O evento festivo realizado nesta terça-feira para Pelé, na Rua Javari, foi mais um tumulto do que uma homenagem. Torcedores, dirigentes, jornalistas, políticos em campanha e ex-jogadores se misturaram no pequeno espaço reservado para a cerimônia, no tradicional bairro da Moóca, em São Paulo.
O jogador, que, quando ainda atuava, atraía milhares de pessoas ao campo da Mooca, na zona de leste de São Paulo, estava de volta. Junto com ele, um burburinho de torcedores, curiosos e jornalistas se acotovelavam para chegar perto do "Atleta do Século".
Pelé voltou à Rua Javari para a inauguração de um busto em homenagem ao seu gol mais bonito. No dia dois de agosto de 1959, ele deu três chapéus em jogadores do Juventus antes de marcar para o Santos.
Se depender dos relatos de quem afirma estar nas arquibancadas, naquele dia a Rua Javari teve seu recorde de público. "Tenho que admitir que eu, particularmente, não estava lá. Mas eu garanto que tinham umas 100 mil pessoas no estádio", brinca o presidente do Juventus, Armando Raucci. Detalhe: a capacidade atual do estádio é de 7000 pagantes.
Nesta terça, o público era um pouco menor do que naquela tarde. Centenas de pessoas tomaram o hall de entrada. Uma área reservada para imprensa e personalidades estava lotada. Dezenas de camêras de TV e fotógrafos brigavam espaço próximo ao busto.
Quando Pelé chegou, com pouco mais de meia hora de atraso, a confusão foi total. Pessoas foram "esmagadas" contra a parede e as jogadoras do time de futebol feminino do Juventus, que deveriam fazer um cordão de isolamento simbólico na área da homenagem, foram atropeladas.
Ao lado de seu busto e com pouco espaço para respirar, devido aos inúmeros jornalistas no local, Pelé agradeceu a homenagem. "Eu não esperava por uma recepção como essa, tão ´calorosa´. Até parece que eu marquei o gol ontem, e pela seleção brasileira".
Depois de muita demora, Pelé finalmente inaugurou o busto e foi ao centro do campo, para dar o pontapé à partida entre os times de masters do Juventus e um combinado de ex-jogadores famosos.
Novamente, o caos se instalou. Pessoas foram apertadas contra paredes e alguns até mesmo abrirarm salas que estavam trancadas, apenas com a força da multidão que tentava chegar perto do ídolo. Para entrar no campo, personalidades e jornalistas foram barrados. Presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Pólo del Nero nem mesmo tentou entrar, deixando o evento antes do final.
Após a saída do "Rei do Futebol", a confusão também foi embora. Restavam os veteranos que disputaram a partida e alguns dos "100 mil" que viram o gol em pessoa. Além do público, mais um detalhe já virou folclórico: o placar do jogo.
"Olha, já ouvi que foi 3 a 1, que foi 4 a 0, não lembro muito bem", diz o ex-jogador Claudinei, que jogava no Juventus na época, mas não disputou o jogo. "Foi 4 a 0, tenho certeza. Só foi 3 a 1 se o gol que o Pelé marcou foi contra", brinca Lanzone.
A unanimidade fica por conta da beleza do gol: "Pelo menos contra o Juventus, foi o mais bonito", garante Elias Pássaro, massagista do time na época.
Alguns torcedores do Juventus pensaram em protestar contra a homenagem e tentaram organizar, através do site de relacionamentos "Orkut", uma manifestação em frente ao estádio. Afinal, é inusitado um clube homenagear um atleta que marcou um gol contra seu próprio time.
O protesto, porém, não saiu do mundo virtual. "Acho que não tem nada de estranho em homenagear o Pelé por ter marcado um gol contra o nosso time. O Péle é o maior jogador de futebol de todos os tempos e transcende tudo isso", diz o presidente do clube.
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