Na opinião de Cuca, a China está globalizando de maneira geral o futebol, pegando treinadores e jogadores de todo o mundo. "Agora eu também estou trazendo outro estilo de trabalho, filosofia sul-americana", disse Cuca, que admitiu que ainda está em uma fase de adaptação na China e tentando mudar "a cultura" daqui, o que é uma grande dificuldade segundo o próprio treinador.
A primeira coisa que Cuca está ensinando aos jogadores de Luneng é ler os jogos. Segundo ele, jogadores chineses às vezes não sabem o que devem fazer em campo. "Por exemplo, os volantes marcam na frente, eles não sabem fazer o terceiro zagueiro", apontou o Cuca, dizendo que o trabalho aqui é maior do que no Brasil.
Além disso, o técnico quer mais liderança do capitão do time e mais comunicação no campo. "Eles não falam em campo. Eles têm que ter mais comunicação, mais liderança", disse, acrescentando que está mudando o "sistema de bicho" no time. Segundo Cuca, antes os jogadores que jogavam bem recebiam bônus e os que não jogavam bem não recebiam nada. "Estou mudando. Estou fazendo que todos sejam valorizados, incluindo os que não vão para o campo que ganham 10%."
Cuca assinalou que, após três meses na China, o time de Luneng já está todo renovado. "Vejo muita evolução aqui. Está evoluindo bastante no pouquíssimo tempo que estamos aqui. O time está jogando bem. Em jogos recentes a gente tem criado 18, até 20 chances numa partida, igual como no Brasil. Só que a bola não está entrando tanto. Daqui a pouco vai melhorar", comentou.
As mudanças acontecem não apenas no time profissional de Luneng, mas também na escola de futebol júnior do clube que fica na cidade de Weifang, em Shandong. No início deste mês, Sérgio Baresi, ex-técnico do Sub-20 do São Paulo Futebol Clube, junto com sua comissão brasileira de três pessoas, lançou formalmente suas primeiras aulas ao estilo brasileiro na China.
De acordo com Baresi, o foco atual dele é implementar a metodologia de São Paulo nos aspectos de treino, táctica, medicina, nutrição, etc... Baresi indicou que o segredo do São Paulo é a capacitação do Sub-13 e na China ele descobriu diversos atletas talentosos nessa categoria.
Copiando a forma de Cotia, Baresi também diminuiu o número de jogos para os atletas Sub-13 na escola daqui, antes de dois a até quatro jogos por semana para um jogo por semana. "O jogo é importante, é crucial, mas não é tudo. Com mais jogos do que treinos, como acontece a evolução dos jogadores?" assinalou Baresi, acrescentando que o ideal é aprovar os resultados de treinos nos jogos.
A equipe brasileira também trouxe um software para fazer o ensino, algo inédito na escola. Além disso, Baresi está trabalhando para adicionar a "quarta refeição" aos atletas. Segundo o brasileiro, o período entre o jantar, por volta das 18h, e o café de manhã do outro dia, às 7h, é um jejum.
O que Baresi quer mudar não é apenas a respeito do futebol. Ele também pediu que os atletas falem "bom dia" em voz alta pois a maior diferença entre crianças brasileiras e chinesas, segundo ele, é a timidez. Baresi também descobriu aqui que o respeito pelo treinador é muito grande, o que ele acha não ser bom em todos os momentos. Ao seus olhos, atletas chineses fazem tudo o que o treinador comanda, sem entender tudo. Ele espera que eles levantem mais perguntas.
O treinador também está tentando mudar a mentalidade dos treinadores chineses na escola e tem confiança nisso.
Com a parceria entre Luneng e São Paulo, Baresi diz que vai ficar na China nos próximos dois ou quatro anos, e espera que mais brasileiros venham para cá.
Quanto ao Cuca, já com quase dez membros da família vivendo ao seu lado, está trabalhando "do seu jeito" para implementar a filosofia brasileira na China, onde, segundo ele, vai sediar em breve uma Copa do Mundo.
"O povo da China adora futebol, o campo sempre tem um grande número de torcedores. Aqui tem grandes estádios e transporte maravilhoso. Acredito que em breve a China vai sediar uma Copa do Mundo", concluiu Cuca.