O Brasil planeja reunir os ensinamentos da experiência na organização da Olimpíada de Beijing 2008 e promover suas belezas naturais para atrair visitantes, ressaltou em entrevista a veículos de comunicação chineses a ministra do Turismo do Brasil, Marta Suplicy, às vésperas de sua viagem oficial à China.

Sobre sua quarta visita ao país asiático, a ministra manifestou sua admiração pelas conquistas culturais, sociais e econômicas chinesas, expressando sua curiosidade por rever lugares que mudaram radicalmente desde a primeira vez em que visitou o país, há cerca de 30 anos.

Suplicy destacou o mútuo interesse entre os brasileiros e os chineses em conhecer mais sobre suas respectivas culturas, num processo favorecido pelo crescente intercâmbio comercial e as relações de amizade e cooperação entre os dois países.

A seguir, os principais trechos da entrevista concedida pela ministra, que recebeu os jornalistas chineses credenciados no Brasil, em seu gabinete ministerial, em Brasília.

Pergunta: Quais são os objetivos de sua visita à China?

Resposta: O objetivo é promover o Brasil e aprender como foi preparada a Olimpíada. Todos os relatos que chegam até nós são de que a China se preparou muito bem, com muita antecedência. Vamos poder usar essa experiência na preparação da Copa do Mundo de 2010 e para o pleito que o Brasil faz para receber a Olimpíada de 2016.

P: A China representa um quinto da população total mundial, e por tanto, é um grande país exportador de turistas. O Brasil buscará explorar este mercado?

R: Em 2010, 50 milhões de chineses estarão passeando pelo mundo. Fizemos uma enquete para saber o que há hoje no imaginário chinês sobre o Brasil. O que descobrimos é que não há uma busca pelo sol e mar, como na Europa e nos Estados Unidos, mas pelas belezas naturais---ou seja, cataratas, fauna, flora-, bird-watching, música e futebol. Isso nos permite fazer uma promoção direcionada ao que já é do interesse dos chineses.

P: Calcula-se que a China mandará 100 mil turistas ao Brasil em 2008. Que medidas tomará o país para atender essa demanda?

R: Essa notícia me agrada muito, porque até 2006 eram 37 mil. Não podemos perder um segundo, porque a disputa no mundo será muito grande por esses turistas e temos o que eles buscam. Por exemplo, eu inaugurei um trem de luxo que vai de Curitiba, no Paraná, até Foz de Iguaçu, onde estão as cataratas. é um pacote muito interessante e muito adequado para os chineses.

P: Quanto tempo leva?

R: Oito dias a partir do Rio de Janeiro, onde chega, e logo vai para Curitiba. Há muita coisa ali que agrada aos turistas chineses. Mas estamos preocupados, porque nos faltam restaurantes chineses. Soubemos que os turistas querem uma refeição chinesa por dia. A China teria interesse em abrir uma escola aqui que formasse cozinheiros? Queremos ajudar a montar a infra-estrutura, ter uma cooperação nesse sentido.

P: Existem no Brasil guias turísticos que falem chinês?

R: Não há, certamente, e temos que investir nisso, porque para a Copa de 2010 queremos ter guias que falem mandarim. Podemos fazer um intercâmbio com a China, com dois anos de mandarim e dois anos de português.

P: A senhora foi prefeita de São Paulo, onde vivem muitos imigrantes chineses. Como avalia a integração à sociedade brasileira e suas contribuições?

R: Os chineses que vieram ao Brasil estão integrados, mas ainda a distância é muito grande. Em termos culturais é uma perda para o Brasil, porque a China tem uma cultura e uma bagagem que enriqueceria muito. Tivemos por exemplo, em 2004, os Guerreiros de Xian, para cujas visitas houve filas de sete horas.

P: A senhora vê a curiosidade do brasileiro pelo que vem da China? Que características têm os turistas chineses que chegam ao Brasil?

R: Em 1993, 30% dos visitantes chineses vieram para passear e 70% para negócios. Em 2004, os que vieram a turismo passaram para 81%, um aumento bastante acentuado. As três principais cidades emissoras de turistas são Beijing, Shanghai e Guangzhou.

Os turistas de Beijing querem experiência, participação pessoal; os de Shanghai planejam as viagens com maior grau de detalhe; e os de Guangzhou têm interesse por culinária de alta qualidade. A idade média dos visitantes é de 35 a 44 anos. O número de crianças com menos de 14 anos aumentou, o que indica que o número de famílias também cresceu.

P: O Brasil fará promoção turística durante a Olimpíada 2008?

R: Queremos ter uma representação na Casa do Brasil, no centro de Beijing, para que possamos mostrar a oferta de produtos e shows brasileiros. Nessa viagem, veremos em quais lugares podemos fazer promoção, porque até podemos comprar um pedaço do estádio para colocar "Visit Brasil" (Visite Brasil).