Muitas metrópoles chinesas possuem áreas que se tornaram redutos de literatos e artistas. Beijing, por exemplo, tem a fábrica 798, zona de artes plásticas contemporâneas. O distrito artístico de Shanghai é chamado de Beira do Rio Suzhou. No programa de hoje, vamos apresentar outro distrito de artes de vanguarda. Este fica na província de Henan e é chamado de Comuna das Artes da Aldeia do Buda de Pedra.

A Aldeia Shifo (Buda de Pedra) fica a cerca de 10 quilômetros a noroeste de Zhengzhou, capital da província de Henan. Seu nome vem de um retrato budista esculpido em pedra de 2 metros de altura, conservado em um templo com o mesmo nome, datado do século VII, da dinastia Tang, de acordo com os antigos moradores e registros em lápides no mosteiro.

Em abril de 2006, o pintor chinês residente nos Estados Unidos Huang Guorui estabeleceu seu ateliê aqui, pelo um ambiente tranqüilo e agradável. Ele pintou sua casa de amarelo e instalou seu ateliê no topo da moradia, dando um exemplo aos outros artistas que se estabelecem na aldeia pelos mesmos motivos. Em maio, eles criaram a Comuna das Artes do Buda de Pedra. Desde então, o local tem atraído cada vez mais artistas. Em apenas um ano, foram abertas centenas de ateliês na aldeia, transformando o lugar no único reduto de intelectuais da província de Henan.

Logo ao entrar na aldeia, a primeira visão que se tem é a das pinturas inusitadas nas paredes dos dois lados. Huang Guorui conta que, quando retornou à China, instalou seu ateliê em Beijing, mas sentiu logo um aborrecimento provocado pelo caos e pela pressão dos altos preços da metrópole. Decidiu então voltar à sua terra natal, a aldeia Shifo. Em comparação com os ateliês de Beijing e Shanghai, a Comuna é privilegiada em seu ambiente sossegado e com baixo custo de vida. Huang disse:

"No início, o ateliê tinha pouca gente. Posteriormente, mais e mais artistas aderiram a ele. Agora, pintores, calígrafos, fotógrafos e diretores estão espalhados por todos os cantos da aldeia".

Um ano após sua fundação, a Comuna já realizou quatro exposições na aldeia. No começo deste ano, o grupo foi exibir suas obras na Galeria SOHO 456, em Nova York, deixando impressões marcantes nos visitantes ocidentais. Huang continuou:

"A exibição em Nova York aconteceu em janeiro deste ano no distrito SOHO, em Manhattan. Foi extraordinária. Os artistas de Nova York elogiaram muito. Para a maioria dos ocidentais, o conhecimento sobre a China limita-se a Beijing e Shanghai. Eles não têm a mínima idéia de como são os lugares da região central, como Henan. Em razão disso, nossa exposição buscou promover as artes contemporâneas de Henan e da Aldeia Shifo. Depois de assistir à mostra, os espectadores ocidentais ficaram com vontade de visitar Henan".

Os artistas e os aldeões locais de Shifo dão-se muito bem. Segundo um contrato assinado entre eles, é permitido construir mais um andar como ateliê nas atuais casas dos aldeões. Por dez anos, os artistas não precisam pagar nada e podem se dedicar totalmente à criação. Os aldeões também se beneficiaram disso, pois ganharão mais um andar depois de 10 anos, quando o contrato expirar. Se os artistas ainda precisarem do lugar, podem pagar aluguel para aldeões. Os artistas que não quiserem construir um andar extra, podem alugar a casa por uma quantia mensal de 50 yuans. Apoiada pelo governo local, que investiu nas obras de infra-estrutura pública, a Comuna vem despertando a atenção de artistas de todo o país. Huang acrescentou:

"O contrato traz benefícios econômicos para os aldeões. Antigamente, ninguém conhecia o lugar. Com a chegada dos artistas, a aldeia vem ganhando fama. Muitas pessoas vêm para cá em busca de inspiração artística. Os hotéis e supermercados da aldeia estão crescendo. Para mim, o mais importante é a influência cultural sobre os aldeões. Dez anos equivalem à fase de crescimento de uma criança, e essa fase é crucial para uma pessoa. Os artistas exercem uma influencia positiva sobre nossas crianças".

Os artistas da Comuna vivem com os aldeões e sentem a simplicidade, a franqueza e o carinho deles. A camponesa chama os artistas de professores, um jeito de mostra respeito. Ela disse:

"Os professores são simpáticos e afetuosos conosco".

Outra aldeã, Wang, afirmou:

"Nós nos damos bem com os professores. Eles mudaram muita coisa aqui a partir do ambiente e do nosso modo de pensamento. Eles nos ensinam, inclusive, como pintar".

Para o organizador de exibições em Beijing Cai Qing, a Comuna tem seu próprio charme:

"Os ateliês em Beijing são independentes e isolados da vida real. Mas os daqui são misturados com a vida rural. É mais próximo da vida cotidiana. Construir ateliês na casa dos camponeses é uma forma de inovação. Acredito que a Comuna vá atrair muito mais artistas estrangeiros. Espero que os artistas da aldeia possam mostrar suas obras na capital e para todo o mundo".

Na aldeia Shifo, foram realizados fóruns e palestras para estudar a vanguarda artística internacional. Em apenas dois anos, a Comuna transformou as impossibilidades e os sonhos dos artistas em realidade. Huang Guorui completou:

"Os artistas da nossa Comuna concentram-se em criar suas próprias obras e pretendem internacionalizá-las".