Numa manhãzinha de outono inicial, a floresta de bétulas está banhada dos solares suaves. De repente, uns tilintares de campainha vieram romper o silêncio na floresta: um bando de uns 30 veados está correndo a uma tenda e atraiu a atenção de nossa reportagem. O tilintar fez com que uma dona saísse da tenda. Logo, ela ficou rodeada por veados e alguns colocaram suas patas anteriores nos braços da mulher.
A dona chama-se Marusha e a tenda, sua casa interina. Convidou-nos entrar. Três camas feitas com troncos de pinheiro e um fogão retangular produzido com chapas de ferro ocupavam quase todo o espaço da casa.
A família veio de uma aldeia étnica de Ewenkis na Região Autónoma da Mongólia Interior. O dono Arongbu, com 57 anos, nos disse que os Ewenkis vivem junto a veados de geração em geração e consideravam os veados como membros da família.
"Para os Ewenkis, separar dos bandos de veados é como pessoas de cidade ficarem desempregadas. A sensação é a mesma. Se não existem veados, nossa etnia também desaparece".
A etnia Ewenki é uma das 55 minorias nacionais da China. Tem apenas cerca de 30 mil habitantes que vivem principalmente nas florestas na fronteira entre a Mongólia Interior e a província de Heilongjiang. A comarca de Olguya onde vive a família Arongbu tem mais de 200 habitantes. No passado, os Ewenikis viviam de caça e de criação de veados, tal como o nome do grupo étnico "Ewenki", que significa "população que vive nas montanhas". Há cerca de 50 anos, os Ewenkis começaram a viver em casas fixas. Três anos atrás, a família de Arongbu e seus conterrâneos despediram-se da vida de caçador mudando-se para os subúrbios da cidade.
Mas nossa reportagem encontrou a família na floresta. Porquê? Em curral, os veados não queriam comer nem os musgos frescos recolhidos do campo e muitos ficaram doentes. Sem outra saída, a família de Arongbu voltou à montanha.
Segundo Arongbu, as condições de vida na montanha são difíceis. No sopé da montanha, o governo construiu aos Ewenkis aldeias dos caçadores com casas bonitas equipadas de electrodomésticos.
Arongbu nos convidou a visitar sua casa ao sopé da montanha. Trata-se de uma habitação cuja parede exterior é pintada a cor de rosa clara. A casa é espaçosa e limpa, o chão está revestido de pastilhas e na parede, o dono colocou as fotografias da família. Mas, Arongbu disse estar acostumado à vida na montanha e não se adaptou ainda a sua nova casa. Era bom caçador, os animais como urso, hidrópodo e corço não escaparam de sua espingarda.
Ao falar de caça, a dona de casa Marusha se aproximou e disse:
"Quando era criança, fui caçar uma vez com meu irmão. Foi no Inverno rigoroso e no meio do caminho, comecei a chorar por frio. E voltamos a casa sem nenhuma colheita. Meu irmão ficou bravo comigo".
Atualmente, o governo coibiu a caça para proteger os animais silvestres. O casal entende a política mas tem nostalgia da vida do passado e costuma contar as histórias de caça aos filhos. O primogénito algumas vezes acompanha os pais para criar veados na montanha, mas o caçula, com 24 anos, prefere ficar em casa ao sopé da montanha. Quando nossa reportagem conversou com o casal, ele curtia um filme de Kung-fu na TV.
Há dois anos, ele saiu de casa e dedicou-se aos negócios de materiais de construção em cidade e para ele, tem aí sempre novidades. Disse:
"Não é bom ficar sempre em casa, assim não ganhamos dinheiro. Quero ir às grandes cidades, Beijing, Tianjin, Shenyang. Quero ir ainda a Dalian que ainda não conheci. Vi a cidade muitas vezes na TV. Quando tiver dinheiro, vou lá."
Os dois irmãos, um na montanha, e outro ao sopé da montanha, poucas vezes conversam por não ter tempo. O caçula disse não ter nenhum interesse na criação dos veados, de que seu irmão adora falar.
Em Agosto, a família começou a acolher em casa os turistas. O caçula ficou também ocupado e até começou a mudar a ideia de ir às grandes cidades. Disse que se o negócio é bom, ficará em casa para dar ajudas.
Arongbu era bom caçador e bom criador de veados. Ele está escrevendo um memorial sobre as mudanças de sua família e deseja que seu livro seja publicado qualquer dia para que mais pessoas conheçam a etnia Ewenki e sua vida.
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