Embora pareça estranho, na moderna e agitada Beijing ainda pode se visitar um aprazível templo budista, o templo de Fa Yuan, o mais antigo da capital e sede do Instituto Nacional Chinês de Estudos Budistas. Todos os anos se encontram aqui numerosos poetas chineses e turistas estrangeiros para fazer parte do Encontro da Flor do Craveiro.
O templo budista de Fa Yuan se levanta no sul de Pequim e ocupa uma área de 6700 metros quadrados. Erguido há treze séculos por ordem imperial, sua estrutura arquitetônica corresponde À dos antigos palácios chineses. Reconstruído e restaurado várias vezes, o que hoje em dia vemos dele são os edifícios levantados nas dinastias Ming e Qing. Yao Yuan, funcionário administrativo do templo, é um grande conhecedor da sua história, tema sobre o qual publicou vários livros:
"A construção do templo de Fa Yuan se iniciou há 1300 anos, nos tempos da dinastia Tang. Em termos gerais, este templo se caracteriza por sua riqueza histórica, cultural e arquitetônica. Além disso, possui um valor especial devido a sua amplidão e a ter se conservado em sua integridade".
O Altar da Grande Compaixão foi climatizado para expor as relíquias do templo. Nesta sala são exibidas estátuas budistas, esculturas de pedra e outros tesouros artísticos, entre os quais se destaca uma estátua budista de argila que, com seus 1900 anos, é a mais antiga da China. Menção especial merece também uma estátua de bronze de meio metro de altura que representa um buda com mil mãos e mil olhos, obra que evidencia o assombroso talento dos artistas daquela época. Além disso, esta peça encerra um mistério, posto que de vez em quando de uma de suas mãos sai água, fenômeno para o qual de momento não foi encontrada nenhuma explicação. Um monge chamado Zhi Yong comentou o seguinte sobre esta estátua:
"A estátua do Buda das Mil Mãos e dos Mil Olhos pesa muito, já que é de bonze maciço. Seu rosto mostra uma expressão muito solene; mas o mais surpreendente é que às vezes de uma de suas mãos ressuma água. São muitos os budistas chineses e estrangeiros que vêm venerar esta estátua, uma mescla da arte chinesa e nepalesa que representa o apogeu artístico da dinastia Ming. Como é natural, os que viram a água ressumando de uma de suas mãos ficaram muito impressionados por esta maravilha".
Além de um santuário budista, o templo de Fa Yuan é um centro turístico e cultural. Todos os anos, em abril se celebra aqui uma reunião poética conhecida como Encontro da Flor do Craveiro, uma tradição de oitenta anos muito estimada tanto pelos poetas como pelos turistas. O Encontro da Flor do Craveiro foi celebrado pela primeira vez em 1914. Dez anos depois, em 1924, dele participou Rabindranath Tagore. Cativado pela beleza das flores do craveiro, o célebre escritor indiano em língua bengali dedicou-lhes uma poesia. A participação de Tagore deu a esta reunião poética uma fama internacional que sobrevive até hoje.
As flores dos craveiros do templo de Fa Yuan chamam a atenção não somente por sua diversidade, mas também pela raridade de algumas de suas variedades. Fan Hua, um monge que as estava fotografando, explicou-nos por que estas flores lhe interessam tanto:
"Normalmente, a flor do craveiro tem quatro pétalas, mas esta tem seis. É muito raro! Todos os anos uma multidão de turistas vêm contemplar as flores do craveiro.Poucas vezes se vêem exemplares de seis pétalas. Acho que estas belas flores nos trarão boa sorte para este ano".
À parte dos craveiros, no templo há outras árvores, entre elas ginkgos, duas árvores de sala (sândalos?), dos quais se diz que foram trazidos da Índia, assim como várias figueiras de água (Ficus religiosa), a árvore sob a qual Siddharta Gáutama, o Buda histórico, alcançou a iluminação perfeita. Todos os dias, às três e meia da tarde, os monges do templo de Fa Yuan começam o que eles chamam seus 'deveres vespertinos', isto é, a recitação de fragmentos de obras religiosas. Neste templo há também mais de cem monges noviços que estudam na Academia Chinesa de Budismo, a instituição educativa desse gênero mais importante do país. Os monges estudam na Academia, mas se alojam e realizam suas atividades religiosas no templo de Fa Yuan, que se encontra exatamente ao lado. Fan Hua, um dos monges que completou seus estudos, nos disse:
"O templo de Fa Yuan é muito singular e possui uma base cultural muito profunda e diversa. Como monge, é para mim uma grande honra poder viver e estudar aqui. Seguimos regras formuladas há mil anos e vivemos a vida tal como nossos antepassados, o que para mim constitui uma experiência valiosíssima. A tranqüilidade e liberdade que se respiram aqui convertem nosso templo no lugar ideal para professar nossas crenças religiosas".
Carla Prevato e sua família vieram da Itália, e é a primeira vez que visitam o templo de Fa Yuan. A sorte quis que sua visita coincidisse com a celebração do Encontro da Flor do Craveiro. Carla Prevato comentou:
"Chegamos até aqui por causalidade, já que desconhecíamos a existência deste templo.É um lugar bonito e aprazível; um lugar ideal para dar um passeio".
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