Não há outra cidade na China com uma história tão amarga quanto Nanjing.

O local é a garganta do curso inferior do rio Yangtzé, o maior do continente euro-asiático, que margeia a cidade ao norte, enquanto a montanha Zijin abarca o leste e ao sul fica uma grande planície, com inesgotáveis recursos hídricos e uma terra fértil, garantindo abundância em produtos naturais. Na época das frias armas de ferro, as vantajosas condições geográficas da região serviram de defesa natural contra os agressores do norte.

No entanto, desde a fundação do reino de Wu em Nanjing, no ano 222, durante o período dos Três Reinos, a cidade viu seis dinastias, quatro delas de vida curta. Como local estratégico do ponto de vista militar, a cidade foi, em várias ocasiões, alvo de massacres em épocas de guerra, sendo o mais recente e terrível deles o perpetrado pelo exército japonês em 1937, quando foram mortos 330 mil chineses.

Nem os historiadores, nem os estrategistas militares compreendem por que Nanjing, apesar de sua boa proteção, foi tomada tão freqüentemente na história. Em 1368, Zhu Yuanzhang, fundador da dinastia Ming, estabeleceu seu império na cidade, que se tornou, então, pela primeira vez, o centro político de todo o país.

Durante este período, o perímetro da cidade interior era de 33,7 km, com muralhas de 14 a 20 metros de altura, o que a tornava a maior cidade do mundo naquela época. Além disso, Zhu planejava uma cidade exterior com 60 km de perímetro, que circundaria a cidade interior. Ele acreditava que sua cidade estava perfeitamente protegida e segura para sempre. No entanto, quatro anos depois de sua morte, Nanjing foi tomada pelo rei de Beijing e o centro de poder mudou para o norte. Segundo a maioria dos especialistas, as boas condições naturais do lugar tornaram possível manter uma vida ociosa e a vontade dos habitantes de Nanjing de buscarem uma vida cômoda conduziu à tragédia.

Nas dinastias do Sul e do Norte (420-589), ocupou o trono um imperador chamado Chen Shubao, que não se preocupou com os assuntos do reino e simplesmente se dedicou a desfrutar os prazeres da vida. Quando os agressores chegaram, ele não levou a sério, pensando que o rio Yangtzé era uma defesa natural intransponível para os inimigos. Seu reino foi logo destruído.

Por outro lado, a vida cômoda de Nanjing facilitou a prosperidade cultural e artística na história, o que levou ao estabelecimento sucessivo de quatro academias: confucionismo, misticismo, literatura e história. Vários personagens célebres são originários daquela região, como o matemático Zu Chongzhi, o calígrafo Wang Xizhi, o médico Ge Hong, o pensador Fan Zhen e o pintor Gu Kaizhi, entre outros.