Em 1412, um projeto da construção de um grande conjunto arquitetônico iniciou-se na montanha Wudang, a mais de mil quilômetros de Beijing.
Em 1994, mais de 500 anos depois, o conjunto arquitetônico foi tombado como patrimônio cultural mundial. Num relatório, o Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO qualifica-o como uma "combinação perfeita da arquitetura taoísta com a paisagem natural".
O taoísmo foi fundado na China há mais de 1800 anos. Os taoístas procuram como o objetivo máximo tornar-se imortais, acreditando que o mundo divino não só existe no céu, mas também na terra. Para eles, localidades de paisagens extraordinárias são as "terras de felicidade" e naturalmente são os paraísos seus.
A montanha Wudang, que ocupa uma área de 312 quilômetros quadrados na província central chinesa do Hubei, é exatamente uma localidade como essas. Já no século 2, algumas pessoas vieram aqui praticar austeridades ou levar uma vida em retiro.
Na dinastia Yuan (1279 - 1368), os palácios e os templos na montanha Wudang tinham certas magnitudes. Infelizmente, a maior parte deles foram reduzidos às ruínas nas guerras acontecidas no final da dinastia Yuan. Foi Zhu Di, ou o imperador Yongle da dinastia Ming (1368 - 1644), quem ordenou a reconstrução e ampliação das construções taoistas na montanha. Durante seu reinado, nove palácios taoistas (gong), nove templos grandes (guan) e 36 conventos taoistas foram construídos além de 72 templos pequenos e alguns pavilhões, num total de 33 grupos de construções espalhados por 72 picos e 24 barrancos, tendo o pico principal da montanha como centro. Quando da construção no reinado de Yongle, foram mobilizados 200 mil a 300 mil soldados e civis para trabalhar durante 12 anos. O projeto exauriu o cofre governamental das receitas tributárias de 7 anos das províncias do sudoeste do país.
Naquele tempo, as influências do taoísmo tinham entrado em declínio. Além disso, o imperador Yongle não professava o taoísmo. Qual a razão, então, de se investir na montanha Wudang?
As inscrições do imperador gravadas nas estelas dão as respostas: retribuir às divindades pela ajuda no governo do país, mostrar a piedade filial aos pais e rogar felicidade por seu povo.
Zhu Di tinha sido um príncipe antes de usurpar o trono imperial do imperador Jianwen, seu sobrinho, tornando-se o terceiro imperador da dinastia Ming. Ele tinha que justificar o seu feito. Acontece que o pai dele, Zhu Yuanzhang, o primeiro imperador da dinastia Ming, mantinha o culto ao Deus da Façanha Genuína taoísta e a montanha Wudang era considerada o lugar santo do Deus. Ao lançar seu projeto, Zhu Di anunciou a todo o país que ele e seu pai tinham a proteção do Deus da Façanha Genuína na luta pelo poder. Obviamente, ele queria fazer com que o seu povo acreditasse que foi o Deus que conferiu-lhe o trono.
O conjunto arquitetônico da montanha Wudang foi construído integrando a intenção da autoridade monárquica com as forças divinas do Deus da Façanha Genuína. Ele divide-se em duas partes: construções na montanha e aquelas no sopé da montanha.
O Palácio Jingle, literalmente o Palácio da Pureza e Felicidade, situa-se no sopé da montanha Wudang. O templo, o primeiro a construir durante o reinado do imperador Yongle, é dedicado ao Deus da Façanha Genuína, quem tinha sido um príncipe do lendário rei Jingle antes de se tornar o Deus taoista depois de praticar austeridades durante 42 anos. Segundo um relato de viagem da dinastia Ming, o templo cobria a metade da área ocupada pela cidade debaixo da montanha e parecia um palácio imperial. Uma estrada pavimentada de ladrilhos cinzentos liga o palácio com o pico mais alto de que dista 60 quilômetros.
A Porta Xuanyue, ou a Porta da Mística Divina, é a entrada da montanha e a entrada para o "mundo divino", uma terra tranqüila coberta por vegetações viçosas e florestas densas. Ao longo da "Estrada Divina", vêem-se um templo a cada 2,5 quilômetros e um palácio a cada 5 quilômetros e todos registram as histórias sobre como o Deus da Façanha Genuína praticava austeridades e tornou-se um santo imortal.
Na China, a força divina, seja como for poderosa, tinha que submeter-se à autoridade monárquica. Este foi o princípio que a construção do conjunto taoísta na montanha Wudang seguia estritamente.
O Palácio Zixiao, ou Palácio do Céu Púrpuro, tinha sido o centro das construções taoístas na montanha Wudang antes da dinastia Ming e pessoas da dinastia anterior, a dinastia Yuan, consideravam que o palácio vizinho Nanyan, ou Palácio da Rocha Sul, era onde o Deus da Façanha Genuína morava. No entanto, o imperador Yongle indicou Tianzhu, ou Pico do Pilar Celeste, o pico mais alto, como o centro deste sítio taoista. O pico Tianzhu domina todos os outros picos e o imperador Yongle comparava o pico com ele próprio, e outros picos com seus ministros rendendo-lhe tributo. À ordem do imperador, em modelo de um palácio imperial, foi construído no cume do pico um palácio com 160 metros quadrados na superfície. A construção chama-se "Palácio Dourado". A estátua do Deus da Façanha Genuína com 1,86 metro de altura, se coloca nela. Um dito popular diz: "a estátua do Deus da Façanha Genuína, a estátua do imperador Yongle".
Três anos depois da construção do Palácio Dourado, ainda sob uma ordem imperial, um muro de pedras retangulares foi erguido em volta do Palácio, que foi rebatizado como "Cidade de Ouro Púrpura". Na realidade, o imperador Yongle mandou construir um palácio ao Deus da Façanha Genuína no mundo humano, em modelo do seu próprio palácio. Diziam que havia no norte uma Cidade Proibida Púrpura, e uma Cidade de Ouro Púrpura no sul.
Da montanha abaixo, desde a Cidade de Ouro Púrpura, é o Palácio Taihe, aliás Templo do Tao. Na dinastia Ming, a Cidade de Ouro Púrpura era proibida às pessoas comuns e o Templo do Tao foi o último sítio taoísta em que eles podiam entrar.
O Deus da Façanha Genuína não era o Deus supremo do Taoísmo. Mas, as construções em sua homenagem eram as mais imponentes e magnificentes em todo o país. O imperador Yongle estava encarregado pessoalmente da projeção e baixou mais de 60 ordens. Depois da conclusão das obras, quatro mil monges e monjas taoístas moravam na montanha. Eles foram selecionados dos taoistas em todo o país. Em 1416, 3100 pessoas em 500 famílias foram movidas à montanha Wudang e encarregadas da produção cerealífera pelos monges e monjas na montanha. Pouco tempo mais tarde, uma força armada composta de 500 soldados foi enviada à montanha em missão de patrulha na montanha. Ironicamente, o imperador Yongle nunca conheceu pessoalmente a montanha Wudang. Nem os outros 15 imperadores posteriores de Yongle da dinastia Ming.
O taoísmo sustenta pela fusão entre o Homem e a Natureza, considerando que o Homem é uma parte integrante da natureza. O princípio foi estritamente observado na construção do conjunto taoísta na montanha Wudang. À ordem do imperador Yongle, eram proibidos a corte de árvores na montanha e qualquer ação que pudessem afetar a paisagem original da montanha.
Depois da morte do imperador Yongle, a projeção básica do conjunto taoísta na montanha Wudang não conheceu importantes mudanças, embora alguns templos fossem construídos e alguns outros fossem renovados. Em 1552, o imperador Jiajing ordenou a renovação de 955 cômodos e salões nos templos e palácios na montanha. Em 1642, camponeses rebeldes dirigidos por Li Zicheng, incendiaram a repartição do governo local. Com a queda da dinastia Ming, dois anos mais tarde, o conjunto arquitetônico taoísta da montanha Wudang ficou aberto ao público geral. Desde o período, não havia mais novas construções taoístas. Muitos templos e palácios ficaram abandonados, apesar das renovações repetidas. Mais de 200 construções estão preservadas hoje em dia, com uma área total de cercas de 50 mil metros quadrados. Precisam-se uns cinco dias para visitar todas essas construções.
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