Nanjing, a única cidade do sul que alguma vez ostentou a condição de capital do país, tem entre suas peculiaridades fundamentais certo eflúvio de mistério, elegância, generosidade, formosura e melancolia", comenta Pan Feng, um aposentado de 59 anos de idade, que fora professor de história de uma escola secundária. Para Pan Feng, a rotina diária matutina consiste em praticar Taijiquan e escutar pela rádio a ópera de Beijing na Torre de Tambor, do outro lado da rua que cruza em frente a sua casa. "A cidade foi a capital de seis dinastias: Wu do Leste (222-280), Jin do Leste (371-420), Song (420-479), Qi (479-502), Liang (502-557) e Chen (557-589). Cada vez que passo por aqui, sinto a presença de cada uma delas, como se fosse um edifício de seis andares enterrado debaixo deste solo. De maneira inconsciente me vejo evocando suas memórias".
Efetivamente, a diferença de Shanghai, uma metrópole internacional, e Hangzhou, uma cidade turística e de diversão - ambas a mais de 300 quilômetros de Nanjing - Nanjing está dotada de mais relíquias culturais e lugares históricos, pela obra de seus mais de 360 anos de história como capital imperial.
Os habitantes de Nanjing se sentem orgulhosos porque sua cidade foi capital da dinastia Ming antes da cidade principal do país ter se mudado para Beijing. Consequentemente, abundam em seu fórum as relíquias da dinastia Ming, hoje devidos pontos de concorrência turística.
Tumba Xiaoling de Ming é a tumba do imperador fundador da dinastia Ming, Zhu Yuanzhang (1328-1398), e sua imperatriz Ma. Trata-se do maior mausoléu imperial na zona de Nanjing. Está cercada por uma muralha de 22,5 quilômetros de extensão. A maior parte de suas construções de madeira foram pasto das guerras, onde permanecem somente algumas construções de pedra, entre elas pórticos, monumentos, estátuas, plataformas das construções, etc. Em 2003, a UNESCO a declarou patrimônio cultural da humanidade.

Muralhas Ming construídas ao redor da cidade de Nanjing no início da dinastia Ming (1366-1386), tinham uma longitude de 33.676 quilômetros. Permaneceram somente 21,35 quilômetros delas. Trata-se da maior obra de seu tipo na China. Está incluída na lista de candidatos a patrimônio da humanidade. Foram construídas sobre a base de blocos de granito ou pedra calcária, com duas paredes laterais muito resistentes feitas com grandes tijolos colados com um material mescla de sopa de arroz glutinoso, grude de sorgo, água de cal e azeite de tung. A fim de garantir a qualidade da construção, em cada tijolo ficaram inscritos o nome e o lugar de origem do fabricante e seu inspetor, também a data de fabricação.
Tumba de Zheng He Zheng He (1371-1433), funcionário navegador da dinastia Ming empreendeu sete famosos périplos pelos mares do sudeste da Ásia durante 28 anos, de 1405 até 1433. Estes itinerários passaram para a história como a Rota da Seda Marítima. A tumba foi erguida ao estilo islâmico, e sobre seu teto foi escrito em árabe "Grandioso Alá." Diante da tumba há quatro conjuntos de escadas, cada um dos quais, por sua vez, recebe sete escadas, o que lança um total de 28 escadas, como recordatório das sete viagens empreendidas em 28 anos, e a chegada a mais de 40 países e regiões.
Ruínas do Palácio Imperial Ming: O Palácio Imperial Ming é composta por duas partes: a cidade imperial e a corte imperial. Foi sede do governo dos três imperadores Hongwu, Jianwen e Yongle, durante os 54 primeiros anos da dinastia Ming. Também foi a obra que serviu de inspiração à construção do Palácio Imperial de Beijing. Deixou de funcionar como palácio imperial em 1421, ano em que o imperador Zhu Di mudou a capital para Beijing.
Nanjing tem fama de cidade misteriosa. E todo seu mistério parece ocultar-se entre os frondosos bananais e nas legendárias casas do bairro que outrora protegera as embaixadas estrangeiras e as residências das pessoas ricas e importantes, entre a calma dos becos próximos às ruas Yihelu e Shanxi. Ao caminhar por esta zona, o transeunte pode ser invadido pelas memórias herdadas de princípios do século passado.
"Basta ver o número da placa, para saber a qual família pertence um carro", afirma Hu Mingshen, um redator do Jornal da Rádio e Televisão de Nanjing, que morou a maior parte de seus vinte e tantos anos de vida na rua Yihelu, enquanto aponta em direção às antigas vilas adjacentes, que datam da época da República da China. "Originalmente eram moradias dos militares de Guomindang. Agora vivem aqui personalidades importantes ou gente que manteve relações estreitas com os proprietários anteriores. Nem sequer um ex vice-prefeito da cidade de Nanjing é qualificado para viver nesta zona". Segundo Hu, cada vila está emparedada e com a porta sempre fechada. Lembra que quando era pequeno, cada vez que a porta se abria, ouvia-se o ruído de um carro luxuoso, sensação que solta sua imaginação, e também se inspirava a recitar de memória os números desses carros. Embora Hu não pertença à classe desta zona, não oculta certo orgulho pelo bom ambiente do lugar. No verão, os pátios estão cheios de carruagens carregados de uvas, e as paredes estão cobertas de rosais, feito inusitado nas grandes metrópoles. Também os diversos estilos das construções impregnam o local de um forte sabor cultural.
O governo de Guomindang estabeleceu sua capital em Nanking, em 18 de abril de 1927. Seguindo o estabelecido pela Planificação da Capital, foi autorizado a construção de uma zona residencial de alta categoria, com o centro localizado na Rua Yihelu, ao noroeste da cidade. Até 1949, ano da libertação de Nanjing, foram construídas 9.265 casas com pátios e jardins e 25 vilas luxuosas. Além disso, cada una tinha seu próprio estilo arquitetônico. Não havia dois iguais. Algumas imitavam o costume estadunidense, outras pareciam francesas. Também se viam os estilos espanhol e japonês.
Além da zona residencial, destacavam-se as zonas das embaixadas estrangeiras. As construções daquela [época se dividem em várias categorias, como as oficiais, as vilas e as públicas. São todas típicas de Nanjing, e através delas pode-se perceber a influência da arquitetura ocidental sobre a oriental.
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