Um documentário em preto e branco produzido nos anos 60 com o nome "Oroqens", mostrou a vida dos 10 mil membros do grupo étnico Oroqen e sua vida nas florestas. Para esse grupo de caçadores, as montanhas eram seus protetores.
Quarenta anos passaram. Os Oroqens deixaram as florestas e depuseram suas armas de caça. Sob a curiosidade dos Oroqens, nossa reportagem visitou uma de suas aldeias para conhecer mais sobre o seu passado, suas atuais condições de vida e seu futuro.
No Nordeste da Região Autônoma da Mongólia Interior, há uma pequena aldeia rodeada por montanhas e onde se confluem três rios. A família de He Shenglu vive ali.
Aos 50 anos, He é o melhor caçador da aldeia. Ele largou sua espingarda em 1996, logo depois da proibição da caça. Mas se animou ao falar de sua vida de caçador.
"A tribo se deslocava para caçar. Nós acampávamos na beira dos rios e nas encostas das montanhas, onde havia muitos animais e era fácil obter lenhas".
Mais de cinqüenta anos atrás, os Oroqens ainda formavam uma sociedade primitiva e raramente mantinham contatos com o exterior. Costumavam fazer casas semelhantes a tendas com cascas de bétulas e se deslocar frequentemente de um lugar para outro, perseguindo os bandos de animais como, por exemplo, ursos, porcos, coelhos e corços. As montanhas era a fonte de sua sobrevivência e estes as respeitavam como divindade.
"Eu rezava sempre antes de ir às caças pedindo a proteção e boa colheita ao Deus da montanha", disse He.
Os Oroqens são caçadores natos. Na sua primeira caça, He, com 16 anos, pegou um urso, se tornando uma referência entre os outros caçadores. Ele falou sobre isso.
"Naquele dia, ao anoitecer, saí levando a espingarda de meu pai. Era a temporada de bagos azuis. Vi um urso comendo bagos. Atirei. A primeira bala atingiu o peito do animal. Ele começou a gritar. Mas, logo atirei de novo. Com a segunda bala, ele caiu".
O feito foi muito comemorado pela aldeia.
"Naquela noite, todos vieram para a festa. Dividimos a carne para todas as famílias".
No passado, os Oroqens seguiam o princípio do igualitarismo. Ninguém gozava sozinho do fruto de sua caça. Tudo era compartilhado com os demais membros da aldeia.
Os Oroqens estão afastados da caça. Após a fundação da Nova China em 1949, os Oroqens passaram paulatinamente para a sociedade moderna e começaram a ter acesso ao bem-estar em todos os aspectos da vida, como por exemplo, assistência médica, educação, habitação e transportes. Com os cuidados do governo, saíram definitivamente das montanhas para uma nova vida.
He Shenglu e seus familiares vivem numa espaçosa habitação ao sopé de uma montanha. A casa foi construída por conta do governo local. Abandonando a espingarda, a família vive de sua horta de legumes e da criação de aves domésticas, além de receber do governo, como todos os Oroqens, um subsídio mensal.
Apesar da vida difícil, o casal nutre muita esperança no futuro. A primogênita, que se casou há alguns anos, volta de vez em quando para cuidar dos pais. A filha menor e o caçula estudam em uma escola secundária criada pelo governo voltada principalmente para os Oroqens, sendo isentas as anualidades e as despesas escolares. A esposa de He disse:
"Minha filha caçula é uma ótima aluna. Queremos enviá-la para Beijing depois que concluir o primeiro ciclo do ensino secundário".
Orgulho dos pais, a aluna do terceiro ano da escola secundária disse à nossa reportagem:
"Quero estudar na Universidade das Minorias Étnicas de Beijing. Depois de me graduar, voltarei à minha terra para transformá-la numa grande cidade".
Ela fala o Mandarim com fluidez e adora música. Nasceu e cresceu fora das montanhas. Mas, assimilou as memórias familiares e costuma passear nas montanhas quando se sente indisposta.
"Na montanha, tenho vontade de gritar. Sinto carinho pelas montanhas".
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