parecia vislumbrar a iminência da derrota. De fato: em plena final de um Grand Slam, a última parcial mostrava 6/0 a favor de Guga. Era o tri incontestável.
O tenista de Florianópolis se igualava, assim, a Mats Wilander e Ivan Lendl, todos com três conquistas em Paris. O recordista no Aberto da França é Bjorn Borg, com seis títulos. (Gazeta Esportiva)
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