Conhecida no mundo como o "Reino das bicicletas", a China está perdendo rapidamente esta reputação a medida que suas ruas se enchem de automóveis.

Apesar do congestionamento do trânsito nas grandes cidades e dos apelos do governo para a volta do uso da bicicleta, a atração pelos automóveis continua aumentando.

"Quando vou ao trabalho, tenho que sair de casa às sete da manhã e necessito de, pelo menos uma hora para chegar a tempo ao escritório", queixou-se Zhang Hui, empregado da Bull, companhia francesa de tecnologia. Foi a frustrante espera ante o congestionamento do trânsito que fez com que Zhang comprasse uma bicicleta..

Durante a Cúpula China-África de Beijing celebrada em novembro passado, o governo chinês aconselhou aos cidadãos de Beijing a recorrer à bicicleta em vez de sair em carros privados, de modo que se evitasse o engarrafamento do trânsito. Zhang disse que agora de bicicleta, pode "sair de casa meia hora mais tarde, mas chegar mais cedo que antes ao escritório".

Milhões de habitantes de Beijing como Zhang Hui optaram por pedalar ou utilizar o transporte público durante o fórum. O resultado foi um Beijing livre de congestionamentos do trânsito. Sem embargo, assim que terminou a reunião, o caos do tráfego voltou às ruas.

O próprio Zhang retomou sua viagem de costume, explicando: "apesar de economizar muito tempo indo de bicicleta, também encontrei desvantagens. Não há onde estacionar a bicicleta perto da minha companhia, e tive que tomar táxi para reunir-me com os clientes. O que eles pensariam se aparesse em uma bicicleta?"

Segundo uma pesquisa realizada pela ACNielsen, uma companhia de estudos de mercado, 30 por cento dos 1.500 entrevistados nas principais cidades chinesas de Beijing, Shanghai e Guangzhou afirmaram que planejam comprar um carro dentro de um ano.

O entusiasmo pelos automóveis parece haver alcançado um nível sem precedentes, segundo as pesquisas efetuadas em 2004 e 2005.

Muita gente acredita que o carro é símbolo do nível de vida na China de hoje. Apesar de preocupar-se, por um lado, com o meio ambiente, as autoridades locais continuam estimulando, por outro lado, que os residentes adquiram veículos motorizados, pois a indústria automobilística é um dos pilares da economia chinesa.

Em 1949, havia somente 2.300 unidades de automóveis nas ruas de Beijing. Em fevereiro de 1997, esta cifra ascendeu a um milhão. Apenas seis anos depois, havia dois milhões, e atualmente se agregam mil novos automóveis às ruas da capital a cada dia.

Por outro lado, está caindo o número de bicicletas. A cifra máxima das bicicletas em Beijing foi 10 milhões, mas tem descido a uns quatro milhões agora, dos quais pouco mais da metade se utiliza diariamente.

A China produz 70 milhões de bicicletas ao ano, mas 50 milhões são se vendidas ao exterior.

A senhora Li, de 50 anos, natural de Beijing, disse que "agora viajo de bicicleta com muito cuidado", reparando que antes havia separadores entre a via de bicicletas e as de automóveis, mas já se tem desaparecido. Com a ampliação das vias para automóveis, de duas a três, vêm diminuindo as vias de bicicletas, deixando os ciclistas expostos a todo tipo de perigos.

Liang Congjie, presidente de uma associação ecologista chamada Amigos da Natureza, tem proposto que as autoridades de trânsito voltem a colocar separadores entre as vias para automóveis e as de bicicletas, e proíbam o estacionamento de carros nos espaços de bicicletas.

A proposta encontrou eco na Administração de Tráfego de Beijing (ATB) e na Comissão Municipal de Planificação Urbana.

No entanto, um especialista da ATB considera que não há soluçao permanente. Para ele, a melhor solução é que tanto ciclistas como condutores obedecem as leis de trânsito.