Pelé jogou na várzea até os 14 anos, quando o Bauru Atlético Clube formou o Baquinho, uma equipe para garotos de quinze anos. Mais de 100 meninos fizeram peneira, 25 foram escolhidos e Pelé foi um deles. O técnico do time era o mesmo do time principal, o ex-jogador Brito, que tinha jogado a Copa de 34 pelo Brasil. A estréia aconteceu no dia 29 de outubro, empate de 3 a 3 contra o Gérson França, time local. No jogo seguinte, o time mostrou força: 21 a 0 no São Paulo da cidade. Pelé marcou sete.
Devido às suas excelentes atuações no Baquinho, ele logo passou a ser cobiçado por muita gente. O Bangu foi o primeiro a mostrar interesse. Tim, técnico do time carioca, esteve em Bauru para tentar levar o jovem para o Rio de Janeiro. Mas dona Celeste, mãe do craque, não queria para o filho a carreira de jogador de futebol. Seu marido, Dondinho, já tinha tido muitas decepções com o esporte. Resultado: Tim voltou para o Rio de mãos abanando. Nove meses depois, Brito, técnico do Baquinho, levou o garoto para Santos. Brito era amigo de Dondinho e preparou um belo discurso para convencer dona Celeste. Deu certo. E foi o garoto Édson para Santos, com apenas 15 anos e ainda de calças curtas.
Com apenas quinze anos, Dico chegou ao Santos. O time tinha sido campeão paulista no ano anterior e só tinha cobras no elenco: Zito, Del vechio, Pépe, Jair da Rosa Pinto, Pagão, entre outros. Indicado como craque, despertou a curiosidade do diretores do time da baixada, que queriam ver o que aquele garorto sabia fazer. No teste, recebeu massagens na perna pela primeira vez e foi colocado no time reserva pelo técnico Lula. No primeiro lance, ele já mostrou o que podia. Nas palavras do craque: "O Zito perdeu uma bola para o Pagão, que passou para mim. Eu poderia tentar o drible no Ramiro (zagueiro) e partir para o gol. Mas preocupado em não errar, devolvi para o Pagão, que driblou o Ramiro e fez o gol". No final do treino, o técnico Lula elogiou: "Pelé é bom, vamos segurá-lo". Outro que gostou do recém chegado foi Jair da Rosa Pinto, que na saída do treino deu um tapinha nas costas de Pelé e falou: "Você tem pinta".
Aprovado nos testes, o garoto passou a treinar com os juvenis e ainda ajudava nos profissionais. Um jogador, Wilson, impressionado com a forma e a velocidade do menino, passou a chamá-lo de Gasolina. O garoto ouvia "Vai gasolina" e, orgulhoso, resolvia correr ainda mais.
Travesso, mesmo entre os profissionais aprontava brincadeiras. Até que um dia exagerou. Em um treino com os profissionais, Pelé partiu para cima do zagueiro Hélvio. Deu um corte, depois deu outro e o zagueiro se desequilibrou. Se quisesse já podia passar pelo zagueiro. Mas não, deu o terceiro corte e o jogador caiu no chão. Foi a gota d'água. O menino deixou a bola e começou a rir. O zagueiro levantou e tentou bater naquela criança atrevida que o tinha humilhado. Por sorte, os companheiros seguraram Hélvio. O zagueiro foi expulso do treino e Pelé foi muito punido pela gozação. Mas ganhou um lugar entre os profissionais.
Sensação entre os juvenis, os diretores do Santos ainda não sentiam que Pelé estivesse a vontade no Santos. A diretoria queria que ele se desenvolvesse, mas havia muita pressão em cima daquele garoto, apontado como maior promessa do time. Resolveram oferecer o jogador para um time de outra cidade, onde não estivessem esperando muito dele. O escolhido foi o Vasco da Gama. Mas o dirigente do Vasco Antonio Calçada esnobou o craque. Ao ouvir o nome Pelé, disse : "Quem é Pelé? E só com quinze anos? Você deve estar brincando!"
A estréia no time profissional aconteceu no dia 7 de setembro de 1956. Era apenas um amistoso, contra o fraco time do Corinthians de Santo André. O garoto foi chamado para completar o banco de reservas. No meio do jogo, o ponta-de-lança Del Vechio se machucou. Era o que Pelé estava esperando. Entrou e não decepcionou. Marcou um gol e o Peixe ganhou por 7 a 1.
A chance no time titular veio ainda em 56. E, infelizmente, por causa de uma perna quebrada. Na final do Campeonato Paulista de 56, o Santos ia ser bicampeão em cima do São Paulo e o ponta-de-lança Vasconcelos estava em ótima fase. Habilidoso e driblador, sabia como poucos conduzir a bola em direção ao gol. Já tinha sido convocado para as seleção duas vezes. Aproveitando a boa fase, Vasconcelos foi para cima do zagueiro Mauro Ramos de Oliveira. Os dois se chocaram dentro da área e foram para o chão. Mauro levantou, mas Vasconcelos não. A perna estava quebrada, dando uma vaga no time titular do Santos para Pelé. Vasconcelos ainda voltou a jogar, mas nunca como antes. E nunca mais recuperou a sua vaga, perdida para o maior jogador da história do futebol mundial. (Gazeta Esportiva)
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