Para o professor Wang Cheng'an, a palavra "Macau" significa muitas coisas. "Nos 15 anos desde a transferência de administração, Macau tem servido como plataforma e ponte entre a China e o mundo lusófono, aproveitando bem suas vantagens como idioma, história e instituições", disse.
Ele sabe o que fala. Diretor-geral do Centro de Estudos dos Países de Língua Portuguesa da Universidade de Economia e Negócios Internacionais, Wang, que começou a carreira no Ministério do Comércio da China, viveu durante cinco anos nesse ponto estratégico do Delta do Rio das Pérolas, onde assumiu o cargo de secretário-geral do Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Econômica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum China-PLP).
Como ele destaca, Macau era uma pequena cidade desconhecida, mas tem hoje um papel decisivo nos contatos de todo tipo entre a China e os países lusófonos.
PLATAFORMA ECONÔMICA FRUTÍFERA
Para Wang, a promoção das relações comerciais é sem dúvida o maior papel de Macau como ponte. Neste sentido, o Fórum China-PLP é o jogador mais brilhante em campo.
Mecanismo da cooperação multilateral econômica e comercial que tem como mote a cooperação e o desenvolvimento econômico, o Fórum foi criado em 2003 sob a iniciativa da China. Conta também com Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e Timor-Leste.
Nos últimos 11 anos, o Fórum teve quatro conferências ministeriais, cada uma produzindo um Plano de Ação para a Cooperação Econômica e Comercial. "Esses planos de ação impulsionaram muito o desenvolvimento das relações comerciais entre a China e o mundo lusófono", afirma Wang. Segundo o Ministério do Comércio da China, o volume comercial entre os dois lados foi de US$ 11 bilhões em 2003 e US$ 131,9 bilhões em 2013, quase 12 vezes a mais.
Em junho de 2013 foi estabelecido o Fundo da Cooperação para o Desenvolvimento entre a China e os Países de Língua Portuguesa, uma iniciativa do Banco de Desenvolvimento da China e do Fundo de Desenvolvimento Industrial e Comercialização de Macau. O tamanho do fundo será de US$ 1 bilhão. "O secretariado permanente do Fórum China-PLP fez muito na fase de preparação do fundo", disse Wang. Graças aos esforços das partes, o Fundo nasceu na véspera da 4ª conferência ministerial do Fórum e já mostrou alta produtividade no seu primeiro ano de vida, com mais de dez projetos sendo realizados.
Na 4ª conferência ministerial do Fórum, que aconteceu em novembro de 2013, o governo chinês, representado pelo vice-primeiro-ministro Wang Yang, sugeriu o estabelecimento do Centro de Serviços Comerciais para as Pequenas e Médias Empresas, o Centro de Convenções e Exposições para a Cooperação Econômica e Comercial, e do Centro de Distribuição dos Produtos Alimentares. Além disso, a China propôs a criação de uma plataforma de troca de informações.
"Macau tem vantagens nos setores de serviço e de logística, portanto pode contribuir com os intercâmbios entre a China e os países lusófonos. As coisas estão avançando", destacou o ex-secretário geral do Fórum.
INTERAÇÃO CULTURAL ABRANGENTE
Macau vem consolidando, desde 1999, seu papel como ponto de encontro das culturas oriental e ocidental. Macau nunca parou de oferecer palco para todas as formas artísticas dos dois lados do planeta, exemplos disso são o "Desfile por Macau, Cidade Latina" e a "Semana Cultural China-PLP".
Tendo se tornado uma das maiores atividades populares da cidade de fim de ano, o desfile convoca dezenas de grupos artísticos dos países e regiões da América Latina, Europa, Ásia, assim como grupos locais e da parte continental da China, para apresentar em conjunto um carnaval de sabor misto.
"Assim como nesse desfile latino, todos os anos, o governo da RAEM convida grupos artísticos locais de diversas regiões da parte continental chinesa para atuar em Macau e fazer intercâmbio com colegas ocidentais", disse uma fonte do Ministério da Cultura da China.
Criada em 2008, a Semana Cultural China-PLP faz parte da contribuição do Fórum China-PLP e serve como palco principalmente para os praticantes das artes folclóricas. Grupos artísticos das províncias e regiões chinesas como Jilin, Xinjiang, Anhui e Zhejiang, marcaram presença no evento.
"A interação cultural entre a China e o mundo lusófono é enriquecida graças ao vínculo que se chama Macau", disse Rita Santos, secretária-geral adjunta e coordenadora do gabinete de apoio do Fórum China-PLP.
COOPERAÇÃO EDUCAÇÃO CONSTANTE
Poucos sabem que Macau é uma ótima plataforma para estudantes aprenderem língua e cultura estrangeiras, oferecendo forte patrocínio governamental.
Nesta área, a Fundação Macau tem um papel central. A fundação, de natureza não lucrativa, dá bolsas de estudo aos estudantes locais de Macau, da parte continental da China e dos países lusófonos. Dados oficiais mostram que de 2000 a 2012, a Fundação ofereceu 31 milhões de patacas (US$ 3,88 milhões) e 30 milhões de patacas (US$ 3,75 milhões), respectivamente, para estudantes do continente chinês e dos países estrangeiros, com cada segmento representando cerca de um sexto do valor total das bolsas de estudo.
Uma vez beneficiários dessas bolsas de estudo, muitos chineses que aprenderam o português em Macau estão contribuindo hoje para os laços sino-lusófonos em áreas como diplomacia, comércio, cultura e esporte.
A Universidade dos Estudos Estrangeiros de Beijing (BFSU, na sigla em inglês) é um dos principais beneficiários dos projetos de bolsa de estudo da Fundação Macau. A universidade mandou, nas últimas três décadas, estudantes de português para participar de todas as edições do Curso de Verão de Língua e Cultura Portuguesas na Universidade de Macau. Desde a assinatura de um protocolo em 1998, a BFSU dispacha seus alunos de português de terceiro ano para a Faculdade de Letras, onde aperfeiçoam o português durante um ano letivo.
Pedro Zhang, professor de português da BFSU, estuda e trabalha em diversas ocasiões em Macau. "Eu sou, sem dúvida, um beneficiário das oportunidades de intercâmbio educacional e cultural oferecidas por Macau", disse.
Por outro lado, Macau tem hoje cada vez mais residentes interessados em aprender a língua e a cultura do mundo lusófono. "O português está popular, de novo, entre a população de Macau", revelou Rita Santos, do Fórum China-PLP, acrecentando que em 2013 mais de 4 mil pessoas estavam aprendendo português e o número deve chegar a 6 mil neste ano.
por Xinhua